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Jogadoras lamentam comentário racista de locutor nos EUA
Em primeiro pronunciamento público, time de basquete alvo de ataque se diz "roubado" de seu momento de glória
Meninas foram chamadas de "putinhas de cabelo pixaim" no ar; ativistas querem cancelamento de programa, que foi suspenso
Richard Drew-9.abr.2007/Associated Press
![](../images/e1104200701.jpg) |
Imus, que pediu perdão pelo comentário "repulsivo e horrível" |
DENYSE GODOY
DE NOVA YORK
Depois de uma semana de silêncio, as jogadoras da equipe
de basquete da Rutgers -universidade pública do Estado de
Nova Jersey- vieram a público
ontem dizer o quanto sofreram
com os comentários do locutor
de rádio Don Imus, que as havia
chamado de "putinhas de cabelo pixaim" em seu programa na
quarta passada. "Ele nos roubou um momento de pura bênção", afirmou, em entrevista
coletiva, a capitã do time, Essence Carso.
A equipe chegou como zebra
à final do campeonato da Associação Atlética Universitária
Nacional. Perdeu, na noite de
terça, para o time da universidade de Tennessee, mas mesmo assim a campanha que fizeram era motivo suficiente de
comemoração para as meninas
da Rutgers -oito negras e duas
brancas. "No entanto, quando
fomos passar a Páscoa com
nossas famílias, o assunto era
as observações deploráveis do
senhor Imus", lamentou a jogadora Heather Zurich. "O que
mais dói nessa situação é que
ele não conhece pessoalmente
nenhuma de nós."
"Ninguém acreditava nessa
equipe a não ser as próprias
atletas. Elas deram o melhor de
si e agora têm que enfrentar isso", acrescentou a treinadora,
Vivian Stringer. "São jovens damas de classe, distintas, articuladas, brilhantes, talentosas.
Vamos manter nossas cabeças
erguidas com dignidade."
O programa "Imus de Manhã" tem mais de 30 anos. Popular em Nova York, atualmente é transmitido pela estação de
rádio WFAN, que faz parte do
grupo CBS, e retransmitido pela rede MSNBC. Imus e os outros apresentadores do show
são conhecidos pelas piadas de
gosto duvidoso -eles já foram
acusados anteriormente de racismo, homofobia e misoginia.
Na última segunda, diante
dos protestos que surgiram sobre a forma como se referiu às
jovens da Rutgers, Imus foi ao
programa de rádio do reverendo Al Sharpton -famoso defensor dos direitos dos negros- desculpar-se pelo comentário "repulsivo e horrível". "Queria não ter dito aquilo. Perdão", falou. O locutor pediu ainda para se encontrar
com o time de basquete, proposta aceita pelas jogadoras.
A CBS e a MSNBC também
decidiram suspender o "Imus
de Manhã" por duas semanas a
partir do próximo dia 16. A punição pode não ser suficiente,
porém, para aplacar a raiva suscitada pelas declarações do
apresentador -ONGs feministas e de proteção aos direitos
humanos querem que o show
seja cancelado.
"Ofender as pessoas é o padrão desse programa. Vai passar o período de suspensão e ele
vai voltar ao ar, dizendo tudo o
que sempre disse", afirmou à
Folha Olga Vives, vice-presidente executiva da Organização Nacional pelas Mulheres.
"Os anunciantes devem reavaliar se querem mesmo apoiar
um show que insulta a população afro-americana e as mulheres. É inaceitável."
Questão ampla
"Essa história não é apenas
sobre uma equipe de basquete.
É sobre a vida, sobre preconceito e diz respeito a todas as mulheres. É tempo de refletirmos
sobre o que está acontecendo",
pediu Vivian, a treinadora.
Para Rinku Sin, do Centro de
Pesquisa Aplicada -especializado em racismo-, é preciso
chamar a atenção da sociedade
dos EUA para que tais atos não
sejam tolerados. "Não devemos
ignorar essas manifestações,
porque isso faz com que elas
cresçam", explicou à Folha. Para ela, apesar de recentes progressos, as instituições do país
ainda falham em educar melhor os cidadãos sobre o tema.
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