São Paulo, quarta-feira, 11 de maio de 2005

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JUSTIÇA

Documento da CIA foi revelado por ONG dos EUA

Terrorista cubano planejou ataque a avião em reuniões na Venezuela

FABIANO MAISONNAVE
DE WASHINGTON

O terrorista cubano anticastrista Luis Posada Carriles, que atualmente tenta obter asilo nos Estados Unidos, participou de ao menos dois encontros realizados na Venezuela com o objetivo de planejar um atentado contra um avião cubano que matou 73 pessoas em 1976, segundo documento da CIA (central de inteligência dos EUA) divulgado ontem no site da ONG NSA (National Security Archive).
A imprensa dos EUA tem tratado o caso de Posada Carriles, supostamente escondido no Estado da Flórida, como um desafio para a definição de terrorismo adotada pelo governo George W. Bush. Na semana passada, o seu advogado declarou que o terrorista cubano estava em território americano e buscava assegurar asilo político como ex-colaborador da CIA, de 1961 a 1967.
"A presença de Posada Carriles nos EUA representa um desafio direto para a política contra o terror do governo Bush", diz Peter Kornbluh, diretor da NSA. "A documentação não deixa dúvidas de que ele tem sido um dos mais persistentes seguidores da violência terrorista."
Questionado anteontem se o governo norte-americano considera Posada Carriles um terrorista, o porta-voz do Departamento de Estado Tom Casey foi evasivo: "Não tenho nenhuma avaliação em particular sobre ele. Vocês têm de perguntar ao Departamento da Justiça se ele será procurado ou indiciado criminalmente", afirmou.
O governo do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, anunciou que pedirá aos EUA a extradição de Posada Carriles. O Departamento de Estado negou anteontem ter recebido qualquer pedido oriundo de Caracas.

Jamaica e Panamá
Um dos documentos divulgados ontem relata que Posada Carriles e outros dois anticastristas se reuniram com um representante da Disip (serviço secreto venezuelano) dias antes do atentado que derrubou um DC-8, da empresa de aviação civil cubana, perto de Barbados. Posada Carriles, que sempre negou envolvimento com o atentado, ficou preso na Venezuela durante nove anos por suspeita de envolvimento no caso, embora nunca tenha sido julgado.
Segundo o documento da CIA, baseado no relato de "fonte confidencial que havia fornecido informação confidencial no passado", os anticastristas já haviam falhado em ataques terroristas contra aviões civis cubanos na Jamaica e no Panamá. Posada Carriles, 77, já admitiu ter planejado ataques em território cubano que atingiram pontos turísticos e mataram um turista italiano, em 1997.
Parte da dificuldade do governo dos EUA em lidar com o terrorista é a comunidade cubana de Miami, tradicional aliada tanto do presidente Bush quanto do governador da Flórida, Jeb Bush, seu irmão. "Como cubano, como combatente da liberdade, acredito que ele deveria receber asilo", disse ao jornal "The New York Times" Marcelino Miyares, líder político anticastrista e veterano da invasão fracassada da Baía dos Porcos, em 1961. "Mas é uma situação sem chances de vitória para o governo americano."


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