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Cheney defende resposta contra ação russa
Vice-presidente dos EUA sobe o tom contra o Kremlin, ao qual os EUA acusam de tentar derrubar governo da Geórgia
Moscou nega tentativa de desestabilização; aliado de Washington, presidente Saakashvili iniciou conflito ao invadir a Ossétia do Sul
DA REDAÇÃO
O vice-presidente americano, Dick Cheney, afirmou ontem que "a agressão russa não
pode ficar sem resposta" e advertiu para o risco de prejuízo à
relação entre os ex-rivais da
Guerra Fria. Horas antes, os
EUA haviam acusado a Rússia,
em debate na ONU, de querer
derrubar o presidente pró-ocidental da Geórgia, Mikhail Saakashvili. Moscou negou.
"O vice-presidente expressou a solidariedade dos EUA
com o povo georgiano [...] ante
a ameaça à soberania e à integridade territorial da Geórgia",
diz comunicado do gabinete do
vice. Cheney permaneceu nos
EUA enquanto o presidente
George W. Bush viajou a Pequim para a Olimpíada.
Ex-república soviética, a
Geórgia é aliada aos EUA e uma
peça importante no jogo de influências na região. O texto do
gabinete diz que, em telefonema a Saakashvili, Cheney disse
que "a agressão russa não pode
ficar sem resposta".
Washington já havia dado
uma série de manifestações de
apoio a Tbilisi, mas nenhuma
tão estridente. Foi Saakashvili
que detonou o conflito ao ordenar que suas tropas invadissem
a Ossétia do Sul, na última sexta, e romper um cessar-fogo de
16 anos. O ataque forniu a Rússia de argumentos para uma
ação militar. A região separatista georgiana é autônoma desde
1992 e conta com uma força de
paz majoritariamente russa.
Bate-boca na ONU
A temperatura retórica já ganhara muitos graus mais cedo
com os embaixadores Zalmay
Khalilzad (americano) e Vitaly
Churkin (russo) durante a
quarta -e infrutífera- reunião
do Conselho de Segurança da
ONU sobre o conflito.
Ao ter seu país acusado de
tentar desestabilizar o governo
em Tbilisi, Churkin rebateu
que "mudança de regime é uma
invenção americana", que a
ação militar é apenas "autodefesa", e disse ainda que o "secretariado-geral da ONU não
está apto para tomar uma posição objetiva sobre o conflito".
Já Khalilzad chamou o ataque
russo a alvos militares georgianos de "agressão" e a reação de
Moscou de "desproporcional".
Foram as mesmas expressões usadas depois por Bush
em entrevista a uma TV americana desde Pequim, na qual
disse ter sido "muito firme" em
conversa com o premiê russo,
Vladimir Putin: "Manifestei
minha grave preocupação sobre a resposta desproporcional
da Rússia e disse que condenamos fortemente bombardeios
fora da Ossétia do Sul".
A acusação de que Moscou
quer derrubar Saakashvili tem
base em diálogo telefônico entre a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, e seu
homólogo russo, Serguei Lavrov. Nele, segundo versão vazada por diplomatas americanos, Lavrov dissera que Saakashvili "precisa ser afastado".
É informação que faz sentido
ante o diálogo de surdos em
torno de um cessar-fogo entre
os russos e os georgianos.
O presidente russo, Dmitri
Medvedev, afirmou que a Geórgia deve "se retirar sem condições" da Ossétia do Sul e assinar um acordo formal de não-agressão à região. Por sua vez,
Tbilisi quer não só o recuo das
tropas de Moscou, mas também convencer que a Rússia
não pode ter uma missão de paz
nessa área -o que levaria à
substituição desses contingentes por tropas internacionais.
O Departamento de Estado
dos EUA trabalha em projeto
de resolução na ONU que condena a truculência russa e poupa a Geórgia. A idéia era manter
o texto na mídia até amanhã,
sabendo que o Kremlin o vetaria. O ganho seria psicológico:
pressionar o governo russo e
transformá-lo em agressor.
A proposta americana pode
ser fundida à da União Européia, que prevê cessar-fogo,
preservação da integridade territorial da Geórgia e o recuo de
todas as forças às posições pré-conflito. A França, presidente
de turno do bloco, enviou seu
chanceler a Tbilisi. E o presidente Nicolas Sarkozy deve ir
nesta semana a Moscou.
Com agências internacionais
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