São Paulo, sexta-feira, 11 de junho de 2010

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Taleban executa menino de sete anos

Garoto é enforcado sob acusação de espionar para os EUA e para o governo afegão na Província de Helmand

Porta-voz do governo local diz que morte foi represália a discurso de avô da criança, que é líder tribal da região


ANDREA MURTA
DE WASHINGTON

Um garoto de apenas sete anos foi executado após ser acusado por supostos membros do Taleban de ser espião dos EUA e do governo no sul do Afeganistão, afirmaram ontem autoridades locais.
O crime chocou vários países e deixou expostas as dificuldades dos EUA em lidar com o grupo radical islâmico enquanto exortam a cooperação com populações locais.
Segundo Daoud Ahmadi, porta-voz do governo da violenta Província de Helmand, a execução ocorreu na terça.
O garoto foi arrastado para fora de casa às 10h30 e enforcado em uma árvore no centro da vila em que vivia.

VINGANÇA
Poucos dias antes, seu avô, um líder tribal, discursara elogiando o governo e formara um pequeno grupo para resistir ao Taleban. "O Taleban matou o neto por vingança", disse Ahmadi.
O grupo radical nega a ação. Mas há crescentes relatos de uma renovada campanha de assassinatos do Taleban contra qualquer pessoa associada ao governo.
A Otan (aliança militar ocidental), liderada pelos EUA, vem tentando incrementar a capacidade do governo afegão, especialmente em Províncias do sul do país.
O plano exige recrutamento de funcionários públicos eficientes, que possam melhorar a distribuição de serviços de forma a cortar a dependência de populações locais que sobrevivem do apoio à luta do Taleban.
O contra-ataque do grupo visa intimidar a população para evitar tais colaborações.
O enforcamento do garoto não seria o primeiro ato do tipo contra suspeitos improváveis de espionagem. Há três anos, uma mulher de 70 anos e uma criança foram mortas na Província pelo mesmo motivo, segundo o porta-voz.
O presidente afegão, Hamid Karzai, afirmou em entrevista coletiva ontem que investiga os relatos. "Não há um crime maior que esse nem para as forças mais desumanas da Terra", disse.
"Um menino de sete anos não pode ser espião. Não pode ser nada a não ser um menino, e sua morte é um crime contra a humanidade."
O premiê britânico, David Cameron, em visita ao Afeganistão, disse que, "se confirmado, isso diz mais sobre o Taleban que qualquer livro, artigo ou discurso".
Apesar das críticas, a barbárie não deve minar apelos por acordos com o Taleban.
A primeira conferência nacional de paz do Afeganistão terminou na última sexta com pedidos a governos internacionais por passos para o diálogo com o grupo.
Os EUA já admitiram que o Taleban é parte do tecido social do país e não excluem sua participação no governo, desde que cortem laços com a rede Al Qaeda, deponham armas e aceitem a Constituição afegã.


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