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ARTIGO
Alemanha e Israel: 40 anos de relação amigável e estreita
TZIPORA RIMON E
FRIEDRICH PROT VON KUNOW
ESPECIAL PARA A FOLHA
"Quem não acredita em
milagres, não é realista."
Esta frase de Ben-Gurion vale de
maneira especial para as relações
entre a Alemanha e Israel, retomadas oficialmente há 40 anos,
no mês de maio.
Após a Shoah [Holocausto em
hebraico], poucos ousariam acreditar que as relações bilaterais ou
mesmo qualquer outro tipo de relacionamento entre a Alemanha e
Israel poderiam ser possíveis. Seu
estabelecimento foi um importante acontecimento na história
dos dois Estados, uma decisão
histórica ligada a fortes considerações morais.
Dois grandes estadistas, David
Ben-Gurion e Konrad Adenauer,
conseguiram lançar o marco inicial para a aproximação dos dois
países. Esse começo foi marcado
pela assinatura do Acordo de Luxemburgo, em setembro de 1952,
concluindo as negociações referentes ao pagamento de indenizações.
As relações entre Israel e a Alemanha possuem caráter único
desde que foram estabelecidas à
sombra do Holocausto, o terrível
crime contra o povo judeu, organizado e perpetrado pelo atroz regime nacional-socialista (nazista). Relembrar o Holocausto é
parte essencial das relações bilaterais e continuará sendo. Não há
como perdoar e esquecer o Holocausto. A recordação do passado
será sempre um marco na relação
entre os dois países.
Do ponto de vista alemão, o começo dos contatos com o Estado
de Israel representava uma decisão fundamental sobre a direção
da política externa da jovem República Federal da Alemanha, cujo direcionamento vem sendo
perseguido até hoje e perdurará
também no futuro.
A Alemanha apóia sem restrições o direito de existência do Estado de Israel e professa o direito
dos cidadãos israelenses de viver
dentro de fronteiras seguras, sem
temer o terror e a violência e em
paz com seus vizinhos. Esse é e
continua sendo um pilar da política externa alemã.
Em função de sua responsabilidade histórica e moral, a Alemanha dedica especial atenção ao
processo de paz entre Israel e seus
vizinhos. O objetivo continua
sendo o de solucionar o longo
conflito no Oriente Médio através
da concretização da visão de dois
Estados, Israel e Palestina, convivendo pacificamente dentro de
fronteiras seguras e reconhecidas.
Hoje, as relações entre Israel e a
Alemanha são a combinação única do passado e do futuro. Pelos
que foram assassinados e pelas
gerações futuras, faz-se contínua
a obrigação de lembrar o passado
e educar para o futuro.
Numa era em que declina o número de sobreviventes, os únicos
capazes de dar testemunho pessoal da Shoah, num momento em
que a Alemanha e a Europa ainda
têm de lidar com ondas de anti-semitismo, é preciso fortalecer
ainda mais os laços especiais entre
Israel e a Alemanha, renová-los e
alimentar o relacionamento com
novos elementos para as próximas décadas.
Em novembro de 2004, realizou-se em São Paulo um encontro
entre o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Joschka
Fischer, e membros da comunidade judaica, que encontraram
asilo no Brasil quando perseguidos pelo nazismo, bem como de
seus descendentes.
Na ocasião, o ministro das Relações Exteriores ressaltou a essência das relações germânico-israelitas. Ele também manifestou sua
admiração pelo Brasil, onde convivem pacificamente pessoas de
origens culturais, étnicas e religiosas completamente distintas.
Os laços estreitos entre Israel e a
Alemanha nunca ficaram restritos a contatos políticos. Também
nas áreas econômica, social e cultural existe uma densa rede de
contatos, iniciativas, intercâmbio
de jovens estudantes e programas
de visitas mútuas de autoridades,
como a ida do presidente alemão,
Horst Köhler, a Israel e a visita do
presidente israelense, Moshé Katsav, à Alemanha recentemente.
Não é à toa que a Alemanha é o
maior parceiro comercial de Israel na Europa. Há mais de cem
parcerias entre cidades e municípios dos dois países. O grande número de eventos, exposições,
apresentações teatrais, concertos,
leituras e outros que se realizam
em ambos os países por ocasião
do aniversário comprova a intensidade e a amplitude das relações
culturais.
Israel considera a Alemanha um
país amigo e um importante parceiro na arena internacional, particularmente na União Européia.
A Alemanha está comprometida
com a existência de Israel e atua
em fóruns bilaterais e internacionais, apoiando as posições e a segurança de Israel.
A Alemanha e Israel cultivam
uma relação amigável e estreita,
promovem a cooperação e o entendimento entre os dois Estados
e os dois povos e continuarão a
fortalecer e desenvolver os laços
que os une.
Tal relação sempre será especial: a imagem da Alemanha em
Israel e a percepção de Israel na
Alemanha continuarão altamente
complexas diante do fundo histórico e sempre representarão um
desafio.
Não poderia ser diferente. É necessário sensibilizar os jovens israelenses e alemães para o caráter
especial dessas relações. Também
no caso das gerações que não tiveram contato com os autores e as
vítimas do nazismo, é preciso
manter alerta sua consciência para a importância da Shoah e dos
ensinamentos daí resultantes para as relações entre os nossos países.
O aniversário do estabelecimento das relações bilaterais oferece a oportunidade de recordar o
passado. Mas, também na base do
compromisso resultante desse
passado, a de dirigir a atenção para o presente e o futuro.
O então presidente do Estado de
Israel, Salman Shazar, descreveu
o recomeço das relações diplomáticas entre a Alemanha e Israel da
seguinte maneira: "Após a noite
mais escura de todas as noites, o
dia amanheceu". Continua sendo
nossa missão conjunta moldar esse novo dia. Façamo-lo para nós e,
sobretudo, para as gerações futuras.
Tzipora Rimon é embaixadora de Israel
no Brasil e Friedrich Prot von Kunow é
embaixador da Alemanha no Brasil
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