São Paulo, segunda-feira, 11 de julho de 2005

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ARTIGO

Alemanha e Israel: 40 anos de relação amigável e estreita

TZIPORA RIMON E
FRIEDRICH PROT VON KUNOW
ESPECIAL PARA A FOLHA

"Quem não acredita em milagres, não é realista." Esta frase de Ben-Gurion vale de maneira especial para as relações entre a Alemanha e Israel, retomadas oficialmente há 40 anos, no mês de maio.
Após a Shoah [Holocausto em hebraico], poucos ousariam acreditar que as relações bilaterais ou mesmo qualquer outro tipo de relacionamento entre a Alemanha e Israel poderiam ser possíveis. Seu estabelecimento foi um importante acontecimento na história dos dois Estados, uma decisão histórica ligada a fortes considerações morais.
Dois grandes estadistas, David Ben-Gurion e Konrad Adenauer, conseguiram lançar o marco inicial para a aproximação dos dois países. Esse começo foi marcado pela assinatura do Acordo de Luxemburgo, em setembro de 1952, concluindo as negociações referentes ao pagamento de indenizações.
As relações entre Israel e a Alemanha possuem caráter único desde que foram estabelecidas à sombra do Holocausto, o terrível crime contra o povo judeu, organizado e perpetrado pelo atroz regime nacional-socialista (nazista). Relembrar o Holocausto é parte essencial das relações bilaterais e continuará sendo. Não há como perdoar e esquecer o Holocausto. A recordação do passado será sempre um marco na relação entre os dois países.
Do ponto de vista alemão, o começo dos contatos com o Estado de Israel representava uma decisão fundamental sobre a direção da política externa da jovem República Federal da Alemanha, cujo direcionamento vem sendo perseguido até hoje e perdurará também no futuro.
A Alemanha apóia sem restrições o direito de existência do Estado de Israel e professa o direito dos cidadãos israelenses de viver dentro de fronteiras seguras, sem temer o terror e a violência e em paz com seus vizinhos. Esse é e continua sendo um pilar da política externa alemã.
Em função de sua responsabilidade histórica e moral, a Alemanha dedica especial atenção ao processo de paz entre Israel e seus vizinhos. O objetivo continua sendo o de solucionar o longo conflito no Oriente Médio através da concretização da visão de dois Estados, Israel e Palestina, convivendo pacificamente dentro de fronteiras seguras e reconhecidas.
Hoje, as relações entre Israel e a Alemanha são a combinação única do passado e do futuro. Pelos que foram assassinados e pelas gerações futuras, faz-se contínua a obrigação de lembrar o passado e educar para o futuro.
Numa era em que declina o número de sobreviventes, os únicos capazes de dar testemunho pessoal da Shoah, num momento em que a Alemanha e a Europa ainda têm de lidar com ondas de anti-semitismo, é preciso fortalecer ainda mais os laços especiais entre Israel e a Alemanha, renová-los e alimentar o relacionamento com novos elementos para as próximas décadas.
Em novembro de 2004, realizou-se em São Paulo um encontro entre o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Joschka Fischer, e membros da comunidade judaica, que encontraram asilo no Brasil quando perseguidos pelo nazismo, bem como de seus descendentes.
Na ocasião, o ministro das Relações Exteriores ressaltou a essência das relações germânico-israelitas. Ele também manifestou sua admiração pelo Brasil, onde convivem pacificamente pessoas de origens culturais, étnicas e religiosas completamente distintas.
Os laços estreitos entre Israel e a Alemanha nunca ficaram restritos a contatos políticos. Também nas áreas econômica, social e cultural existe uma densa rede de contatos, iniciativas, intercâmbio de jovens estudantes e programas de visitas mútuas de autoridades, como a ida do presidente alemão, Horst Köhler, a Israel e a visita do presidente israelense, Moshé Katsav, à Alemanha recentemente.
Não é à toa que a Alemanha é o maior parceiro comercial de Israel na Europa. Há mais de cem parcerias entre cidades e municípios dos dois países. O grande número de eventos, exposições, apresentações teatrais, concertos, leituras e outros que se realizam em ambos os países por ocasião do aniversário comprova a intensidade e a amplitude das relações culturais.
Israel considera a Alemanha um país amigo e um importante parceiro na arena internacional, particularmente na União Européia. A Alemanha está comprometida com a existência de Israel e atua em fóruns bilaterais e internacionais, apoiando as posições e a segurança de Israel.
A Alemanha e Israel cultivam uma relação amigável e estreita, promovem a cooperação e o entendimento entre os dois Estados e os dois povos e continuarão a fortalecer e desenvolver os laços que os une.
Tal relação sempre será especial: a imagem da Alemanha em Israel e a percepção de Israel na Alemanha continuarão altamente complexas diante do fundo histórico e sempre representarão um desafio.
Não poderia ser diferente. É necessário sensibilizar os jovens israelenses e alemães para o caráter especial dessas relações. Também no caso das gerações que não tiveram contato com os autores e as vítimas do nazismo, é preciso manter alerta sua consciência para a importância da Shoah e dos ensinamentos daí resultantes para as relações entre os nossos países.
O aniversário do estabelecimento das relações bilaterais oferece a oportunidade de recordar o passado. Mas, também na base do compromisso resultante desse passado, a de dirigir a atenção para o presente e o futuro.
O então presidente do Estado de Israel, Salman Shazar, descreveu o recomeço das relações diplomáticas entre a Alemanha e Israel da seguinte maneira: "Após a noite mais escura de todas as noites, o dia amanheceu". Continua sendo nossa missão conjunta moldar esse novo dia. Façamo-lo para nós e, sobretudo, para as gerações futuras.


Tzipora Rimon é embaixadora de Israel no Brasil e Friedrich Prot von Kunow é embaixador da Alemanha no Brasil

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