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TIMOR LESTE
Órgão mantém "presença simbólica" no território; Annan acusa Indonésia de "crimes contra humanidade"
Sob tiros, ONU retira funcionários
das agências internacionais
Sob tiros disparados por paramilitares antiindependência, a
maior parte dos funcionários da
ONU deixou ontem Dili, capital
de Timor Leste, buscando refúgio
em Darwin, na Austrália.
A ONU, que deveria acompanhar a transição do território rumo à independência, justificou a
retirada alegando falta de condições de segurança.
O secretário-geral da ONU, Kofi
Annan, disse ontem que Timor
vive uma "anarquia". Declarou
também que a Indonésia pode ser
responsabilizada por "crimes
contra a humanidade" se não agir
rapidamente para pôr fim ao conflito timorense.
Em resposta à pressão internacional -reforçada anteontem
com a suspensão da cooperação
militar norte-americana e ameaças de retaliação econômica- Jacarta afirmou ontem que pode vir
a aceitar a entrada de tropas internacionais em Timor.
O ministro da Defesa indonésio,
general Wiranto, disse, porém,
que "necessitamos de mais tempo
para melhorar a situação" antes
que isso ocorra.
O presidente dos EUA, Bill Clinton, criticou ontem a atuação do
Exército indonésio. "Agora está
claro que o Exército está ajudando e incitando a violência das milícias. Isso é inaceitável."
Uma delegação de cinco representantes do Conselho de Segurança da ONU deve visitar Dili
hoje. Annan espera seu relatório,
que deve ser entregue até terça-feira, para definir a política a ser
adotada em relação a Timor.
Mais de 400 integrantes da Missão das Nações Unidas em Timor
Leste (Unamet) deixaram ontem
a ex-colônia portuguesa.
Cerca de 80 funcionários permaneceram no edifício da Unamet -onde ainda se encontravam ontem pelo menos mil refugiados timorenses- como "presença simbólica".
Os caminhões que transportaram os funcionários da Unamet
foram alvo de tiros. Na véspera, o
Exército da Indonésia havia dado
garantias de que a saída seria feita
em segurança, o que não ocorreu.
Paramilitares armados com
granadas foram vistos ultrapassando o cordão de isolamento
militar sem serem incomodados.
Muitos roubaram veículos da
Unamet, com os quais passearam
pelas ruas de Dili.
A violência aumentou no fim-de-semana passado, após o
anúncio da vitória da opção pela
independência em plebiscito.
Paramilitares contrários à independência, com a conivência do
Exército indonésio, lançaram
ataques contra a população. Segundo a ONU, cerca de 200 mil
pessoas já deixaram Timor Leste.
Não há estimativas confiáveis
de número de mortos no território. Segundo José Ramos-Horta,
um dos líderes do movimento
pela independência de Timor e
Prêmio Nobel da Paz de 1996, milhares de pessoas já morreram.
Segundo a agência humanitária
católica Cafod, 20 mil pessoas já
teriam morrido.
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