São Paulo, terça-feira, 11 de outubro de 2005

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ALEMANHA

Democrata-cristã será a primeira mulher na chefia do governo alemão, mas grande coalizão enfraquece seu mandato

Acordo leva Merkel à Chancelaria alemã

NOAH BARKIN
DA REUTERS, EM BERLIM

A conservadora Angela Merkel será a primeira mulher a ocupar a Chancelaria alemã, como parte de um acordo anunciado ontem, pelo qual Gerhard Schröder se afasta da chefia do governo, mas seu partido continua influente na elaboração das políticas.
A nova coalizão entre o SPD, de Schröder, e a CDU, de Merkel, rompe o impasse criado em 18 de setembro, quando Merkel, aliada à CSU, da Baviera, obteve a maioria dos votos, mas por margem insuficiente para formar um governo ao lado dos liberais do FDP.
Merkel defende uma sacudida na economia, com reformas na legislação trabalhista e no sistema tributário. Mas governará ao lado dos social-democratas, que resistem às reformas e tudo farão para que os planos dela fracassem.
O SPD, de Schröder, ficará com ministérios importantes, como os das Relações Exteriores, das Finanças, da Justiça e do Trabalho.
A CDU/CSU ficará com as pastas da Economia, do Interior e da Defesa. Exceto o caso de Edmund Stoiber, líder da CSU, no Ministério da Economia e Tecnologia, os demais integrantes do governo serão conhecidos só nos próximos dias ou semanas.
"Não há dúvidas de que o programa de Merkel não será integralmente implantado", disse Katinka Barysch, do Centro Europeu para a Reforma. "Quando se vê o esboço da composição do gabinete, evidencia-se a habilidade que se exigirá dela [Merkel] para que o governo não se despedace."
Será a segunda grande coalizão na Alemanha desde a Segunda Guerra. É um modelo que especialistas temem que possa entrar em colapso a curto ou a médio prazos, estimulando o crescimento de pequenos partidos hoje numericamente desimportantes.
"Estou feliz, mas sei que muito trabalho duro nos espera pela frente", declarou ontem aos repórteres uma Merkel contida.
Os dois partidos rivais iniciaram ontem mesmo as negociações e deverão escolher todos os ministros por volta do dia 12, disse Merkel.
Schröder, que de início não abria mão da Chancelaria -em que ficou por sete anos-, participará das negociações, mas sem planos de participar do gabinete.
O presidente do SPD, Franz Müntefering, salientou que estava desapontado por Schröder ter sido forçado a deixar a Chancelaria para que os social-democratas pudessem participar de um governo liderado por Merkel.
Em sua campanha, Merkel propôs flexibilizar as regras de dispensa de empregados e cortar os custos da mão-de-obra como forma de permitir que a economia alemã deixe de apresentar uma das menores taxas de crescimento da União Européia.
Mas, ainda ontem, surgiram indícios de que Merkel se dispunha a fazer concessões para assegurar a chefia do governo. Informantes social-democratas disseram que os sindicatos manteriam o direito de negociar seus dissídios setoriais, mecanismo ao qual Merkel se opunha. Não está claro se o SPD apoiará o plano de aumentar impostos para compensar a queda dos custos trabalhistas.
O euro e as ações alemãs recuaram depois do início do pregão, pois os investidores põem em dúvida a capacidade de a coalizão realizar as reformas econômicas.
Quanto à política externa, campo em que as divergências entre os dois grandes partidos são mais sutis, analistas acreditam que o SPD não vá conseguir impor suas posições, apesar de indicar o novo ministro da área.
Os dois partidos divergem sobre o ingresso da Turquia na União Européia. Schröder defendeu a candidatura turca, enquanto Merkel é apenas a favor de uma "associação privilegiada".
Merkel quer melhorar as relações da Alemanha com Washington, enfraquecidas depois da oposição de Schröder à Guerra do Iraque, e ser mais enérgica com a França e com a Rússia.


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