São Paulo, quarta, 11 de junho de 1997.



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A enfermeira Li Shuxian, 73, se casou com Pu Yi quando ele já vivia como plebeu
Morre viúva do último imperador

TERESA POOLE
do "The Independent", em Pequim

Morreu na segunda-feira Li Shuxian, 73, a segunda mulher do último imperador da China. Ela nunca chegou a ser imperatriz. A morte foi anunciada ontem pela agência "Xinhua".
Li era plebéia. Num mundo muito distante do esplendor da Cidade Proibida, como retratado no filme "O Último Imperador", de Bernardo Bertolucci, Li só conheceu Pu Yi quando este finalmente foi libertado pelos comunistas, em 1959.
Em 1960 o último imperador foi designado para trabalhar na oficina de conserto de máquinas do jardim botânico de Pequim. Li era enfermeira no hospital onde ele se tratava, e os dois se casaram em 1962, quando ela tinha 38 anos, e ele, 55. Pu Yi morreu de câncer em 1967, aos 60 anos, e o casal não teve filhos.
"No dia 1º de maio eu e minha noiva, Li Shuxian, fomos morar em nossa casinha, e esse lar comum foi para mim uma coisa extraordinária", escreveu Pu Yi em sua autobiografia, "De Imperador a Cidadão". É provável que aqueles anos finais tenham sido os mais felizes de sua vida.
Pu Yi se casou com sua primeira esposa, a imperatriz Wan Rong, quando ambos tinham 17 anos. Wan se viciou em ópio e morreu em 1946. Consta que Pu Yi era impotente.
Depois da morte de Pu Yi, Li viveu discretamente, só aparecendo em público brevemente em 1995, quando as cinzas de seu marido foram transferidas para outro cemitério. Embora nunca tenha feito parte do antigo regime, sua morte rompe mais um elo com os últimos membros sobreviventes da dinastia manchu Qing, que terminou em 1911, quando Pu Yi tinha cinco anos. Pu Ren, 79, meio-irmão do imperador e último sobrevivente da família, vive em Pequim.
O simples fato de qualquer membro da família imperial ter sobrevivido é espantoso. Depois da fundação da república, em 1912, Pu Yi continuou vivendo na Cidade Proibida, sob rígido controle, até 1924, quando foi transferido para a concessão japonesa em Tianjin. No início da década de 30, a Manchúria estava sob controle japonês e, em 1934, Pu Yi tornou-se imperador fantoche de Manchukuo, o protetorado japonês na região.
Após a derrota japonesa, em 1945, a URSS devolveu Pu Yi à China. Ele e seu irmão, Pu Jie, foram presos pelos comunistas. Seu meio-irmão, Pu Ren, permaneceu livre. Pu Jie morreu em 1984, e milhares foram ao enterro. Não está claro como será o funeral de Li Shuxian.



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