|
Texto Anterior | Índice
DEPOIMENTO
'Minas são uma covardia', diz vítima
JOSÉLIA AGUIAR
da Redação
Aos 32 anos, o jornalista José Hamilton Ribeiro pisou numa mina e perdeu parte da perna esquerda. Era março de 1968, e ele fazia a cobertura da guerra do Vietnã (1964-1975) para a extinta revista "Realidade".
O acidente ocorreu quando acompanhava uma batida de soldados dos EUA numa aldeia de camponeses.
Durante 11 dias, Ribeiro passou por nove cirurgias em hospitais do Exército dos EUA em Saigon (capital). Com a carne exposta, teve de sustentar um peso de cerca de 3 kg, amarrado a sua perna por uma pequena corda -o recurso impedia que seus músculos se retraíssem.
Ribeiro viveu o que denomina de "ciclo terrível", que envolveu muita dor, injeções de morfina e enjôos. Ele precisou de mais três meses de tratamento nos EUA para completar a reabilitação.
"A guerra pode ser heróica, mas a mina é sempre covarde. O objetivo não é matar, mas amputar, destroçar, aleijar", diz Ribeiro, 62, hoje repórter do programa "Globo Rural", da Rede Globo.
Em 1995, Ribeiro retornou ao Vietnã para fazer uma reportagem sobre a guerra.
Ele conta que se impressionou com o número de pessoas mutiladas pelas minas, que continuam a fazer vítimas.
"As vítimas em geral são crianças pobres, de países pobres, que não têm como se reabilitar", diz. Segundo ele, a prótese de um perna custa cerca de US$ 10 mil.
Na última viagem ao Vietnã, ele conversou com uma ex-guerrilheira do regime vietnamita que venceu a guerra. "Ela tinha a perna amputada na mesma altura da minha e usava apenas uma muleta rústica. Sem tratamento, os músculos ficaram atrofiados."
A ex-guerrilheira, que vivia na zona rural, disse-lhe que só sobrevivia porque o pai ainda conseguia trabalhar.
Texto Anterior | Índice
|