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CANNES 97
Quatro livros contam 50 anos da festa
AMIR LABAKI
enviado especial a Cannes
Só o centenário
do cinema em
1995 mereceu similar celebração
editorial à dedicada a esta 50ª
edição de Cannes. Quatro novos livros acabam de ser lançados
tratando exclusivamente do jubileu do festival, juntando-se ao álbum pioneiro "Le Roman de Cannes" de Danièle Heymann e
Jean-Pierre Dufreigne (TF1 Éditions). Além disso, uma caixa com
50 livretos consagrados individualmente a grandes nomes que
marcaram o evento acaba de desembarcar nas bancas e livrarias.
Três dos volumes são franceses e
um americano. Dos EUA, chega
uma realização conjunta dos editores da "Variety", a principal publicação em língua inglesa consagrada à cobertura da indústria do
entretenimento. O fato de ter se
unido às homenagens é a maior
prova da efetiva hegemonia de
Cannes entre os encontros cinematográficos do mundo.
"Fifty Years of Sun, Sex & Celluloid" (Cinquenta Anos de Sol, Sexo e Celulóide) é um misto de álbum em preto-e-branco e de antologia sobre a história do festival.
A "Variety", que marca presença em Cannes desde a edição inaugural, em 46, apresenta uma crônica do período por meio de textos
de suas próprias edições e do testemunho de seus colaboradores.
Os pontos altos do livro são dois
textos de Todd McCarthy. O primeiro sintetiza o desenvolvimento
do festival. O segundo radiografa o
evento nos anos 90, com o fortalecimento do cinema de arte e a
compatibilização entre "obras de
alta qualidade e sucesso comercial
internacional". Ninguém menos
que Clint Eastwood assina um
simpático prefácio, frisando a
convivência pacífica da mundanidade e da cinefilia.
O espírito é similar em "Dór et
de Palmes - Le Festival de Cannes"
(De ouro e de Palmas - O Festival
de Cannes), uma espécie de síntese
didática oficialmente subsidiada
pelo evento. É um volume de bolso, fartamente ilustrado, dentro da
coleção "Découvertes Gallimard". Além do resumo histórico,
traz um bom retrato dos bastidores do festival e curiosos documentos em anexo.
"Cannes, Cris & Chuchotements" (Cannes, Gritos & Sussuros) destaca-se no lote como a
mais séria tentativa de escrever
uma história crítica do festival.
Não surpreende que traga a assinatura do crítico de "Point", Michel Pascal, co-responsável pelo
belo documentário "François
Truffaut, Portraits Volés" (1993).
A obra divide-se em duas partes,
narrando "anos de aventura
(46-71)" e "a idade da razão
(72-97)". O volume veio para ficar.
"Citizen Cannes" (Cidadão
Cannes), de Guy Jacquemelle, localiza-se no extremo oposto. É a
mais descartável celebração impressa. São cerca de 200 páginas de
pequenas notas pitorescas, que oscilam entre o conhecido e o banal.
Salvam-se raras anedotas, como a
ousadia de uma então desconhecida Brigitte Bardot distribuindo
suas fotos no Carlton Hotel no início dos anos 50, o táxi que o debutante Polanski dividiu com Abel
Gance ("Napoleão") em 1958, ou
a rara concessão à intimidade entre Irène Jacob e Krzysztof Kieslowski numa dança que comemorou o sucesso de "A Dupla Vida de
Veronique" (1991).
Apenas "Citizen Cannes" partilha com "Le Roman de Cannes" o
silêncio dedicado ao cinema brasileiro. No volume da Variety, Todd
McCarthy inclui "Vidas Secas",
"Deus e o Diabo na Terra do Sol" e
"O Dragão da Maldade Contra o
Santo Guerreiro" entre "os filmes
imortais" lançados na Cannes dos
anos 60. Mais adiante, Peter Cowie
destaca três movimentos daquela
mesma época, em que "tudo parecia novo": "a nouvelle vague francesa, o cinema novo do Brasil e o
novo cinema tcheco".
O cinema novo volta a ser destacado, entre "as escolas descobertas ou acompanhadas", em texto
do diretor-geral do festival, Gilles
Jacob, publicado por "Dór et de
Palmes". Já Michel Pascal, citando
o cineasta Claude Chabrol, confirma a importância de François
Truffaut no júri que em 1962 concedeu a Palma de Ouro a "O Pagador de Promessas". "Surpresas
assim são raras", reconhece o próprio Chabrol. Nós bem sabemos.
Livro: Fifty Years of Sun, Sex & Celluloid
Autores: editores da Variety
Preço: 60 francos -R$ 12- (96 págs.)
Livro: Dór et de Palmes - Le Festival de
Cannes
Autor: Pierre Billard
Preço: 73 francos -R$ 15- (128 págs.)
Livro: Cannes, Cris & Chuchotements
Autor: Michel Pascal
Preço: 120 francos -R$ 24- (240 págs.)
Livro: Citizen Cannes
Autor: Guy Jacquemelle
Preço: 98 francos -R$ 20- (212 págs.)
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