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Hondurenhos em Miami defendem golpe no país
JANAINA LAGE
ENVIADA ESPECIAL A MIAMI
"Prefiro perder dinheiro a
permitir que meu país não seja
livre", avalia Karen Bush-Neuspiel, 33, dona de uma
construtora em Tegucigalpa e
presidente da Aliança das Organizações de Honduras.
Moradora de Miami desde os
dez anos de idade, Neuspiel estava prestes a voltar para seu
país, mas se viu obrigada a mudar de planos quando o presidente Manuel Zelaya foi deposto. "A economia parou, ninguém compra apartamentos,
não há como construir nada."
O grupo político liderado por
Neuspiel foi fundado para
apoiar o governo interino. Até
então, sua atuação era ligada a
apoio a instituições de caridade. Mesmo sem nunca ter votado em Honduras, a empresária
diz que faz questão de comparecer às urnas no dia 29 de novembro, data mantida pelo governo de Roberto Micheletti
para as eleições presidenciais,
um pleito que corre o risco de
não ser reconhecido pela comunidade internacional.
Para Neuspiel, a mesma comunidade internacional falhou
ao não ouvir as reclamações
dos hondurenhos desde que
Zelaya começou a se aproximar
do presidente da Venezuela,
Hugo Chávez. Sobre um eventual acordo, afirma que o governo não pode concordar com a
volta de Zelaya, mesmo que seja em caráter simbólico.
"Quem vai garantir que ele ficará pouco tempo? E quando a
comunidade internacional instalar um ditador em nosso país,
quem vai nos ajudar depois?
Somos um país pobre, mas temos leis para respeitar", disse.
A organização envia diariamente pedidos de apoio a congressistas americanos. Os
membros já fizeram visitas a
republicanos e manifestações
em Washington. Neuspiel atribui o encontro de republicanos
com o governo interino à pressão diária de hondurenhos em
Washington.
A mesma estratégia é adotada pela Organização Hondurenha Francisco Morazán, liderada por Francisco Portillo, 54.
Desde que o Brasil acolheu Zelaya na embaixada, a organização já fez protestos em frente
ao consulado brasileiro em
Miami, carreata e missas contra a volta do deposto.
Portillo é ainda mais enfático
nas críticas ao governo brasileiro. "Lula interferiu demasiadamente nos assuntos de Honduras ao receber Zelaya. Isso
criou muitos problemas para o
povo hondurenho e praticamente um caos para o país."
Questionado sobre a atuação
do governo de Barack Obama,
que reconheceu ter havido um
golpe de Estado em Honduras,
abrandou as críticas. "Foi um
sinal de inexperiência da política externa de Obama. Eles deveriam ter estudado melhor a
situação antes de se pronunciar", afirmou.
Portillo vive nos EUA desde
1995. É um dos cerca de 70 mil
hondurenhos que residem na
Flórida -segundo ele, a parcela
mais articulada da comunidade
que mora no país, que chega a
1,5 milhão de pessoas, de acordo com dados da organização.
Na sede da entidade, uma casa pequena no meio de uma
avenida em Miami, Portillo recebeu a Folha em uma sala
com fotos do chão ao teto e
uma mesa com a bandeira de
Honduras pendurada. Atrás da
cadeira, uma foto enorme de
Francisco Morazán, considerado um dos mais importantes líderes militares da região. "O
general nos inspira com sua
atuação. Morreu com o sonho
de transformar os países da
América Central em um só."
Ele diz que a organização não
recebe recursos de partidos e
sobrevive por meio de serviços
como o de telemarketing. Apesar disso, aparentemente já
tem candidato: ao lado da porta, um cartaz imenso de Porfirio "Pepe" Lobo, do Partido
Nacional, indica a preferência.
Pepe Lobo é também o candidato de Iris Aguiar, 52, dona
de uma loja de roupas em Miami. "Só espero que não se torne
um mentiroso como Zelaya,
que foi eleito de um jeito e depois resolveu agir de outro. Um
presidente não tem de fazer escândalo para o resto do mundo,
e sim olhar pelo povo", disse.
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