São Paulo, quarta-feira, 11 de maio de 2005

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MEMÓRIA

Após 17 anos de controvérsias, é inaugurado o primeiro monumento alemão que marca o assassinato sistemático de judeus

Berlim, afinal, abre memorial do Holocausto

TONY PATERSON
DO "INDEPENDENT", EM BERLIM

Depois de quase 20 anos de polêmica, o primeiro memorial do Holocausto da Alemanha foi aberto ontem no centro do Berlim, a poucos metros de onde ficava o infame bunker onde Adolf Hitler cometeu suicídio, no final da Segunda Guerra Mundial.
O Monumento aos Judeus Assassinados da Europa, criado pelo arquiteto judeu americano Peter Eisenman e que custou 27 milhões, é feito de 2.711 blocos de concreto retangulares, de altura variada, que cobrem uma área equivalente a dois campos de futebol. O memorial tem um centro subterrâneo de informações sobre a história do Holocausto.
O chanceler [premiê] Gerhard Schröder e lideranças da comunidade judaica estiveram entre os 1.500 convidados presentes à fortemente policiada cerimônia oficial de abertura do memorial, situado perto do Portão de Brandemburgo. O evento foi o último de uma série de cerimônias que comemoram o 60º aniversário do fim da Segunda Guerra.
O presidente do Parlamento alemão, Wolfgang Thierse, declarou: "O assassinato sistemático dos judeus da Europa cometido pelo regime nazista ainda é algo difícil de compreender. Por esse motivo, escolhemos um monumento abstrato".
Mas Paul Spiegel, presidente do Conselho Central de Judeus da Alemanha, reclamou que o memorial não responde a algumas perguntas-chave sobre as razões do Holocausto. "Ele não diz nada sobre os perpetradores, nada sobre as causas ou o pano de fundo da catástrofe", afirmou.
O memorial é cercado por controvérsias desde que os planos para sua construção foram anunciados, 17 anos atrás. Líderes da comunidade judaica e conservadores alemães se opuseram à idéia, afirmando que o monumento seria visto como uma "insígnia de expiação" politicamente correta. Outros disseram que seria um monumento à vergonha nacional.
Mesmo ontem, representantes importantes da comunidade judaica alemã, como o escritor Rafael Seligmann, criticaram o monumento pelo fato de mencionar apenas as vítimas judaicas do nazismo. "E os ciganos, os doentes mentais, os homossexuais? Também eles foram enviados às câmaras de gás", disse ele. "Ao selecionar apenas judeus, o monumento está fazendo o que os guardas da SS faziam em Auschwitz."
Os planos para o monumento foram aprovados pelo Parlamento em 1999, após anos de campanha encabeçada pela jornalista alemã não-judia Lea Rosch. "É um lembrete para um país de agressores", ela afirmou.
Mesmo então, porém, o projeto foi criticado quando veio à tona que a empresa contratada para cobrir os blocos de concreto do monumento com revestimento antipichação forneceu aos campos de extermínio alemães o gás usado para matar judeus.
Dagmar von Wilcken, que projetou o centro de informações do monumento, onde os nomes e as biografias de judeus assassinados aparecem numa tela de vídeo de minuto em minuto, disse que o objetivo principal do memorial é manter viva a discussão sobre a história alemã. "Não é algo que diga "pedimos desculpas, e agora tudo ficou para trás'", disse ela.


Tradução de Clara Allain


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