São Paulo, segunda-feira, 11 de junho de 2001

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JUSTIÇA

Responsável pela morte de 168 pessoas na explosão de caminhão-bomba, ex-soldado deve morrer em até 7 minutos

EUA executam hoje Timothy McVeigh

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

Hoje, às 7h (9h de Brasília), seis anos, um mês e 23 dias depois do atentado a bomba no prédio federal Alfred P. Murrah de Oklahoma, que matou 168 pessoas, entre elas 19 crianças, e deixou mais de 700 feridos, o ex-soldado Timothy McVeigh, 33, será executado nos Estados Unidos.
No primeiro minuto da sétima hora, conforme manda a lei federal, funcionários da penitenciária federal de Terre Haute, no Estado de Indiana, ministrarão na máquina que levará ao braço esquerdo do terrorista injeções letais contendo três drogas.
A primeira, pentotal sódico, é um barbitúrico que o deixará inconsciente; a segunda, brometo de pancurônio, é um poderoso relaxante muscular que paralisará seus pulmões e o diafragma, fazendo com que ele pare de respirar; por fim, o cloreto de potássio causará uma parada cardíaca.
Em menos de sete minutos, quase tanto tempo quanto o leitor levará para terminar esta reportagem, deve se encerrar o capítulo mais sangrento da história do terrorismo norte-americano e balançar os alicerces do movimento paramilitar no país.
Timothy McVeigh foi condenado à morte no dia 13 de junho de 1997, por detonar o caminhão-bomba que destruiu o prédio federal de Oklahoma City em 19 abril de 1995, no Estado americano de mesmo nome.
Ex-soldado da Guerra do Golfo, solteiro e sem muitos amigos, McVeigh vivia precariamente da venda de bolsas de campanha e outros apetrechos paramilitares em exposições de armas.
Seu ato, justificou depois, era uma resposta ao desastrado ataque do FBI, a polícia federal americana, aos membros do Ramo Davidiano perto de Waco, no Texas, em 1993, que resultou em dezenas de mortos, e um protesto contra uma lei então recém-aprovada pelo Congresso que restringia a compra de armas.
A maior parte das vítimas era de funcionários públicos do Serviço Social. Um dos andares, no entanto, abrigava uma creche diurna. A morte de civis e crianças afastou McVeigh do movimento paramilitar de direita, que ele procurava conquistar e do qual pretendia se tornar líder.
Até hoje, ele não demonstrou arrependimento. No livro "American Terrorist", lançado no mês passado e feito a partir de depoimentos dados aos jornalistas Lou Michel e Dan Herbeck, McVeigh define a morte das crianças, por exemplo, como "danos colaterais inevitáveis".
"Não é verdade que ele não esteja arrependido", disse ontem um de seus advogados, Chris Tritico. "Temos conversado bastante, e ele sente muito pelas vítimas."
O julgamento e consequente condenação de McVeigh viraram um espetáculo multimídia como o país não via desde a execução do casal Rosenberg, em 1953, condenado por vender segredos nucleares à ex-União Soviética.
No começo do ano, uma empresa de internet entrou na Justiça exigindo o direito de exibir on-line a execução. Perdeu. A gravação por vídeo também foi proibida na semana passada.
Uma câmera de circuito interno transmitirá a execução apenas para 330 parentes das vítimas, que se reunirão hoje no aeroporto Will Rogers, em Oklahoma.
Mesmo assim, 60 mil pessoas chegaram neste fim de semana a Terre Haute, parte do cinturão agrícola do país, apenas para estar perto da penitenciária no momento da execução.
A execução deveria acontecer originalmente no dia 16 de maio, mas foi adiada pois o FBI admitiu que havia perdido e depois encontrado mais de 4.500 páginas de documentos do processo a que a defesa não teve acesso.
Além disso, advogados de algumas vítimas e ONGs tentaram evitar a morte de McVeigh, pois acreditam que há mais pessoas envolvidas no atentado que sairão impunes se o terrorista não puder mais ser ouvido.
Timothy McVeigh é o primeiro condenado pela Justiça federal a ser executado desde 1963, quando a pena foi cumprida no Estado de Iowa por enforcamento.

"Alívio"
Enquanto dezenas de pessoas chegavam ontem ao local em Oklahoma City onde McVeigh explodiu o caminhão-bomba, um pequeno cartaz era preparado para lembrar a data da execução do ex-soldado.
Kari Watkins, chefe do memorial construído em homenagem aos mortos, disse que o cartaz será instalado fora da sala principal de exibição do centro, construído no local onde se situava o prédio federal Alfred P. Murrah.
"Será um enorme alívio para todos", disse Paul Heath, ferido na explosão, em referência à execução de McVeigh. "Que o diabo o carregue", disse Martin Cash, que perdeu um olho no atentado.



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