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ALEMANHA
Democrata-cristã será a primeira mulher na chefia do governo alemão, mas grande coalizão enfraquece seu mandato
Acordo leva Merkel à Chancelaria alemã
NOAH BARKIN
DA REUTERS, EM BERLIM
A conservadora Angela Merkel
será a primeira mulher a ocupar a
Chancelaria alemã, como parte de
um acordo anunciado ontem, pelo qual Gerhard Schröder se afasta
da chefia do governo, mas seu
partido continua influente na elaboração das políticas.
A nova coalizão entre o SPD, de
Schröder, e a CDU, de Merkel,
rompe o impasse criado em 18 de
setembro, quando Merkel, aliada
à CSU, da Baviera, obteve a maioria dos votos, mas por margem
insuficiente para formar um governo ao lado dos liberais do FDP.
Merkel defende uma sacudida
na economia, com reformas na legislação trabalhista e no sistema
tributário. Mas governará ao lado
dos social-democratas, que resistem às reformas e tudo farão para
que os planos dela fracassem.
O SPD, de Schröder, ficará com
ministérios importantes, como os
das Relações Exteriores, das Finanças, da Justiça e do Trabalho.
A CDU/CSU ficará com as pastas da Economia, do Interior e da
Defesa. Exceto o caso de Edmund
Stoiber, líder da CSU, no Ministério da Economia e Tecnologia, os
demais integrantes do governo
serão conhecidos só nos próximos dias ou semanas.
"Não há dúvidas de que o programa de Merkel não será integralmente implantado", disse Katinka Barysch, do Centro Europeu
para a Reforma. "Quando se vê o
esboço da composição do gabinete, evidencia-se a habilidade que
se exigirá dela [Merkel] para que
o governo não se despedace."
Será a segunda grande coalizão
na Alemanha desde a Segunda
Guerra. É um modelo que especialistas temem que possa entrar
em colapso a curto ou a médio
prazos, estimulando o crescimento de pequenos partidos hoje numericamente desimportantes.
"Estou feliz, mas sei que muito
trabalho duro nos espera pela
frente", declarou ontem aos repórteres uma Merkel contida.
Os dois partidos rivais iniciaram ontem mesmo as negociações e deverão escolher todos os
ministros por volta do dia 12, disse Merkel.
Schröder, que de início não
abria mão da Chancelaria -em
que ficou por sete anos-, participará das negociações, mas sem
planos de participar do gabinete.
O presidente do SPD, Franz
Müntefering, salientou que estava
desapontado por Schröder ter sido forçado a deixar a Chancelaria
para que os social-democratas
pudessem participar de um governo liderado por Merkel.
Em sua campanha, Merkel propôs flexibilizar as regras de dispensa de empregados e cortar os
custos da mão-de-obra como forma de permitir que a economia
alemã deixe de apresentar uma
das menores taxas de crescimento
da União Européia.
Mas, ainda ontem, surgiram indícios de que Merkel se dispunha
a fazer concessões para assegurar
a chefia do governo. Informantes
social-democratas disseram que
os sindicatos manteriam o direito
de negociar seus dissídios setoriais, mecanismo ao qual Merkel
se opunha. Não está claro se o
SPD apoiará o plano de aumentar
impostos para compensar a queda dos custos trabalhistas.
O euro e as ações alemãs recuaram depois do início do pregão,
pois os investidores põem em dúvida a capacidade de a coalizão
realizar as reformas econômicas.
Quanto à política externa, campo em que as divergências entre
os dois grandes partidos são mais
sutis, analistas acreditam que o
SPD não vá conseguir impor suas
posições, apesar de indicar o novo
ministro da área.
Os dois partidos divergem sobre o ingresso da Turquia na
União Européia. Schröder defendeu a candidatura turca, enquanto Merkel é apenas a favor de uma
"associação privilegiada".
Merkel quer melhorar as relações da Alemanha com Washington, enfraquecidas depois da oposição de Schröder à Guerra do Iraque, e ser mais enérgica com a
França e com a Rússia.
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