São Paulo, domingo, 11 de agosto de 2002

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GUERRA CIVIL

Segundo serviço secreto, plano previa 100 morteiros contra palácio e Congresso; 14 foram efetivamente lançados

Farc queriam matar Uribe, diz governo

DA REDAÇÃO

As Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), principal guerrilha do país, pretendiam lançar ao menos cem morteiros caseiros sobre o palácio de governo e o Congresso, na quarta-feira, dia da posse de Álvaro Uribe na Presidência, segundo uma fonte do serviço secreto colombiano ouvida pela agência de notícias France Presse.
Dos cerca de cem morteiros preparados, apenas 14 foram efetivamente lançados e apenas dois explodiram.
Um deles explodiu a poucas quadras do Congresso, deixando um saldo de 21 mortos e mais de 60 feridos. O outro atingiu uma lateral do palácio presidencial de Nariño, ferindo quatro guardas.

Chuva de dinamite
"Os guerrilheiros planejavam literalmente fazer chover dinamite sobre a capital, lançando uns cem artefatos contra esses locais", afirmou a fonte, que pediu para não ser identificada.
Segundo as investigações, os guerrilheiros teriam utilizado US$ 405 mil para financiar a operação, que incluiu o aluguel de uma casa no bairro Santa Isabel, de onde foram lançados os explosivos, a fabricação dos foguetes e pagamentos a uma rede de informantes.
Três pessoas já foram presas sob suspeita de integrar o comando urbano das Farc em Bogotá responsável pelo ataque, segundo o chefe da polícia metropolitana, general Héctor Castro.
A polícia suspeita que até cem membros das Farc tenham participado da ação, sob o comando de Carlos Lozada, antigo negociador de paz do grupo.

Treinamento
Os investigadores colombianos dizem ainda ter "fortes indícios" de que membros do IRA (Exército Republicano Irlandês) treinaram rebeldes das Farc para o ataque. Três irlandeses próximos ao IRA estão presos na Colômbia desde agosto do ano passado, sob a acusação de treinar guerrilheiros na antiga zona desmilitarizada ao sul do país, que esteve vigente entre 1998 e fevereiro deste ano, enquanto durou o processo de paz do governo com as Farc.
O ataque no dia da posse ocorreu apesar das fortes medidas de segurança tomadas para evitar um ataque ao direitista Uribe, que venceu a eleição em maio pregando pulso firme contra os grupos armados ilegais.
Em abril, durante a campanha presidencial, Uribe saiu ileso de um ataque a bomba contra sua comitiva, no qual morreram quatro pessoas.
Uribe havia declarado que admitiria negociar um processo de paz com os paramilitares, desde que eles deixassem de praticar atos violentos. Ele recebeu o apoio dos paramilitares durante a campanha.

Novas mortes
Ontem, durante a tarde, seis militares e seis civis, entre eles três crianças, ficaram feridos em atentados a bomba realizados nos estados de Nariño, na região sudoeste do país, e Arauca, na região noroeste. As autoridades atribuem os atentados às Farc.
Pela manhã, quatro militares ficaram feridos após a explosão de uma bomba na periferia da cidade de Pasto, no sul do país, onde Uribe participava de reunião com autoridades locais e líderes comunitários.
Cerca de vinte paramilitares de ultradireita foram mortos pelo Exército da Colômbia durante os combates que acontecem na região noroeste do estado da Antioquia.

Conflito
As Farc vêm intensificando sua ofensiva desde o começo do ano, quando o então presidente Andrés Pastrana rompeu o processo de paz iniciado em 1998, por causa de um sequestro de um senador pela guerrilha.
Nos últimos dias, combates entre membros das Farc e do ELN (Exército de Libertação Nacional), segunda guerrilha do país, contra paramilitares de direita, no norte, já deixaram mais de cem mortos, segundo o comandante da 2ª Divisão do Exército.
A área dos conflitos era tradicionalmente controlada pelas Farc e pela ELN. Com as tentativas de paramilitares de tomarem a região, esses conflitos aumentaram. A guerra civil no país dura quatro décadas e vem deixando cerca de 3.500 mortos ao ano.


Com agências internacionais


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