São Paulo, domingo, 11 de abril de 1999

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PAUSA
Condições meteorológicas desfavoráveis a ação militar permitem que população de Belgrado tenha noite tranquila
Mau tempo atrapalha ataques da Otan

Reuters
O enxadrista Svetozar Glicoric joga partida simultânea no centro de Belgrado, em protesto contra a Otan


KENNEDY ALENCAR
enviado especial a Belgrado


Enquanto o mau tempo diminuía a intensidade dos ataques da Otan à Iugoslávia, os camelôs da praça da República, no centro da capital, faturavam ontem com a venda de camisetas e broches contra o bombardeio.
O único alvo importante atingido na madrugada de ontem foi uma antena de transmissão da TV e rádio estatal sérvia em Pristina. Moradores da capital de Kosovo ficaram sem poder assistir a quatro canais, três de Belgrado e um local.
Segundo a Otan, a antena era usada para comunicação entre os comandos militares de Belgrado e as forças iugoslavas na Província. Os telefones comuns e os celulares continuam sem funcionar na região da capital de Kosovo.
Outros ataques atingiram com menos intensidade reservatórios de combustível na região de Pristina e em duas cidades próximas a Belgrado, Smederevo e Valjevo.
A Iugoslávia também reabriu a fronteira com a Albânia. Refugiados teriam sido obrigados a deixar Kosovo e fugir para o país vizinho.
O tempo nublado na Iugoslávia tem atrapalhado os bombardeios da Otan desde o início da campanha, em 24 de março. Os danos mais fortes à infra-estrutura ocorreram entre o sábado da semana retrasada e a última quinta, quando os dias estavam limpos e ensolarados na primavera iugoslava.
Os moradores de Belgrado comentavam que a noite tinha sido tranquila. Apesar da tensão -as sirenes de ataque aéreo soaram por volta das 10h30- falavam que não era dia de dizer "bombar dan", gíria inventada após o início do bombardeio. Significa: "dia de bomba". É uma adaptação de "dobar dan", "bom dia" em sérvio.
No centro da capital, com mais um dia de concerto, os camelôs eram os mais felizes. Faturam com a guerra. Uma camisa com a inscrição "Target" (alvo, em inglês) é vendida por cerca de quatro dólares se for trocado dinheiro no mercado paralelo -um dólar compra de 17 a 18 dinares. No câmbio oficial, um dólar é igual a 11 dinares.
"Estava sem emprego. Meu cunhado sabe estampar camisetas. Ele faz o serviço em casa, e eu vendo na rua", diz Biljana Vukit, que comercializa ainda pequenos broches com insultos à Otan e a Clinton, além do tradicional "Target". Cada um custa 10 dinares.
O camelô Vladimir Drobnjak diz que fatura uns US$ 80 quando os shows estão lotados. No entanto, diz que seus produtos já não saem como nos primeiros dias, quando chegou a ganhar US$ 150.
Segundo Milan Beko, diretor-geral da Zastava, a mais tradicional fábrica de carros e armamentos da Iugoslávia, a média salarial era de US$ 50 por mês pouco antes do início do conflito com a Otan. Agora, iriam pagar a metade disso.
No final dos anos 80, um trabalhador da Zastava ganhava, em média, quase US$ 500 por mês. A fábrica foi atacada na quinta. Segundo o governo iugoslavo, 124 trabalhadores foram feridos.




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