São Paulo, domingo, 11 de maio de 1997.



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CANNES 97
Quatro livros contam 50 anos da festa



AMIR LABAKI
enviado especial a Cannes

Só o centenário do cinema em 1995 mereceu similar celebração editorial à dedicada a esta 50ª edição de Cannes. Quatro novos livros acabam de ser lançados tratando exclusivamente do jubileu do festival, juntando-se ao álbum pioneiro "Le Roman de Cannes" de Danièle Heymann e Jean-Pierre Dufreigne (TF1 Éditions). Além disso, uma caixa com 50 livretos consagrados individualmente a grandes nomes que marcaram o evento acaba de desembarcar nas bancas e livrarias.
Três dos volumes são franceses e um americano. Dos EUA, chega uma realização conjunta dos editores da "Variety", a principal publicação em língua inglesa consagrada à cobertura da indústria do entretenimento. O fato de ter se unido às homenagens é a maior prova da efetiva hegemonia de Cannes entre os encontros cinematográficos do mundo.
"Fifty Years of Sun, Sex & Celluloid" (Cinquenta Anos de Sol, Sexo e Celulóide) é um misto de álbum em preto-e-branco e de antologia sobre a história do festival.
A "Variety", que marca presença em Cannes desde a edição inaugural, em 46, apresenta uma crônica do período por meio de textos de suas próprias edições e do testemunho de seus colaboradores.
Os pontos altos do livro são dois textos de Todd McCarthy. O primeiro sintetiza o desenvolvimento do festival. O segundo radiografa o evento nos anos 90, com o fortalecimento do cinema de arte e a compatibilização entre "obras de alta qualidade e sucesso comercial internacional". Ninguém menos que Clint Eastwood assina um simpático prefácio, frisando a convivência pacífica da mundanidade e da cinefilia.
O espírito é similar em "Dór et de Palmes - Le Festival de Cannes" (De ouro e de Palmas - O Festival de Cannes), uma espécie de síntese didática oficialmente subsidiada pelo evento. É um volume de bolso, fartamente ilustrado, dentro da coleção "Découvertes Gallimard". Além do resumo histórico, traz um bom retrato dos bastidores do festival e curiosos documentos em anexo.
"Cannes, Cris & Chuchotements" (Cannes, Gritos & Sussuros) destaca-se no lote como a mais séria tentativa de escrever uma história crítica do festival. Não surpreende que traga a assinatura do crítico de "Point", Michel Pascal, co-responsável pelo belo documentário "François Truffaut, Portraits Volés" (1993). A obra divide-se em duas partes, narrando "anos de aventura (46-71)" e "a idade da razão (72-97)". O volume veio para ficar.
"Citizen Cannes" (Cidadão Cannes), de Guy Jacquemelle, localiza-se no extremo oposto. É a mais descartável celebração impressa. São cerca de 200 páginas de pequenas notas pitorescas, que oscilam entre o conhecido e o banal. Salvam-se raras anedotas, como a ousadia de uma então desconhecida Brigitte Bardot distribuindo suas fotos no Carlton Hotel no início dos anos 50, o táxi que o debutante Polanski dividiu com Abel Gance ("Napoleão") em 1958, ou a rara concessão à intimidade entre Irène Jacob e Krzysztof Kieslowski numa dança que comemorou o sucesso de "A Dupla Vida de Veronique" (1991).
Apenas "Citizen Cannes" partilha com "Le Roman de Cannes" o silêncio dedicado ao cinema brasileiro. No volume da Variety, Todd McCarthy inclui "Vidas Secas", "Deus e o Diabo na Terra do Sol" e "O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro" entre "os filmes imortais" lançados na Cannes dos anos 60. Mais adiante, Peter Cowie destaca três movimentos daquela mesma época, em que "tudo parecia novo": "a nouvelle vague francesa, o cinema novo do Brasil e o novo cinema tcheco".
O cinema novo volta a ser destacado, entre "as escolas descobertas ou acompanhadas", em texto do diretor-geral do festival, Gilles Jacob, publicado por "Dór et de Palmes". Já Michel Pascal, citando o cineasta Claude Chabrol, confirma a importância de François Truffaut no júri que em 1962 concedeu a Palma de Ouro a "O Pagador de Promessas". "Surpresas assim são raras", reconhece o próprio Chabrol. Nós bem sabemos.

Livro: Fifty Years of Sun, Sex & Celluloid Autores: editores da Variety Preço: 60 francos -R$ 12- (96 págs.) Livro: Dór et de Palmes - Le Festival de Cannes
Autor: Pierre Billard Preço: 73 francos -R$ 15- (128 págs.) Livro: Cannes, Cris & Chuchotements Autor: Michel Pascal Preço: 120 francos -R$ 24- (240 págs.) Livro: Citizen Cannes
Autor: Guy Jacquemelle
Preço: 98 francos -R$ 20- (212 págs.)



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