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AMÉRICA LATINA
Explosões e possibilidade de confrontos causam preocupação nos 30 anos da deposição de Allende, hoje
Tensão cerca aniversário do golpe chileno
CHICO DE GOIS
ENVIADO ESPECIAL A SANTIAGO
A capital do Chile viveu ontem
momentos de tensão por conta
dos 30 anos do golpe militar, lembrado hoje. Em frente ao palácio
de La Moneda, sede do governo federal, no centro de Santiago, um
pacote suspeito deixado aos pés de
uma estátua do ex-presidente Salvador Allende obrigou os carabineiros (polícia militar chilena) a
isolar a área.
Um robô foi utilizado para manipular o embrulho, pois temia-se
que se tratasse de uma bomba.
Quando aberto, descobriu-se que
a caixa continha apenas duas bíblias.
A operação foi realizada na parte
da manhã, no momento em que o
presidente Ricardo Lagos participava de uma cerimônia no salão
de audiências do Ministério do Interior onde foram pendurados
dois quadros -um em que Allende aparece na sacada do palácio,
em 4 de novembro de 1970, acenando para simpatizantes ao tomar posse, e outro do mesmo balcão destruído devido à artilharia
no dia do golpe. Lagos estava
acompanhado da viúva de Allende, Hortensia Bussi, e das filhas do
presidente, Isabel e Beatriz.
A tensão vivida ontem teve origem no dia anterior. Por volta das
22h de anteontem, uma bomba
explodiu na subprefeitura de Recoleta, causando danos à fachada,
à porta de entrada e quebrando janelas. Os carabineiros também desativaram outro artefato que havia
sido colocado próximo a um de
seus quartéis.
No município de Temuco, 672
quilômetros ao sul de Santiago,
outra bomba explodiu em frente a
uma rede de lojas de material de
construção.
A situação que, anualmente, leva
violência às ruas de Santiago no
dia 11 de setembro, complicou-se
ainda mais depois que o subprefeito de Recoleta, Gonzalo Cornejo, anunciou, durante a semana,
que iria fechar o cemitério geral no
domingo, quando acontece uma
manifestação de familiares de
mortos e desaparecidos políticos.
Cornejo justificou a medida afirmando que todos os anos há depredações no cemitério. Entidades
de direitos humanos ingressaram
com uma ação na Justiça para tentar derrubar o ato do subprefeito.
O julgamento deverá ocorrer hoje.
Ontem, uma ameaça anônima
dava conta de que haveria outra
bomba na subprefeitura de Recoleta. A polícia desocupou o prédio,
mas nada foi encontrado.
De qualquer forma, a segurança
nas ruas de Santiago foi redobrada. A Central de Informações dos
Carabineiros afirmou que está em
grau de alerta máximo. Cerca de
27 mil homens estarão nas ruas
principalmente hoje, 15 mil dos
quais somente em Santiago.
Os carabineiros também identificaram dez locais "mais temidos"
na cidade, onde, espera-se, devem
acontecer incidentes. A maioria
deles, segundo a polícia, tem um
passado de violência no dia 11,
além de ter uma população pobre
e com muitos jovens, motivos, segundo os carabineiros, para redobrar a atenção.
No ano passado, os distúrbios
causaram depredação de lojas e
deixaram vários feridos. Os manifestantes utilizaram coquetéis molotov e atiraram paus e pedras
contra os policiais, que revidaram
com balas de borracha, bombas de
efeito moral e gás lacrimogêneo,
além de caminhões que disparavam jatos de água.
Apesar de toda a tensão, comércio e faculdades devem funcionar
normalmente hoje. Algumas universidades, porém, como Diego
Portales e Santo Tomás, anunciaram que deverão encerrar o expediente às 15h. O comércio só fechará as portas se houver incidentes.
Entidades extremistas de esquerda, que devem participar de
manifestações de hoje, chegam a
ensinar a fabricar bombas caseiras
em sua página na internet.
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