São Paulo, Sábado, 11 de Setembro de 1999
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TIMOR LESTE
Órgão mantém "presença simbólica" no território; Annan acusa Indonésia de "crimes contra humanidade"
Sob tiros, ONU retira funcionários

das agências internacionais

Sob tiros disparados por paramilitares antiindependência, a maior parte dos funcionários da ONU deixou ontem Dili, capital de Timor Leste, buscando refúgio em Darwin, na Austrália.
A ONU, que deveria acompanhar a transição do território rumo à independência, justificou a retirada alegando falta de condições de segurança.
O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, disse ontem que Timor vive uma "anarquia". Declarou também que a Indonésia pode ser responsabilizada por "crimes contra a humanidade" se não agir rapidamente para pôr fim ao conflito timorense.
Em resposta à pressão internacional -reforçada anteontem com a suspensão da cooperação militar norte-americana e ameaças de retaliação econômica- Jacarta afirmou ontem que pode vir a aceitar a entrada de tropas internacionais em Timor.
O ministro da Defesa indonésio, general Wiranto, disse, porém, que "necessitamos de mais tempo para melhorar a situação" antes que isso ocorra.
O presidente dos EUA, Bill Clinton, criticou ontem a atuação do Exército indonésio. "Agora está claro que o Exército está ajudando e incitando a violência das milícias. Isso é inaceitável."
Uma delegação de cinco representantes do Conselho de Segurança da ONU deve visitar Dili hoje. Annan espera seu relatório, que deve ser entregue até terça-feira, para definir a política a ser adotada em relação a Timor.
Mais de 400 integrantes da Missão das Nações Unidas em Timor Leste (Unamet) deixaram ontem a ex-colônia portuguesa.
Cerca de 80 funcionários permaneceram no edifício da Unamet -onde ainda se encontravam ontem pelo menos mil refugiados timorenses- como "presença simbólica".
Os caminhões que transportaram os funcionários da Unamet foram alvo de tiros. Na véspera, o Exército da Indonésia havia dado garantias de que a saída seria feita em segurança, o que não ocorreu.
Paramilitares armados com granadas foram vistos ultrapassando o cordão de isolamento militar sem serem incomodados. Muitos roubaram veículos da Unamet, com os quais passearam pelas ruas de Dili.
A violência aumentou no fim-de-semana passado, após o anúncio da vitória da opção pela independência em plebiscito.
Paramilitares contrários à independência, com a conivência do Exército indonésio, lançaram ataques contra a população. Segundo a ONU, cerca de 200 mil pessoas já deixaram Timor Leste.
Não há estimativas confiáveis de número de mortos no território. Segundo José Ramos-Horta, um dos líderes do movimento pela independência de Timor e Prêmio Nobel da Paz de 1996, milhares de pessoas já morreram.
Segundo a agência humanitária católica Cafod, 20 mil pessoas já teriam morrido.


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