São Paulo, segunda-feira, 11 de agosto de 2008

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Cheney defende resposta contra ação russa

Vice-presidente dos EUA sobe o tom contra o Kremlin, ao qual os EUA acusam de tentar derrubar governo da Geórgia

Moscou nega tentativa de desestabilização; aliado de Washington, presidente Saakashvili iniciou conflito ao invadir a Ossétia do Sul

DA REDAÇÃO

O vice-presidente americano, Dick Cheney, afirmou ontem que "a agressão russa não pode ficar sem resposta" e advertiu para o risco de prejuízo à relação entre os ex-rivais da Guerra Fria. Horas antes, os EUA haviam acusado a Rússia, em debate na ONU, de querer derrubar o presidente pró-ocidental da Geórgia, Mikhail Saakashvili. Moscou negou.
"O vice-presidente expressou a solidariedade dos EUA com o povo georgiano [...] ante a ameaça à soberania e à integridade territorial da Geórgia", diz comunicado do gabinete do vice. Cheney permaneceu nos EUA enquanto o presidente George W. Bush viajou a Pequim para a Olimpíada.
Ex-república soviética, a Geórgia é aliada aos EUA e uma peça importante no jogo de influências na região. O texto do gabinete diz que, em telefonema a Saakashvili, Cheney disse que "a agressão russa não pode ficar sem resposta".
Washington já havia dado uma série de manifestações de apoio a Tbilisi, mas nenhuma tão estridente. Foi Saakashvili que detonou o conflito ao ordenar que suas tropas invadissem a Ossétia do Sul, na última sexta, e romper um cessar-fogo de 16 anos. O ataque forniu a Rússia de argumentos para uma ação militar. A região separatista georgiana é autônoma desde 1992 e conta com uma força de paz majoritariamente russa.

Bate-boca na ONU
A temperatura retórica já ganhara muitos graus mais cedo com os embaixadores Zalmay Khalilzad (americano) e Vitaly Churkin (russo) durante a quarta -e infrutífera- reunião do Conselho de Segurança da ONU sobre o conflito.
Ao ter seu país acusado de tentar desestabilizar o governo em Tbilisi, Churkin rebateu que "mudança de regime é uma invenção americana", que a ação militar é apenas "autodefesa", e disse ainda que o "secretariado-geral da ONU não está apto para tomar uma posição objetiva sobre o conflito". Já Khalilzad chamou o ataque russo a alvos militares georgianos de "agressão" e a reação de Moscou de "desproporcional".
Foram as mesmas expressões usadas depois por Bush em entrevista a uma TV americana desde Pequim, na qual disse ter sido "muito firme" em conversa com o premiê russo, Vladimir Putin: "Manifestei minha grave preocupação sobre a resposta desproporcional da Rússia e disse que condenamos fortemente bombardeios fora da Ossétia do Sul".
A acusação de que Moscou quer derrubar Saakashvili tem base em diálogo telefônico entre a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, e seu homólogo russo, Serguei Lavrov. Nele, segundo versão vazada por diplomatas americanos, Lavrov dissera que Saakashvili "precisa ser afastado".
É informação que faz sentido ante o diálogo de surdos em torno de um cessar-fogo entre os russos e os georgianos.
O presidente russo, Dmitri Medvedev, afirmou que a Geórgia deve "se retirar sem condições" da Ossétia do Sul e assinar um acordo formal de não-agressão à região. Por sua vez, Tbilisi quer não só o recuo das tropas de Moscou, mas também convencer que a Rússia não pode ter uma missão de paz nessa área -o que levaria à substituição desses contingentes por tropas internacionais.
O Departamento de Estado dos EUA trabalha em projeto de resolução na ONU que condena a truculência russa e poupa a Geórgia. A idéia era manter o texto na mídia até amanhã, sabendo que o Kremlin o vetaria. O ganho seria psicológico: pressionar o governo russo e transformá-lo em agressor.
A proposta americana pode ser fundida à da União Européia, que prevê cessar-fogo, preservação da integridade territorial da Geórgia e o recuo de todas as forças às posições pré-conflito. A França, presidente de turno do bloco, enviou seu chanceler a Tbilisi. E o presidente Nicolas Sarkozy deve ir nesta semana a Moscou.


Com agências internacionais


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