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JUSTIÇA
Responsável pela morte de 168 pessoas na explosão de caminhão-bomba, ex-soldado deve morrer em até 7 minutos
EUA executam hoje Timothy McVeigh
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
Hoje, às 7h (9h de Brasília), seis
anos, um mês e 23 dias depois do
atentado a bomba no prédio federal Alfred P. Murrah de Oklahoma, que matou 168 pessoas, entre
elas 19 crianças, e deixou mais de
700 feridos, o ex-soldado Timothy McVeigh, 33, será executado nos Estados Unidos.
No primeiro minuto da sétima
hora, conforme manda a lei federal, funcionários da penitenciária
federal de Terre Haute, no Estado
de Indiana, ministrarão na máquina que levará ao braço esquerdo do terrorista injeções letais
contendo três drogas.
A primeira, pentotal sódico, é
um barbitúrico que o deixará inconsciente; a segunda, brometo
de pancurônio, é um poderoso relaxante muscular que paralisará
seus pulmões e o diafragma, fazendo com que ele pare de respirar; por fim, o cloreto de potássio
causará uma parada cardíaca.
Em menos de sete minutos,
quase tanto tempo quanto o leitor
levará para terminar esta reportagem, deve se encerrar o capítulo
mais sangrento da história do terrorismo norte-americano e balançar os alicerces do movimento
paramilitar no país.
Timothy McVeigh foi condenado à morte no dia 13 de junho de
1997, por detonar o caminhão-bomba que destruiu o prédio federal de Oklahoma City em 19
abril de 1995, no Estado americano de mesmo nome.
Ex-soldado da Guerra do Golfo,
solteiro e sem muitos amigos,
McVeigh vivia precariamente da
venda de bolsas de campanha e
outros apetrechos paramilitares
em exposições de armas.
Seu ato, justificou depois, era
uma resposta ao desastrado ataque do FBI, a polícia federal americana, aos membros do Ramo
Davidiano perto de Waco, no Texas, em 1993, que resultou em dezenas de mortos, e um protesto
contra uma lei então recém-aprovada pelo Congresso que restringia a compra de armas.
A maior parte das vítimas era de
funcionários públicos do Serviço
Social. Um dos andares, no entanto, abrigava uma creche diurna. A
morte de civis e crianças afastou
McVeigh do movimento paramilitar de direita, que ele procurava
conquistar e do qual pretendia se
tornar líder.
Até hoje, ele não demonstrou
arrependimento. No livro "American Terrorist", lançado no mês
passado e feito a partir de depoimentos dados aos jornalistas Lou
Michel e Dan Herbeck, McVeigh
define a morte das crianças, por
exemplo, como "danos colaterais
inevitáveis".
"Não é verdade que ele não esteja arrependido", disse ontem um
de seus advogados, Chris Tritico.
"Temos conversado bastante, e
ele sente muito pelas vítimas."
O julgamento e consequente
condenação de McVeigh viraram
um espetáculo multimídia como
o país não via desde a execução do
casal Rosenberg, em 1953, condenado por vender segredos nucleares à ex-União Soviética.
No começo do ano, uma empresa de internet entrou na Justiça
exigindo o direito de exibir on-line a execução. Perdeu. A gravação
por vídeo também foi proibida na
semana passada.
Uma câmera de circuito interno
transmitirá a execução apenas para 330 parentes das vítimas, que se
reunirão hoje no aeroporto Will
Rogers, em Oklahoma.
Mesmo assim, 60 mil pessoas
chegaram neste fim de semana a
Terre Haute, parte do cinturão
agrícola do país, apenas para estar
perto da penitenciária no momento da execução.
A execução deveria acontecer
originalmente no dia 16 de maio,
mas foi adiada pois o FBI admitiu
que havia perdido e depois encontrado mais de 4.500 páginas
de documentos do processo a que
a defesa não teve acesso.
Além disso, advogados de algumas vítimas e ONGs tentaram
evitar a morte de McVeigh, pois
acreditam que há mais pessoas
envolvidas no atentado que sairão
impunes se o terrorista não puder
mais ser ouvido.
Timothy McVeigh é o primeiro
condenado pela Justiça federal a
ser executado desde 1963, quando
a pena foi cumprida no Estado de
Iowa por enforcamento.
"Alívio"
Enquanto dezenas de pessoas
chegavam ontem ao local em
Oklahoma City onde McVeigh
explodiu o caminhão-bomba, um
pequeno cartaz era preparado para lembrar a data da execução do
ex-soldado.
Kari Watkins, chefe do memorial construído em homenagem
aos mortos, disse que o cartaz será
instalado fora da sala principal de
exibição do centro, construído no
local onde se situava o prédio federal Alfred P. Murrah.
"Será um enorme alívio para todos", disse Paul Heath, ferido na
explosão, em referência à execução de McVeigh. "Que o diabo o
carregue", disse Martin Cash, que
perdeu um olho no atentado.
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