São Paulo, terça-feira, 11 de maio de 2010

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Em busca de apoio, Brown anuncia renúncia

Premiê britânico diz que deixará liderança de Partido Trabalhista, abrindo caminho para acordo da legenda com liberais-democratas

Conservadores, porém, não desistem de atrair Partido Liberal-Democrata para coalizão e propõem votação sobre reforma eleitoral


Paul Hackett/Reuters
Opremiê britânico Gordon Brown, em discurso em frente à residência oficial, no qual anunciou que deixará liderança de seu partido

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A MADRI

O premiê britânico, Gordon Brown, anunciou ontem que vai renunciar à liderança do Partido Trabalhista -e, em consequência, ao cargo de primeiro-ministro- numa tentativa de atrair o apoio do Partido Liberal-Democrata para uma coalizão que mantenha a sigla no poder.
Como primeiro passo, parece ter dado certo: os liberais-democratas anunciaram que, embora não tenham desistido do diálogo com o Partido Conservador, darão início a negociações para a formação de um governo com os trabalhistas.
O futuro governo britânico continua indefinido quatro dias após a eleição de quinta-feira, na qual nenhum partido obteve maioria para governar sozinho.
Na sexta, os liberais-democratas (terceira maior bancada), haviam dado a preferência ao Partido Conservador, que obteve o maior número de cadeiras, para formar o governo.
O jogo de Brown, ao anunciar a renúncia, é claro: ele sabe que, para os liberais-democratas, seria praticamente impossível aceitar uma coligação com os trabalhistas se o premiê continuasse na liderança, após a contundente derrota de quinta.
Evan Harris, ex-parlamentar liberal, explicita: "O afastamento de Brown abre o caminho para um acordo, já que é evidente que há um razoável alinhamento de valores e de políticas entre liberais e trabalhistas".
A substituição não é imediata -Brown disse que espera que o novo líder seja eleito até a reunião anual do partido, que acontece em setembro.
Enquanto isso, os conservadores não querem perder a chance de casar com os liberais. No início da noite, William Hague, o principal negociador do partido do líder David Cameron, anunciou à imprensa que a legenda estava disposta a caminhar "a milha extra": oferecer aos liberais um referendo sobre o chamado voto alternativo.
Para os liberais, a reforma do sistema eleitoral é condição central para aceitarem uma coligação com um ou outro partido. Fácil de entender: o partido ficou com 23% dos votos e só 8% das cadeiras no Parlamento, por causa da distorção gerada pelo sistema distrital puro.
O voto alternativo permite ao eleitor votar numa primeira preferência, mas também numa segunda e numa terceira, até que um dos candidatos chegue à maioria absoluta, o que hoje não é necessário.

"Coalizão dos perdedores"
Acontece que o outro lado, o trabalhista, oferece mais: a reforma eleitoral por decisão do novo governo, sem submetê-la a referendo, necessariamente um processo demorado.
Se há mais coincidência de "valores e políticas" entre liberais e trabalhistas e se a oferta de reforma eleitoral é mais suculenta, está perto, então, um acordo entre as partes?
Não necessariamente. Uma coalizão entre os dois seria, inequivocamente, a "coalizão dos perdedores", como a mídia local a batizou desde que saiu o resultado eleitoral. De fato, os trabalhistas perderam 91 das cadeiras que tinham, e os liberais, cinco.
Mesmo juntos, não chegariam à maioria absoluta de 326 cadeiras -ficariam com 315.
Para formar o "governo estável", que é a muleta retórica dos três grandes partidos, seria preciso, portanto, contar com o apoio de pequenos partidos regionais da Escócia, do País de Gales e da Irlanda do Norte.
Possível, até é, mas "não seria estável e seguro", como diz o conservador Hague.
Tudo somado, o dia terminou em apostas em quem substituirá Brown, se David Milliband, ministro do Exterior, ou Ed Balls, ministro da Juventude e Educação, ou alguém "de quem nem ouvimos falar até agora", como ironizou a Sky News.
Já o ex-ministro Tony Benn, do alto da experiência de seus 85 anos e de sua intensa participação no trabalhismo, fazia outra aposta: "Estamos caminhando para uma nova eleição, neste ano ou no próximo, sem a menor dúvida".


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