São Paulo, terça-feira, 11 de agosto de 2009

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Área tribal do Paquistão é crucial em guerra

Combate entre Exército e militantes do Taleban, que recrudesceu nos últimos meses, já deixou 15 mil mortos desde 2004

Três meses após extremistas se aproximarem da capital, Islamabad canta vitória contra insurgentes graças a forte militarização de região

IGOR GIELOW
ENVIADO ESPECIAL AO PAQUISTÃO

A "guerra de Obama", como propagandistas ocidentais gostam de chamar prioridade dada pelo presidente americano para a região tribal entre Paquistão e Afeganistão, vem sendo lutada há pelo menos um ano em lugares como Nawagai.
Essa pequena vila de 200 habitantes tem uma das principais bases militares da agência tribal de Bajaur, que conta com 600 mil habitantes. Cerca de cem soldados da região morreram em um ano de operações, a maioria de abril para cá. Na quinta passada, pela primeira vez em semanas, não houve registro de conflitos por lá.
Pequenas histórias como essas e outras mais bombásticas, como a anunciada morte do líder do Taleban Baitullah Mehsud na semana passada, levaram o Paquistão a se posicionar como parte do solução, e não só do problema, para Barack Obama e o resto do mundo.
Políticos paquistaneses gostam de lembrar que as operações nas áreas tribais começaram em 2004 e já custaram a vida de 2.500 soldados, 5.000 civis e 7.500 militantes. Mas o movimento nos últimos meses não tem precedente.
"Fizemos nossa parte. Precisamos agora que entendam melhor nossos problemas e nos ajudem", diz o porta-voz das Forças Armadas, general Athar Abbas.
Ele pode estar certo, mas uma viagem pelas áreas tribais paquistanesas mostra muito mais dúvidas do que certezas sobre a afirmação. A Folha percorreu quatro áreas tribais distintas na última semana, buscando no relato de militares e moradores pistas sobre a realidade atrás do otimismo oficial em Islamabad.
Primeiro, as boas notícias. Do ponto de vista militar, os grupos que se reúnem sob o guarda-chuva do Taleban paquistanês parecem acuados depois de experimentar vantagens táticas.
As regiões tribais têm 25 milhões de pessoas. Até agosto de 2008, quando a atual operação militar começou, havia 80 mil homens de uma força paramilitar chamada Frontier Corps.
Calçados normalmente com sandálias, esses soldados não eram páreo para os bem armados militantes islâmicos que recebiam ajuda logística tanto do santuário terrorista do Waziristão do Sul, de Mehsud, quanto do Afeganistão, a poucos quilômetros dali.
Aos poucos, cerca de 40 mil homens do Exército regular se uniram a eles. "Os combates foram muito violentos no começo, e isso assustou o governo", diz Javed Baloch, capitão do Exército que ajudou a furar o cerco do Taleban a Nawagai.
Com efeito, os anciãos das vilas começaram a pedir que o governo federal negociasse uma acomodação com os militantes, como vinha ocorrendo desde o governo de Pervez Musharraf.

Lei islâmica
De uma vila em Dir chamada Kumbar Bazar, hoje parcialmente reduzida a ruínas, um clérigo chamado Sufi Muhammad começou a clamar pela instalação da sharia, a lei islâmica, em toda a região. Sua pregação encontrou eco nos vizinhos vale do Swat e distrito de Buner. Seu genro, mulá Fazlullah, era a ponte com o Taleban.
O governo cedeu. Fraco politicamente e buscando apoio popular, o governo do presidente Asif Ali Zardari ratificou o chamado acordo de Malakand no Parlamento em abril. "Eu vi que ia dar problema de cara. Como eles iam explicar para os soldados que era para parar de lutar? Os militantes do Taleban avisaram que tinham ganhado e que era para a gente obedecer. Eu obedeci", diz Muhammad Atab, morador de Kumbar.
"Muita gente fala sobre o Taleban forçando pessoas e comprando apoios. É verdade, mas também há a ausência de Estado. O morador da vila não tem educação, vai na madrassa (escola religiosa). Não tem hospital, vai na madrassa. E as madrassas da região são francamente pró-Taleban. Isso ajudou a criar um caldo para os militantes", diz Abid Suleri, diretor do Instituto de Política de Desenvolvimento Sustentável.
O resto da história é sabido. O Taleban paquistanês e suas franquias começaram a atacar os chefes locais, a polícia e o Exército. A situação tornou-se insustentável, e uma grande operação militar começou em maio -quando o Taleban tomou Buner, a 100 km da capital do país, apavorando o mundo.
Hoje, três meses depois, o Exército canta vitória, e não há estrada principal das áreas tribais que não esteja guardada por militares ou, no caso das regiões mais tranquilas, por milicianos locais leais ao governo paquistanês.


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