|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Área tribal do Paquistão é crucial em guerra
Combate entre Exército e militantes do Taleban, que recrudesceu nos últimos meses, já deixou 15 mil mortos desde 2004
Três meses após extremistas
se aproximarem da capital, Islamabad canta vitória contra insurgentes graças a forte militarização de região
IGOR GIELOW
ENVIADO ESPECIAL AO PAQUISTÃO
A "guerra de Obama", como
propagandistas ocidentais gostam de chamar prioridade dada
pelo presidente americano para a região tribal entre Paquistão e Afeganistão, vem sendo
lutada há pelo menos um ano
em lugares como Nawagai.
Essa pequena vila de 200 habitantes tem uma das principais bases militares da agência
tribal de Bajaur, que conta com
600 mil habitantes. Cerca de
cem soldados da região morreram em um ano de operações, a
maioria de abril para cá. Na
quinta passada, pela primeira
vez em semanas, não houve registro de conflitos por lá.
Pequenas histórias como essas e outras mais bombásticas,
como a anunciada morte do líder do Taleban Baitullah Mehsud na semana passada, levaram o Paquistão a se posicionar
como parte do solução, e não só
do problema, para Barack Obama e o resto do mundo.
Políticos paquistaneses gostam de lembrar que as operações nas áreas tribais começaram em 2004 e já custaram a vida de 2.500 soldados, 5.000 civis e 7.500 militantes. Mas o
movimento nos últimos meses
não tem precedente.
"Fizemos nossa parte. Precisamos agora que entendam
melhor nossos problemas e nos
ajudem", diz o porta-voz das
Forças Armadas, general Athar
Abbas.
Ele pode estar certo, mas
uma viagem pelas áreas tribais
paquistanesas mostra muito
mais dúvidas do que certezas
sobre a afirmação. A Folha percorreu quatro áreas tribais distintas na última semana, buscando no relato de militares e
moradores pistas sobre a realidade atrás do otimismo oficial
em Islamabad.
Primeiro, as boas notícias.
Do ponto de vista militar, os
grupos que se reúnem sob o
guarda-chuva do Taleban paquistanês parecem acuados depois de experimentar vantagens táticas.
As regiões tribais têm 25 milhões de pessoas. Até agosto de
2008, quando a atual operação
militar começou, havia 80 mil
homens de uma força paramilitar chamada Frontier Corps.
Calçados normalmente com
sandálias, esses soldados não
eram páreo para os bem armados militantes islâmicos que
recebiam ajuda logística tanto
do santuário terrorista do Waziristão do Sul, de Mehsud,
quanto do Afeganistão, a poucos quilômetros dali.
Aos poucos, cerca de 40 mil
homens do Exército regular se
uniram a eles. "Os combates foram muito violentos no começo, e isso assustou o governo",
diz Javed Baloch, capitão do
Exército que ajudou a furar o
cerco do Taleban a Nawagai.
Com efeito, os anciãos das vilas começaram a pedir que o
governo federal negociasse
uma acomodação com os militantes, como vinha ocorrendo
desde o governo de Pervez
Musharraf.
Lei islâmica
De uma vila em Dir chamada
Kumbar Bazar, hoje parcialmente reduzida a ruínas, um
clérigo chamado Sufi Muhammad começou a clamar pela
instalação da sharia, a lei islâmica, em toda a região. Sua pregação encontrou eco nos vizinhos vale do Swat e distrito de
Buner. Seu genro, mulá Fazlullah, era a ponte com o Taleban.
O governo cedeu. Fraco politicamente e buscando apoio
popular, o governo do presidente Asif Ali Zardari ratificou
o chamado acordo de Malakand no Parlamento em abril.
"Eu vi que ia dar problema de
cara. Como eles iam explicar
para os soldados que era para
parar de lutar? Os militantes do
Taleban avisaram que tinham
ganhado e que era para a gente
obedecer. Eu obedeci", diz Muhammad Atab, morador de
Kumbar.
"Muita gente fala sobre o Taleban forçando pessoas e comprando apoios. É verdade, mas
também há a ausência de Estado. O morador da vila não tem
educação, vai na madrassa (escola religiosa). Não tem hospital, vai na madrassa. E as madrassas da região são francamente pró-Taleban. Isso ajudou a criar um caldo para os militantes", diz Abid Suleri, diretor do Instituto de Política de
Desenvolvimento Sustentável.
O resto da história é sabido. O
Taleban paquistanês e suas
franquias começaram a atacar
os chefes locais, a polícia e o
Exército. A situação tornou-se
insustentável, e uma grande
operação militar começou em
maio -quando o Taleban tomou Buner, a 100 km da capital
do país, apavorando o mundo.
Hoje, três meses depois, o
Exército canta vitória, e não há
estrada principal das áreas tribais que não esteja guardada
por militares ou, no caso das regiões mais tranquilas, por milicianos locais leais ao governo
paquistanês.
Texto Anterior: Mortos por tufão e tempestade chegam a 57 Próximo Texto: Frases Índice
|