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Candidatos à Presidência descem do pedestal e cortejam "homem comum"
JEAN-LOUIS ANDREANI
DO "MONDE"
Adeus, De Gaulle e Mitterrand. Vivam o sr. e a sra. Todo
Mundo! A eleição presidencial
de 2007 tem um ar de revanche: a das pessoas comuns. O cidadão de base, que tão freqüentemente se sente esquecido ou
desprezado pelos tomadores de
decisões ou a mídia, hoje é o
protagonista de um filme cujo
título bem poderia ser "O homem da rua, esse herói".
Nunca antes os principais
candidatos numa eleição presidencial fizeram tanto esforço
para se popularizar. Nunca investiram tanta energia para parecerem "franceses comuns". O
dirigente socialista Dominique
Strauss-Kahn resumiu o clima
reinante quando declarou:
"Hoje, os fundamentos não têm
mais importância. O que conta
não é o que se diz, mas a maneira como se diz. Nossos compatriotas têm vontade de ser representados por pessoas como
eles mesmos".
No dia 8 de março, na emissora France 2, durante o programa "Sua vez de julgar", Nicolas Sarkozy afirmava, contrariando todas as evidências:
"Sou um homem como os outros". Duas semanas depois, em
21 de março, no Zénith de Paris,
François Bayrou se visualizava
como "presidente do povo". O
novo slogan de duplo sentido
de Ségolène Royal, "A França
presidente", inscreve-se nesse
mesmo veio.
Humildade
Assim, os candidatos rivalizam em matéria de simplicidade ou mesmo humildade. Royal
elevou a escuta do eleitor à condição de método político, com a
chamada "democracia participativa" para construir seu programa. Se chegar ao Palácio do
Eliseu, ela promete instalar os
"júris de cidadãos" em todos os
níveis para melhor controlar o
trabalho dos políticos eleitos.
Uma das principais razões
dessa inflexão é evidentemente
o trauma duplo provocado pelo
21 de abril de 2002 -quando
Jean Marie Le Pen, de extrema
direita, chegou ao segundo turno da eleição presidencial- e
pelo 29 de maio de 2005, quando os franceses rejeitaram, em
referendo, a Constituição da
União Européia.
Esses dois escrutínios mostraram que toda uma parte do
país se sentia incompreendida
ou deixada de lado pelos partidos do governo. Os dirigentes
políticos, especialmente os
candidatos de hoje, compreenderam qual é o custo de esquecer as classes populares num
país em que empregados e operários representam mais da
metade da população ativa.
O destaque inesperado dado
ao cidadão comum com certeza
faz parte do clima instigante
que marca a eleição de 2007.
Com um inconveniente: às vezes chega-se quase ao grau zero
da política, quando a orientação geral, a concepção do bem
público que cada candidato supostamente propõe, afoga-se
na corrente.
É verdade que o próximo
presidente terá que descer de
seu pedestal, mas ele também
deverá conservar seu dedo
pronto para pressionar o botão
nuclear, por assim dizer. De
maneira menos dramática, é
sabido que o prestígio, a influência e a legitimidade de um
país dependem também do
magnetismo e da autoridade de
seu dirigente principal nos encontros internacionais.
Tradução de CLARA ALLAIN
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