São Paulo, sábado, 11 de julho de 2009

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Diálogo sobre Honduras não tem avanço

Impasse entre partidários de deposto e golpistas permanece após primeira rodada de conversas sob mediação da Costa Rica

Presidente costa-riquenho diz que negociações vão continuar, mas não marca data para novo encontro entre rivais hondurenhos

Orlando Sierra/France Presse
Manifestantes favoráveis ao presidente deposto Manuel Zelaya, durante protesto em Tegucigalpa

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A SAN JOSÉ (COSTA RICA)

Sem acordo nem data para um novo encontro. Assim terminou ontem em San José a primeira rodada de negociações entre representantes do presidente Manuel Zelaya, deposto há 13 dias, e do mandatário interino, Roberto Micheletti. Apesar da falta de resultados, ambos os lados concordaram em manter a mediação do governo costa-riquenho.
"Ontem [anteontem], disse que isso tomaria tempo. A Costa Rica continuará mediando enquanto os setores envolvidos continuarem pedindo", disse ontem o presidente Óscar Arias, que mediou os dois dias de negociação.
Arias evitou dar datas precisas sobre o novo encontro -se limitou a dizer que será anunciado "nos próximos dias".
Em resposta às críticas do presidente venezuelano Hugo Chávez sobre as negociações (leia nesta pág.), Arias pediu que "deixem os centro-americanos resolver os problemas dos centro-americanos, tal como fizemos 22 anos atrás", em alusão ao acordo mediado por ele que colocou fim à guerra civil na região e lhe rendeu o Prêmio Nobel da Paz de 1987.
Após as declarações de Arias, realizadas num toldo montado diante de sua casa, representantes dos dois lados deixaram evidente que, após seis horas reunidos, não houve avanços no ponto principal, a restituição ao cargo de Zelaya.
Falando em nome da representação de Micheletti, o ex-chanceler Carlos López informou que sua delegação regressaria ontem mesmo a Honduras, mas voltaria a San José caso seja convocada por Arias.
Questionado sobre a possibilidade de antecipar as eleições presidenciais de 29 de novembro, López afirmou que o tema "não foi debatido, mas tampouco foi descartado".
Mais duro, o porta-voz da comissão de Zelaya, o também ex-chanceler Milton Jiménez, voltou a afirmar que "qualquer solução passa pela restituição do presidente Zelaya", o único ponto que Micheletti tem dito que é inegociável.
Outra representante de Zelaya, a deputada Silvia Ayala, tomou a palavra para propor que a próxima reunião ocorra em Honduras. Arias não quis comentar a possibilidade.
Assim como a delegação de Micheletti, os representantes de Zelaya planejavam voltar a Honduras entre ontem e hoje.
Desde antes do início da reunião, por volta das 10h locais, já havia sinais claros de que o diálogo não avançaria. Zelaya, que se encontrara na véspera com Arias, deixou San José na madrugada rumo à República Dominicana junto com a chefe da comissão negociadora, a chanceler destituída Patricia Rodas.
Em entrevista à Folha antes da reunião de ontem, a deputada pró-Zelaya Ayala disse que "não há vontade das partes" em negociar, mas logo emendou: "Da parte dos golpistas".
Na avaliação dos seguidores de Zelaya presentes em San José, a estratégia de Micheletti é prolongar as negociações o máximo possível enquanto busca reconhecimento internacional -o governo interino não é reconhecido pelas Nações Unidas nem pela OEA (Organização dos Estados Americanos).
Os aliados do presidente deposto também criticaram "a falta de contundência" de Arias com relação à volta de Zelaya e demonstraram dúvidas sobre se o governo Barack Obama está realmente contrário ao governo interino de Micheletti.
Questionada sobre a dinâmica da primeira reunião, realizada anteontem, Ayala disse que os partidários interrompiam as conversas constantemente.
Segundo ela, houve um momento de tensão no encontro quando um dos representantes de Micheletti fez uma piada para explicar o golpe.
"Ele começou a contar uma piada de que uns cegos entravam na jaula de um elefante. Um abraçava uma pata e dizia que o elefante era uma torre para dizer que tudo dependia do enfoque. Nós respondemos que, se é para falar de jaulas e de animais, melhor que falássemos de gorilas, de "gorilettis"."


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