São Paulo, sexta-feira, 11 de outubro de 2002

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GUERRA À VISTA

Bush diz que Legislativo americano "manifestou-se claramente" à ONU; aprovação no Senado era provável ontem

Câmara dos EUA autoriza ataque ao Iraque

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

A Câmara dos Representantes (deputados) americana autorizou ontem o presidente George W. Bush a usar a força militar contra o ditador Saddam Hussein, deixando os EUA mais próximos de um ataque ao Iraque.
Em discurso, Bush disse que a votação é "algo de que todos os americanos podem se orgulhar". Segundo o presidente americano, "a Câmara manifestou-se claramente ao mundo e ao Conselho de Segurança (CS) da ONU. A ameaça iraquiana deve ser enfrentada total e finalmente".
No final da tarde de ontem, o Senado estava pronto para aprovar o mesmo texto. O líder democrata na Casa, Tom Daschle, principal opositor de Bush no atual cenário político, anunciou que votaria a favor. A aprovação no Senado tornará o CS da ONU o último obstáculo ao ataque -a França, a Rússia e a China já se disseram contra o uso imediato da força.
Ao superar as divisões internas, a Casa Branca tem mais um instrumento para extrair do Conselho de Segurança uma decisão que estabeleça o emprego automático da força se o Iraque não cumprir resoluções da ONU autorizando inspeções e a erradicação de armas de destruição em massa.
Em setembro, em tom de ultimato, Bush disse na ONU que, se a entidade não agisse de imediato contra o Iraque, os EUA agiriam sozinhos. A autorização da Câmara viabiliza esse ultimato, embora o objetivo maior da Casa Branca seja convencer o CS. Há três semanas, o secretário da Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, pediu aos parlamentares que se antecipassem ao CS alegando que "atrasar a votação no Congresso daria a impressão de que os EUA não estão preparados para um ataque logo quando pedimos uma ação à comunidade internacional."
O senador Daschle, que não se manifestara sobre a resolução até ontem, passou a apoiá-la depois que seu partido obteve de Bush o compromisso de explicar, antes ou até 48 horas depois de um eventual ataque, por que esforços diplomáticos não puderam ser usados para evitar o conflito.
Os democratas têm maioria de um voto no Senado. A Câmara é controlada pelos republicanos. Em três semanas, haverá eleições para as duas Casas.
A parte central da resolução aprovada ontem permite a Bush usar a força militar para "defender a segurança nacional dos EUA contra a ameaça contínua representada pelo Iraque, [e] executar toda resolução relevante do CS da ONU sobre o Iraque".
Ao menos formalmente, a autorização não se limita ao uso da força para erradicar armas de destruição em massa. Ao mencionar a defesa dos EUA contra a "ameaça contínua" de Saddam, abre caminho para a mudança de regime no Iraque, segundo vários parlamentares republicanos.
A Câmara aprovou a resolução por 296 votos a 133. Embora a maioria (126 dos 208) dos democratas tenha votado contra, a margem de apoio a Bush foi maior que a de seu pai, George Bush, na Guerra do Golfo (1991). Naquela ocasião, a Câmara deu seu aval por 250 votos contra 183.
A resolução da Câmara exige do presidente que ele preste contas ao Congresso a cada 60 dias, caso o governo decida atacar o Iraque.
Democratas e republicanos viram na resolução mensagens distintas. Para os democratas, o texto final representou a vitória da diplomacia. "Acredito que a resolução incorpore a idéia central de que queremos dar à diplomacia as maiores chances de solucionar esse conflito, mas estamos preparados para tomar mais providências, se necessário, para proteger nossa nação", disse o líder democrata Richard Gephardt.
Já os republicanos enxergaram no mesmo texto um sinal verde para a remoção de Saddam do poder. "Se você vai conduzir uma guerra contra o terrorismo, precisa impedir o avanço de uma pessoa que pode armar os terroristas com as coisas que mais nos apavoram", disse o líder republicano na Câmara, Richard Armey.
A resolução enviada por Bush ao Congresso pedia autorização para um ataque não expressamente limitado. Por pressão democrata, o texto foi alterado.


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