São Paulo, domingo, 11 de maio de 1997.



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GUERRA NA ÁFRICA
Presidente retorna ao Zaire após reuniões no Gabão, demonstrando que não deixou o poder
Mobutu volta e afasta rumores de fuga

das agências internacionais

O presidente do Zaire, Mobutu Sese Seko, voltou ontem à capital de seu país, Kinshasa, o que põe fim, pelo menos por enquanto, a especulações sobre sua renúncia.
Mobutu passou sobre um tapete vermelho para embarcar no Boeing presidencial, no começo da tarde de ontem, em Libreville (capital do Gabão), logo depois de se reunir com o vice-presidente sul-africano, Thabo Mbeki.
Ele havia ido para o Gabão na semana passada para se reunir com líderes de outros países da África. Mas sua viagem foi tomada por muitos no Zaire como o primeiro passo para o exílio.
Mobutu confirmou que está disposto a se reunir novamente com o seu inimigo, Laurent-Desiré Kabila, na próxima quarta-feira. Como já aconteceu há uma semana, o encontro vai acontecer a bordo de um navio sul-africano.
Não houve acordo naquela reunião. Kabila, que nos últimos meses comanda uma bem-sucedida guerra de guerrilha a partir do leste, exige receber o poder imediatamente. Mobutu, no governo há quase 32 anos, aceita no máximo entregar o governo a um novo presidente, eleito.
O negociador norte-americano na crise, Bill Richardson, disse que o governo de transição deveria ser encabeçado por Kabila, que atualmente tem maior força militar.
Kabila falou ontem a jornalistas em Lubumbashi e disse que suas tropas já estão a apenas 50 km de Kinshasa, a capital. "Já teríamos conquistado a cidade se não houvesse interferências. As pessoas dizem 'espere, haverá derramamento de sangue inutilmente'", disse Kabila. "Agora, queremos resolver tudo mediante o diálogo pacífico."
O guerrilheiro se reunira com uma comissão de 30 banqueiros estrangeiros, que está avaliando a possibilidade de investimento no Zaire sob um eventual governo da Aliança das Forças Democráticas para a Libertação do Congo-Zaire, o grupo de Kabila.
O líder rebelde disse que "seguramente" vai estar na quarta-feira a bordo do SAS Outeniqua, o navio quebra-gelos sul-africano que abriga as reuniões. O encontro passado teve de ser adiado por dois dias porque Kabila simplesmente não apareceu, deixando seu inimigo, junto com o principal mediador da guerra civil, o presidente sul-africano, Nelson Mandela, esperando.
Ação de Angola
Os rebeldes acusaram ontem a Unita de enviar reforços para o enfraquecido governo de Mobutu. A Unita, sigla de União Nacional para a Independência Total de Angola, é um dos dois grupos que participaram da guerra civil no país.
O conflito no vizinho Zaire agora ameaça desestabilizar o frágil acordo entre a Unita e o governo de esquerda.
O "chanceler" dos rebeldes, Bizima Karaha, disse que seu grupo capturou soldados a Unita após combates na cidade de Kenge, 250 km a leste de Kinshasa. "Agora temos evidência definitiva de que a Unita veio reforçar o Exército do governo", disse Karaha.
Mobutu tem feito afirmação semelhante em relação ao governo esquerdista da ex-colônia portuguesa -o que Luanda nega veementemente.



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