São Paulo, segunda-feira, 11 de julho de 2005

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TERROR EM LONDRES

Faltam pistas seguras sobre os atentados; há uma série de linhas de investigação -de terror caseiro a "terroristas mercenários"

Policiais de 32 países ajudam britânicos

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES

ÉRICA FRAGA
DE LONDRES

Cerca de cem altos funcionários policiais de 32 países -dos EUA ao Japão, da Turquia à República Tcheca- reuniram-se ontem, em Londres, para tentar ajudar as autoridades britânicas a sair da escuridão em que parecem estar em relação aos autores dos atentados de quinta, que mataram 49 pessoas, deixaram 25 desaparecidas (certamente mortas) e mais de 700 feridas, das quais 65 ainda estão no hospital, 12 em UTIs.
A menos que a polícia esteja escondendo informações, os jornais britânicos de ontem são um claro reflexo da falta de pistas seguras: há suspeitas dirigidas para todos os lados, do terrorismo caseiro a "mercenários brancos" alugados pela Al Qaeda, passando por uma "Conexão França" (norte-africanos residentes na França) até chegar a um velho conhecido dos serviços de inteligência, Mustafa Setmariam Nassar, acusado de ser o cérebro por trás dos atentados aos trens de Madri em março de 2004.
As informações são atribuídas a fontes policiais não identificadas. Mas como o vice-comissário da polícia metropolitana, Brian Paddick, disse que está seguindo "toda uma série de linhas de investigação" é razoável deduzir que várias delas acabaram nos jornais.
A mais estranha, que apareceu na capa do jornal "The Independent on Sunday", fala de uma quadrilha de "terroristas mercenários", recrutados pela Al Qaeda para praticar os ataques de quinta-feira. "Poderiam ser muçulmanos dos Bálcãs, sem vínculos prévios com grupos terroristas", diz.
O fato de não estarem vinculados às células terroristas conhecidas explicaria como a polícia não detectou movimento nenhum antes dos ataques. No "News of the World", John Stevens, ex-chefe de polícia e hoje membro da Câmara dos Lordes, atribui os atentados a cidadãos britânicos, "certamente bem educados".
Stevens diz que "os responsáveis pelas bombas de Londres não fazem a caricatura de fanáticos da Al Qaeda vindos de alguma remota vila da Argélia. São aparentemente cidadãos britânicos comuns, jovens vestidos de maneira conservadora e limpa e, provavelmente, com algum grau de educação superior". O ex-chefe de polícia acrescenta que 3.000 britânicos passaram pelos campos de treinamento da Al Qaeda, dos quais 200 estão "capacitados e prontos para praticar massacres".
"Ele não sabe o que está acontecendo", descartou Charles Clarke, ministro do Interior, responsável pela segurança. Talvez, mas Stevens não é um velho oficial há tempos de pijama: aposentou-se da polícia faz apenas cinco meses.
A especulação de Stevens coincide mais ou menos com a história de capa do jornal "The Sunday Times", segundo a qual a Al Qaeda está recrutando "muçulmanos de classe média nas universidades britânicas para fazer ataques terroristas". A informação consta de um texto oficial, chamado ""Jovens Muçulmanos e Extremismo", preparado para o premiê Tony Blair, no ano passado.
O texto diz ainda que uma rede de "recrutadores extremistas" está circulando nos campi, buscando pessoas com "qualificações técnicas e profissionais", particularmente em engenharia e tecnologia da informação.
Com base em informações do legendário MI5, o serviço secreto britânico, o documento informa que "o número de muçulmanos britânicos ativamente engajados em atividades terroristas, seja interna ou externamente, ou dando apoio a tal atividade, é extremamente pequeno e estimado em menos de 1%" (do 1,8 milhão de muçulmanos no Reino Unido).
As especulações passaram a incluir dois nomes. Um é Mohammed al Garbuzi, marroquino acusado de envolvimento num atentado em Casablanca que matou 33 pessoas no ano passado. O outro é Mustafa Setmariam Nasar, sírio, que é considerado o cérebro dos atentados de Madri.
Não houve vazamento sobre o que se discutiu na reunião das polícias do mundo. Mas o comissário-assistente da Polícia londrina, Andy Hayman, chefe da investigação sobre os ataques, disse ao "Guardian" que é inestimável o valor de informações de parceiros externos: "Quisemos nos reunir com eles porque esse tipo de terrorismo afeta o mundo".
Mundo talvez seja exagero, mas a Europa afeta. Dinamarca e Itália são citadas, pela inteligência, como próximos alvos. A polícia italiana prendeu sábado 142 pessoas em operação em Milão e apreendeu 1,5 kg de explosivos.

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