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São Paulo, segunda-feira, 11 de agosto de 2003

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ÁFRICA

Anúncio foi feito em rede de TV para todo o país; vice deve assumir o cargo e pretende chamar rebeldes para negociar

Taylor diz que deixa o poder na Libéria hoje

Associated Press
Liberiano ouve no rádio o anúncio da renúncia de Taylor


DA REDAÇÃO

O presidente da Libéria (oeste da África), Charles Taylor, disse ontem que deixaria o poder hoje. Afirmou que está sendo forçado a ir para o exílio. Sua saída ocorre em meio a pressões dos Estados Unidos, da ONU e de países africanos que buscam colocar um fim aos 14 anos de guerra civil. O anúncio foi feito em rede de TV para todo o país.
Sua situação ficou insustentável nos últimos meses, com o agravamento do conflito interno e o isolamento internacional. Ele já ameaçou renunciar e voltou atrás uma série de vezes. Ontem, foi a primeira vez que a renúncia foi anunciada formalmente.
Pelo menos 2.000 pessoas morreram desde junho na luta entre rebeldes e forças leais a Taylor para controlar Monróvia (capital).
Forças de paz internacionais, lideradas pela Nigéria, chegaram ao país para tentar conter a violência. O apoio interno a Taylor diminuiu. Forças rebeldes assumiram o controle de pontos estratégicos da capital e de outras regiões do país.
Em junho, Taylor foi indiciado por uma corte da ONU por crimes contra a humanidade. É acusado de ter "grande responsabilidade" na violenta ação de rebeldes na vizinha Serra Leoa.
Hoje o presidente deve entregar o cargo ao seu vice, Moses Blah. Não está definido quando Taylor deixará a Libéria, provavelmente rumo à Nigéria. O embaixador da África do Sul em Monróvia afirmou que a saída deve ocorrer logo após a entrega do poder hoje.
"Não posso mais ver vocês [liberianos] sofrendo. O sofrimento já foi o bastante. Vocês têm sido pessoas boas. Amo vocês do fundo do meu coração", disse Taylor.
E acrescentou: "Amo muito este país. É por isso que decidi sacrificar a minha Presidência. Quando vejo as pessoas morrendo, acho melhor parar de lutar. Vou parar porque, acima de tudo, vocês, o povo, é que contam."
O presidente finalizou o seu discurso dizendo: "Se Deus quiser, eu voltarei". Ele não confirmou oficialmente que vá para a Nigéria, embora o tenha feito às forças de paz. E aproveitou o discurso para criticar o presidente dos EUA, George W. Bush, a quem acusa de forçá-lo a deixar o poder.
"A solução para o problema da Libéria não pode se dar por meio de uma exigência do presidente dos EUA para que o presidente da Libéria vá embora", disse. "Desafio Bush a fazer alguma coisa pelo nosso povo. Se ele pode gastar US$ 100 bilhões no Iraque, por que não gasta um pouco aqui?". Taylor pediu que os EUA concedam cerca de US$ 3 bilhões em ajuda à Libéria. Os EUA têm tropas de prontidão em navios militares ancorados na costa do país.
Bush, assim como outros países africanos, exige que Taylor deixe o cargo para que seu vice assuma. A partir daí, seria feita uma negociação com os rebeldes para que a violência seja interrompida.
O vice-presidente Blah disse que convidaria lideranças do grupo rebelde Lurd (Liberianos Unidos pela Reconciliação e pela Democracia) para conversações assim que assumir. E prometeu acabar com a crise humanitária do país. "Acabou. Devemos baixar as armas e fumar o cachimbo da paz", disse Blah.
Porém um porta-voz militar do Lurd disse que o grupo não pretendia reconhecer a liderança de Blah. "Mas no momento pouco podemos fazer", afirmou.
Ontem, o clima na cidade era de calma. Não foram escutados tiros. Em algumas pontes em que até a semana passada ocorriam os principais confrontos, forças leais a Taylor e rebeldes conversavam e até trocavam cigarros. Muitos soldados leais a Taylor diziam que não lutariam mesmo se seus comandantes mandassem.
Com agências internacionais

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