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GOVERNO BUSH
Sucesso de campanha militar fortalece Rumsfeld e enfraquece diplomacia de Powell
"Falcões" ganham força nos EUA
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
O sucesso da campanha militar
norte-americana no Iraque fortaleceu o grupo conhecido como os
"falcões" do governo George W.
Bush e deve reforçar a estratégia
de intimidação a outros países
por meio da ameaça de ""ações
preventivas" contra eles.
A chamada Doutrina Rumsfeld,
segundo analistas ouvidos pela
Folha, tende a se consolidar e a
provocar uma sedimentação na
liderança do grupo comandado
pelo secretário da Defesa, Donald
Rumsfeld.
Ao lado das Nações Unidas,
perdem importância relativa, por
esta ótica, a diplomacia e o Departamento de Estado. Militares tradicionais, como o próprio secretário de Estado, Colin Powell, 66,
também saem da guerra sem
maior brilho.
A vitória rápida e surpreendente, com emprego de muita tecnologia e poucos homens, reforçou
na prática o que Rumsfeld, 70,
vem defendendo em tese: o mesmo pode funcionar com outros.
A Coréia do Norte, também
membro do chamado ""Eixo do
Mal", seria o próximo da lista?
"Temos agora de encarar seriamente o problema", responde
Michael O"Hanlon, especialista
em defesa do Brookings Institute
e do Conselho de Relações Internacionais de Washington.
"Quanto das armas químicas de
Saddam Hussein foi parar na Síria
é algo que também precisa ser esclarecido", diz Kenneth Pollack,
ex-diretor do Conselho de Segurança Nacional.
Ontem, Powell fez questão de
divulgar, via seu serviço de imprensa, entrevista dada a uma TV
do Paquistão onde afirma que os
EUA "não têm uma lista de países
que podem ser atacados".
Candidato natural à reeleição, é
pouco provável que Bush se atire
em uma terceira guerra antes do
fim do primeiro mandato.
Nos meios militares, contudo, já
se posicionou claramente na disputa interna que coloca Rumsfeld
e seu vice-presidente, Dick Cheney, de um lado, e o grosso do alto
escalão das Forças Armadas de
outro.
Os EUA tomaram Bagdá com
um terço das tropas e em metade
do prazo que durou toda a Guerra
do Golfo, em 1991.
O novo dogma "mais tecnologia, menos homens" é visto entre
militares tradicionais como a senha para corte de pessoal e concentração de gastos em equipamentos e armas sofisticadas
-uma obsessão de Rumsfeld.
Ao ter sido encaminhada toda a
operação do pós-guerra para o
guarda-chuva do Pentágono,
Rumsfeld e seu time também deram um duro golpe na divisão de
poderes em Washington. E vêm
conquistando simpatias.
Ontem, o influente "The Wall
Street Journal" publicou editorial
pesado recomendando a Bush o
veto a uma medida do Congresso
que pode dar a Powell, e não a
Rumsfeld, os US$ 2,5 bilhões que
os EUA querem aplicar na reconstrução do Iraque. "O presidente Bush deve tirar as mãos do Departamento de Estado da alça
dessa bolsa se realmente deseja
um Iraque democrático", afirmou o "WSJ".
O "The Washington Post" e a
rede ABC divulgaram pesquisa
mostrando que 96% aprovam a
campanha militar, arquitetada
por Rumsfeld. Cerca de 77%
apoiam Bush e 80%, a guerra.
James Dobbins, ex-funcionário
graduado do Departamento de
Estado e da Casa Branca, afirma
que o resultado no Iraque coloca
para Bush a importante questão
de decidir-se por aprofundar o
isolamento americano com seu
unilateralismo ou voltar-se de novo para o resto do mundo.
Dobbins, que participou da reconstrução de países onde os
EUA intervieram, como o Haiti, a
Somália e o Afeganistão, afirma
que uma razão pragmática pode
levar os EUA a olharem de novo
para fora. "O custo financeiro de
toda a operação, que pode durar
até cinco anos, será muito pesado
para os EUA sozinhos. Ganhar a
paz é sempre menos certo do que
vencer a guerra", diz.
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