São Paulo, sábado, 11 de maio de 2002

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EUA

Tido como um dos espiões que mais danos causaram ao país, Hanssen, 54, agiu para Moscou durante 20 anos, em troca de US$ 1,4 mi

Ex-agente do FBI pega perpétua por espionar

DEBORAH CHARLES
DA REUTERS, EM ALEXANDRIA

Robert Hanssen, o ex-agente do FBI caído em desgraça que é considerado um dos espiões que mais causaram danos na história dos EUA, foi condenado à prisão perpétua por vender segredos americanos a Moscou durante duas décadas. Hanssen, que, no ano passado, confessou-se culpado de revelar alguns dos segredos mais sensíveis do país em troca de US$ 1,4 milhão em dinheiro vivo e diamantes, pediu desculpas ao tribunal por seu comportamento, dizendo, diante do recinto lotado, que se envergonha do que fez.
Veterano que passou 25 anos no FBI, Hanssen evitou a pena de morte depois que fechou com a Promotoria um acordo pelo qual se comprometeu a revelar detalhes sobre seus atos como espião, que fizeram com que pelo menos dois agentes soviéticos da KGB que faziam espionagem a favor dos EUA fossem executados.
Apesar de algumas divergências dentro do governo americano quanto a até que ponto Hanssen vem mantendo sua parte do trato, a Promotoria e a defesa pediram ao juiz Claude Hilton que sentenciasse Hanssen à prisão perpétua.
De pé no tribunal diante do juiz, que o condenou à prisão perpétua sem possibilidade de liberdade condicional, o ex-especialista em contra-inteligência falou: "Peço desculpas por meu comportamento. Traí a confiança de muitas pessoas. Abri a porta para que meus filhos e minha mulher, totalmente inocentes, fossem caluniados. Feri muitas pessoas profundamente. Por tudo isso, estou pronto para aceitar a sentença".
Nenhum membro de sua família estava no tribunal. A vida dupla de Hanssen abrangia também seus assuntos pessoais. Pai de seis filhos e membro devoto da Opus Dei, facção conservadora da Igreja Católica, Hanssen, conforme foi descoberto, deu dinheiro e um carro a uma stripper que conheceu numa boate.

Preso em flagrante
Hanssen foi preso em fevereiro de 2001, depois de deixar um maço de papéis sigilosos num parque próximo à sua casa, para ser pego por seus contatos russos.
Em julho passado, como parte do acordo que selou com o governo, ele se confessou culpado de 15 acusações de espionagem para Moscou. Pelo acordo fechado, ele prometeu revelar a verdade sobre as vendas de segredos americanos que fazia, primeiro para a União Soviética, durante a Guerra Fria, e depois para a Rússia. Ele começou a atuar como espião russo em 1979, apenas três anos depois de tornar-se agente do FBI.
Depois de mais de 200 horas de interrogatórios, as autoridades estavam divididas sobre a cooperação de Hanssen. O acordo poderia ter sido declarado nulo se fosse provado que ele não cooperou plenamente, mas os promotores decidiram que não dispunham de informações suficientes para isso.
A Promotoria disse que a mulher de Hanssen, Bonnie, cooperou plenamente com a investigação e, sob os termos de seu acordo, tem direito a uma pensão de sobrevivente.
Os investigadores ainda não puderam rastrear todo o dinheiro que Hanssen recebeu de Moscou. Parte dele foi usada para pagar suas contas e as mensalidades das escolas particulares católicas em que seus filhos estudavam.


Tradução de Clara Allain


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