São Paulo, domingo, 11 de setembro de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

País criticou cortejo ocidental ao Paquistão

DE BRASÍLIA

Em telegramas confidenciais, a Embaixada do Brasil em Islamabad fez duras ressalvas às visitas de "personalidades de diversas potências ocidentais" ao Paquistão, após o 11 de Setembro.
As mensagens do Itamaraty revelam um momento de rara franqueza da diplomacia brasileira no início da guerra ao terror, em 2001. Além de se posicionar de forma crítica às potências, a Embaixada do Brasil também afirmou que o então presidente paquistanês, o general Pervez Musharraf, estava "consciente da subordinação da ideologia às necessidades políticas".
"Os visitantes têm louvado a cooperação paquistanesa com a coalizão antiterror e prometido toda forma de apoio. Contudo, não se mostram capazes de esclarecer como serão conciliados os interesses divergentes, do Paquistão e de outros, na solução do problema afegan (sic)", escreveu o então embaixador brasileiro em Islamabad, Abelardo Arantes Jr.
Na lista de interesses divergentes citados pelo embaixador estavam, por exemplo, o contencioso entre Paquistão e Índia, ambos donos de arsenais atômicos, e a relação com rivais de Islamabad, como a Aliança do Norte.
Para a embaixada brasileira, o "cortejo de visitas de alto nível", como de representantes do Reino Unido, Japão e União Europeia, assegurava apenas o espírito anti-Taleban -naquele momento o movimento já era alvo dos ataques militares dos EUA no Afeganistão. Islamabad foi patrocinadora do Taleban até se alinhar aos americanos no ataque retaliatório aos 11 de Setembro.
Essa aproximação foi analisada em detalhes pela Embaixada do Brasil em Islamabad. "Washington mal se dá ao trabalho de disfarçar que obterá tudo o que quiser de Islamabad", afirmou Arantes Jr. num dos telegramas.
Em outra mensagem, pondera-se que Islamabad não tem mais ilusões sobre apoio permanente dos americanos. Destaca ainda a "mudança brusca" de agenda dos EUA transformando em prioridade o combate ao terrorismo e a caçada a Bin Laden. Em 2001, Musharraf se autoproclamou presidente, numa posse surpresa citada num dos textos como um "golpe dentro do golpe".
Os telegramas destacam as reações contrárias a Musharraf, após contato dos diplomatas brasileiros com cidadãos paquistaneses. "Entre as pessoas de condição mais modesta, a rejeição [...] é muito elevada. Essas pessoas acusam o presidente de abandonar o povo islâmico".


Texto Anterior: Documento mostra Taleban descontrolado
Próximo Texto: Íntegra: Telegramas oficiais podem ser lidos no site Folha.com
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.