São Paulo, quinta-feira, 11 de março de 2010

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Lula não deve apoio a dissidente, diz Amorim

Após presidente questionar greve de fome de cubanos, chanceler diz que não cabe a Brasil apoiar "tudo que é dissidente" no mundo

Dilma afirma que, mais importante do que o que Lula diz é o que ele fez em termos de política externa, projetando país no exterior


AlanMarques/Folha Imagem
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, durante entrevista coletiva ontem em Brasília, na qual defendeu fala de Lula

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um dia após as polêmicas declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pedindo respeito às decisões da Justiça cubana e criticando o uso da greve de fome como ferramenta para exigir a soltura de presos políticos da ilha, o ministro Celso Amorim (Relações Exteriores) disse que não é papel do Brasil apoiar "tudo que é dissidente" pelo mundo.
"Tem muita gente que quer o apoio do governo brasileiro. Uma coisa é você defender, como nós defendemos, a democracia e os direitos humanos, outra coisa é você sair dando apoio a tudo que é dissidente de todo mundo, isso não é papel [do Brasil]", disse Amorim.
Lula visitou Cuba em fevereiro, no dia seguinte à morte do preso político Orlando Zapata Tamayo, após 85 dias de greve de fome em protesto contra as torturas sofridas e as más condições do cárcere cubano.
"Quando você tem que falar alguma coisa, você fala de outra forma, discretamente, não pela mídia. Nós temos a experiência de que essas condenações que são feitas muito habitualmente não têm nenhum efeito prático", disse Amorim ao justificar por que o país não condena publicamente as violações de direitos humanos em Cuba.
Na terça, Lula afirmou em entrevista que não poderia questionar as detenções de opositores ao governo castrista e classificou como "insanidade" a alternativa encontrada por Zapata e outros dissidentes para protestarem na prisão.
Para o presidente, "a greve de fome não pode ser utilizada como um pretexto de direitos humanos para liberar as pessoas".
Amorim disse não estar constrangido com as declarações de Lula, que ele considera terem sido apenas uma autocrítica à greve de fome que o próprio presidente fez no passado.
Para o ministro, a colaboração mais eficiente que o Brasil pode dar ao povo cubano é por meio de investimentos.
A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, não quis comentar ontem as declarações de Lula. "Vocês não vão me tirar aqui uma crítica ao presidente Lula. Nem que a vaca tussa", disse ela a jornalistas em Araçatuba (SP). "Acho que são presos [os presos políticos de Cuba]. Não acho que são maus ou bons, são presos."
A pré-candidata à sucessão presidencial completou dizendo que uma das melhores coisas que Lula fez para o país foi a política externa que implantou.
"Não é de graça que hoje somos reconhecidos internacionalmente. Eu sou completamente favorável ao que o Lula, mais do que disse, o que é mais importante, fez", afirmou.
A base aliada ao governo na Câmara derrubou ontem sessão da Comissões de Relações Exteriores que votaria uma moção lamentando a morte do dissidente cubano e condenando os atos de "desrespeito aos direitos humanos praticados pelo regime de Cuba".
Líderes da oposição fizeram duras críticas às afirmações do presidente. "Foi uma declaração estapafúrdia, que diminui o Brasil perante a comunidade internacional", disse Paulo Bornhausen (DEM-SC). (EDUARDO RODRIGUES, MARIA CLARA CABRAL E SIMONE IGLESIAS)

Colaborou a Agência Folha, em Araçatuba



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