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GUERRA À VISTA
Bush diz que Legislativo americano "manifestou-se claramente" à ONU; aprovação no Senado era provável ontem
Câmara dos EUA autoriza ataque ao Iraque
MARCIO AITH
DE WASHINGTON
A Câmara dos Representantes
(deputados) americana autorizou
ontem o presidente George W.
Bush a usar a força militar contra
o ditador Saddam Hussein, deixando os EUA mais próximos de
um ataque ao Iraque.
Em discurso, Bush disse que a
votação é "algo de que todos os
americanos podem se orgulhar".
Segundo o presidente americano,
"a Câmara manifestou-se claramente ao mundo e ao Conselho
de Segurança (CS) da ONU. A
ameaça iraquiana deve ser enfrentada total e finalmente".
No final da tarde de ontem, o
Senado estava pronto para aprovar o mesmo texto. O líder democrata na Casa, Tom Daschle, principal opositor de Bush no atual cenário político, anunciou que votaria a favor. A aprovação no Senado tornará o CS da ONU o último
obstáculo ao ataque -a França, a
Rússia e a China já se disseram
contra o uso imediato da força.
Ao superar as divisões internas,
a Casa Branca tem mais um instrumento para extrair do Conselho de Segurança uma decisão
que estabeleça o emprego automático da força se o Iraque não
cumprir resoluções da ONU autorizando inspeções e a erradicação
de armas de destruição em massa.
Em setembro, em tom de ultimato, Bush disse na ONU que, se
a entidade não agisse de imediato
contra o Iraque, os EUA agiriam
sozinhos. A autorização da Câmara viabiliza esse ultimato, embora
o objetivo maior da Casa Branca
seja convencer o CS. Há três semanas, o secretário da Defesa dos
EUA, Donald Rumsfeld, pediu
aos parlamentares que se antecipassem ao CS alegando que "atrasar a votação no Congresso daria
a impressão de que os EUA não
estão preparados para um ataque
logo quando pedimos uma ação à
comunidade internacional."
O senador Daschle, que não se
manifestara sobre a resolução até
ontem, passou a apoiá-la depois
que seu partido obteve de Bush o
compromisso de explicar, antes
ou até 48 horas depois de um
eventual ataque, por que esforços
diplomáticos não puderam ser
usados para evitar o conflito.
Os democratas têm maioria de
um voto no Senado. A Câmara é
controlada pelos republicanos.
Em três semanas, haverá eleições
para as duas Casas.
A parte central da resolução
aprovada ontem permite a Bush
usar a força militar para "defender a segurança nacional dos EUA
contra a ameaça contínua representada pelo Iraque, [e] executar
toda resolução relevante do CS da
ONU sobre o Iraque".
Ao menos formalmente, a autorização não se limita ao uso da
força para erradicar armas de destruição em massa. Ao mencionar
a defesa dos EUA contra a "ameaça contínua" de Saddam, abre caminho para a mudança de regime
no Iraque, segundo vários parlamentares republicanos.
A Câmara aprovou a resolução
por 296 votos a 133. Embora a
maioria (126 dos 208) dos democratas tenha votado contra, a
margem de apoio a Bush foi
maior que a de seu pai, George
Bush, na Guerra do Golfo (1991).
Naquela ocasião, a Câmara deu
seu aval por 250 votos contra 183.
A resolução da Câmara exige do
presidente que ele preste contas
ao Congresso a cada 60 dias, caso
o governo decida atacar o Iraque.
Democratas e republicanos viram na resolução mensagens distintas. Para os democratas, o texto
final representou a vitória da diplomacia. "Acredito que a resolução incorpore a idéia central de
que queremos dar à diplomacia as
maiores chances de solucionar esse conflito, mas estamos preparados para tomar mais providências, se necessário, para proteger
nossa nação", disse o líder democrata Richard Gephardt.
Já os republicanos enxergaram
no mesmo texto um sinal verde
para a remoção de Saddam do poder. "Se você vai conduzir uma
guerra contra o terrorismo, precisa impedir o avanço de uma pessoa que pode armar os terroristas
com as coisas que mais nos apavoram", disse o líder republicano
na Câmara, Richard Armey.
A resolução enviada por Bush
ao Congresso pedia autorização
para um ataque não expressamente limitado. Por pressão democrata, o texto foi alterado.
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