São Paulo, quarta-feira, 11 de abril de 2007

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Candidatos à Presidência descem do pedestal e cortejam "homem comum"

JEAN-LOUIS ANDREANI
DO "MONDE"

Adeus, De Gaulle e Mitterrand. Vivam o sr. e a sra. Todo Mundo! A eleição presidencial de 2007 tem um ar de revanche: a das pessoas comuns. O cidadão de base, que tão freqüentemente se sente esquecido ou desprezado pelos tomadores de decisões ou a mídia, hoje é o protagonista de um filme cujo título bem poderia ser "O homem da rua, esse herói".
Nunca antes os principais candidatos numa eleição presidencial fizeram tanto esforço para se popularizar. Nunca investiram tanta energia para parecerem "franceses comuns". O dirigente socialista Dominique Strauss-Kahn resumiu o clima reinante quando declarou: "Hoje, os fundamentos não têm mais importância. O que conta não é o que se diz, mas a maneira como se diz. Nossos compatriotas têm vontade de ser representados por pessoas como eles mesmos".
No dia 8 de março, na emissora France 2, durante o programa "Sua vez de julgar", Nicolas Sarkozy afirmava, contrariando todas as evidências: "Sou um homem como os outros". Duas semanas depois, em 21 de março, no Zénith de Paris, François Bayrou se visualizava como "presidente do povo". O novo slogan de duplo sentido de Ségolène Royal, "A França presidente", inscreve-se nesse mesmo veio.

Humildade
Assim, os candidatos rivalizam em matéria de simplicidade ou mesmo humildade. Royal elevou a escuta do eleitor à condição de método político, com a chamada "democracia participativa" para construir seu programa. Se chegar ao Palácio do Eliseu, ela promete instalar os "júris de cidadãos" em todos os níveis para melhor controlar o trabalho dos políticos eleitos. Uma das principais razões dessa inflexão é evidentemente o trauma duplo provocado pelo 21 de abril de 2002 -quando Jean Marie Le Pen, de extrema direita, chegou ao segundo turno da eleição presidencial- e pelo 29 de maio de 2005, quando os franceses rejeitaram, em referendo, a Constituição da União Européia.
Esses dois escrutínios mostraram que toda uma parte do país se sentia incompreendida ou deixada de lado pelos partidos do governo. Os dirigentes políticos, especialmente os candidatos de hoje, compreenderam qual é o custo de esquecer as classes populares num país em que empregados e operários representam mais da metade da população ativa. O destaque inesperado dado ao cidadão comum com certeza faz parte do clima instigante que marca a eleição de 2007. Com um inconveniente: às vezes chega-se quase ao grau zero da política, quando a orientação geral, a concepção do bem público que cada candidato supostamente propõe, afoga-se na corrente.
É verdade que o próximo presidente terá que descer de seu pedestal, mas ele também deverá conservar seu dedo pronto para pressionar o botão nuclear, por assim dizer. De maneira menos dramática, é sabido que o prestígio, a influência e a legitimidade de um país dependem também do magnetismo e da autoridade de seu dirigente principal nos encontros internacionais.


Tradução de CLARA ALLAIN


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