São Paulo, sexta-feira, 11 de março de 2011

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FOCO

Opositor de 14 dedos recorre a chinelos para poder combater

DO ENVIADO A RAS LANUF

Na contracorrente do fluxo de rebeldes líbios que ontem batiam em retirada na cidade de Ras Lanuf, encurralada pelas forças de Gaddafi, um soldado improvável marchava decidido em direção ao inimigo. De chinelos.
De capacete e uniforme militar completo, o estudante Karim Said, 22, carregava uma bazuca no ombro e explicava apressado a falta de calçados apropriados.
Apesar do semblante tristonho, diz que seu apelido entre os amigos é Happy ("feliz"), tradução para o inglês do sobrenome árabe.
"Recebi a farda, o capacete e a arma, mas não acharam botas pra mim, porque tenho sete dedos em cada pé", contou, olhando envergonhado para os pés com meias e chinelos. "Mas vou assim mesmo, o importante é acabar com o Gaddafi", afirmou.
Antes de arrastar os chinelos até uma camionete, onde se juntou a outros rebeldes rumo ao front, Happy resmunga impropérios contra o motorista de uma van que instalou um alto-falante no capô e exortava os rebeldes a recuar, diante do avanço das forças leais ao ditador líbio.
Na falta de treinamento apropriado e armamentos à altura do arsenal inimigo, voluntários como Said recorrem ao ímpeto desenfreado para superar o despreparo.
Um micro-ônibus lotado de jovens passou pela última barreira rebelde gritando louvações a Alá. Alguns estão armados de facas, nada mais. Logo depois alguém dá a notícia de que o veículo foi atingido e há sete mortos.
O desespero desperta instintos suicidas. "Juro que vou explodir tudo isso", grita Saber Bualez, 26, apontando seu lança-foguetes para a refinaria de Ras Lanuf, onde diz trabalhar. "Se não derrubarmos Gaddafi, abriremos as portas do inferno", afirma.
(MARCELO NINIO)


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