São Paulo, terça-feira, 11 de julho de 2006

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Explosão mata o principalterrorista da Tchetchênia

Basayev pode ter sido vítima da detonação acidental da dinamite que escoltava

Líder separatista coordenou seqüestro de crianças numa escola da cidade de Beslan, em 2004, que terminou com a morte dos 331 reféns

DA REDAÇÃO

O líder rebelde tchetcheno Shamil Basayev, 41, foi morto nas primeiras horas de segunda-feira, com a explosão de um caminhão que transportava 100 kg de dinamite, perto de Ekazhevo, aldeia da Inguchétia, uma república russa vizinha à Tchetchênia.
Ele era o terrorista mais procurado da Rússia, com cabeça a prêmio por US$ 10 milhões. Foi o planejador responsável direto pelo seqüestro, em 2004, de alunos de uma escola em Beslan, que terminou com a morte de 331 reféns.
No momento da explosão, Basayev ocupava o banco do passageiro de um automóvel que escoltava o transporte do dinamite, disse o FSB, serviço de inteligência russo, sem no entanto especificar qual a sua participação no episódio.
A agência de notícias Itar-Tass disse que o líder rebelde foi "eliminado", dando a entender que a explosão foi o resultado de uma operação oficial.
Em declarações à TV, o presidente Vladimir Putin disse que se trata "de uma retribuição merecida contra os bandidos que mataram nossas crianças em Beslan e cometeram outros atos terroristas em Moscou e nas demais regiões russas".
Seu corpo não foi mostrado pela televisão russa, conforme o hábito do FSB para comprovar suas operações de maior impacto público. O cadáver de Basayev e de seus acompanhantes -de quatro a 12, segundo informações contraditórias- ficaram dilacerados com a explosão.
Os restos do líder rebelde teriam sido identificados por parte da cabeça e pela perna mecânica que utilizava. Mas um site da internet que normalmente veicula mensagens dos rebeldes reconheceu a morte de Basayev e o classifica de "mártir".
As informações relativas à Tchetchênia e a seus guerrilheiros independentistas têm em geral como única fonte o governo de Moscou, que nem sempre é isento ou confiável.
O chefe do FSB, Nikolai Patruchev, disse ontem que o terrorista tchetcheno planejava um atentado espetacular no sul da Rússia para prejudicar a reunião de cúpula do G8 (grupo dos países mais industrializados), que Vladimir Putin presidirá durante o fim de semana em São Petesburgo, no noroeste do país. O presidente americano, George W. Bush será o principal participante.
Em Londres, no entanto, o representante dos rebeldes, Akhmed Zakayev, disse à Associated Press que a reunião do G8 seria o pretexto para uma iniciativa bem mais pacífica: a divulgação de um manifesto pedindo "ação urgente" pela independência da Tchetchênia.

Endosso
Em Washington, o porta-voz da Casa Branca, Tony Snow, disse que o governo americano não lamentava a morte de Basayev, porque, disse ele, "se tratava de um terrorista".
Depois do 11 de Setembro, os EUA deixaram de se manifestar sobre as violações dos direitos humanos que a Rússia comete na Tchetchênia, encampando a tese de Putin de que os partidários da independência são todos, indistintamente, meros "terroristas".
A Tchetchênia é uma república de 1 milhão de habitantes, em sua totalidade muçulmanos sunitas. Inicialmente laica, a guerra pela independência, iniciada após o colapso da União Soviética, tornou-se mais religiosa, com o aumento da influência de voluntários sauditas, paquistaneses ou afegãos.
O premiê tchetcheno -pró-Rússia-, Ramzan Kadyrov, disse "ser grato àqueles que mataram Basayev", embora lamente não tê-lo executado com as próprias mãos.
"Com a morte de Basayev, a direção dos rebeldes foi destruída. É como se [Osama] bin Laden tivesse sido morto no Afeganistão", disse Alexander Rarh, especialista em Rússia do Conselho Alemão de Relações Exteriores. Para a jornalista russa Anna Politkovskaya, especialista na região, a eliminação de Basayev "é um presente para Putin, que se fortalece politicamente às vésperas do G8".
Putin ascendeu na política como premiê, após uma violenta campanha de repressão dos separatistas tchetchenos.
Mas Politkovskaya diz que os efeitos práticos da morte do terrorista serão semelhantes aos da morte, no Iraque, do líder da insurgência islâmica Abu Musab al Zarqawi: bem pouco ou nenhum.


Com agências internacionais


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