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TERROR EM LONDRES
Faltam pistas seguras sobre os atentados; há uma série de linhas de investigação -de terror caseiro a "terroristas mercenários"
Policiais de 32 países ajudam britânicos
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES
ÉRICA FRAGA
DE LONDRES
Cerca de cem altos funcionários
policiais de 32 países -dos EUA
ao Japão, da Turquia à República
Tcheca- reuniram-se ontem,
em Londres, para tentar ajudar as
autoridades britânicas a sair da
escuridão em que parecem estar
em relação aos autores dos atentados de quinta, que mataram 49
pessoas, deixaram 25 desaparecidas (certamente mortas) e mais
de 700 feridas, das quais 65 ainda
estão no hospital, 12 em UTIs.
A menos que a polícia esteja escondendo informações, os jornais
britânicos de ontem são um claro
reflexo da falta de pistas seguras:
há suspeitas dirigidas para todos
os lados, do terrorismo caseiro a
"mercenários brancos" alugados
pela Al Qaeda, passando por uma
"Conexão França" (norte-africanos residentes na França) até chegar a um velho conhecido dos serviços de inteligência, Mustafa Setmariam Nassar, acusado de ser o
cérebro por trás dos atentados aos
trens de Madri em março de 2004.
As informações são atribuídas a
fontes policiais não identificadas.
Mas como o vice-comissário da
polícia metropolitana, Brian Paddick, disse que está seguindo "toda uma série de linhas de investigação" é razoável deduzir que várias delas acabaram nos jornais.
A mais estranha, que apareceu
na capa do jornal "The Independent on Sunday", fala de uma
quadrilha de "terroristas mercenários", recrutados pela Al Qaeda
para praticar os ataques de quinta-feira. "Poderiam ser muçulmanos dos Bálcãs, sem vínculos prévios com grupos terroristas", diz.
O fato de não estarem vinculados às células terroristas conhecidas explicaria como a polícia não
detectou movimento nenhum antes dos ataques. No "News of the
World", John Stevens, ex-chefe de
polícia e hoje membro da Câmara
dos Lordes, atribui os atentados a
cidadãos britânicos, "certamente
bem educados".
Stevens diz que "os responsáveis pelas bombas de Londres não
fazem a caricatura de fanáticos da
Al Qaeda vindos de alguma remota vila da Argélia. São aparentemente cidadãos britânicos comuns, jovens vestidos de maneira
conservadora e limpa e, provavelmente, com algum grau de educação superior". O ex-chefe de polícia acrescenta que 3.000 britânicos passaram pelos campos de
treinamento da Al Qaeda, dos
quais 200 estão "capacitados e
prontos para praticar massacres".
"Ele não sabe o que está acontecendo", descartou Charles Clarke,
ministro do Interior, responsável
pela segurança. Talvez, mas Stevens não é um velho oficial há
tempos de pijama: aposentou-se
da polícia faz apenas cinco meses.
A especulação de Stevens coincide mais ou menos com a história de capa do jornal "The Sunday
Times", segundo a qual a Al Qaeda está recrutando "muçulmanos
de classe média nas universidades
britânicas para fazer ataques terroristas". A informação consta de
um texto oficial, chamado ""Jovens Muçulmanos e Extremismo", preparado para o premiê
Tony Blair, no ano passado.
O texto diz ainda que uma rede
de "recrutadores extremistas" está circulando nos campi, buscando pessoas com "qualificações
técnicas e profissionais", particularmente em engenharia e tecnologia da informação.
Com base em informações do
legendário MI5, o serviço secreto
britânico, o documento informa
que "o número de muçulmanos
britânicos ativamente engajados
em atividades terroristas, seja interna ou externamente, ou dando
apoio a tal atividade, é extremamente pequeno e estimado em
menos de 1%" (do 1,8 milhão de
muçulmanos no Reino Unido).
As especulações passaram a incluir dois nomes. Um é Mohammed al Garbuzi, marroquino acusado de envolvimento num atentado em Casablanca que matou 33
pessoas no ano passado. O outro é
Mustafa Setmariam Nasar, sírio,
que é considerado o cérebro dos
atentados de Madri.
Não houve vazamento sobre o
que se discutiu na reunião das polícias do mundo. Mas o comissário-assistente da Polícia londrina,
Andy Hayman, chefe da investigação sobre os ataques, disse ao
"Guardian" que é inestimável o
valor de informações de parceiros
externos: "Quisemos nos reunir
com eles porque esse tipo de terrorismo afeta o mundo".
Mundo talvez seja exagero, mas
a Europa afeta. Dinamarca e Itália
são citadas, pela inteligência, como próximos alvos. A polícia italiana prendeu sábado 142 pessoas
em operação em Milão e apreendeu 1,5 kg de explosivos.
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