São Paulo, domingo, 11 de outubro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Hondurenhos em Miami defendem golpe no país

JANAINA LAGE
ENVIADA ESPECIAL A MIAMI

"Prefiro perder dinheiro a permitir que meu país não seja livre", avalia Karen Bush-Neuspiel, 33, dona de uma construtora em Tegucigalpa e presidente da Aliança das Organizações de Honduras.
Moradora de Miami desde os dez anos de idade, Neuspiel estava prestes a voltar para seu país, mas se viu obrigada a mudar de planos quando o presidente Manuel Zelaya foi deposto. "A economia parou, ninguém compra apartamentos, não há como construir nada."
O grupo político liderado por Neuspiel foi fundado para apoiar o governo interino. Até então, sua atuação era ligada a apoio a instituições de caridade. Mesmo sem nunca ter votado em Honduras, a empresária diz que faz questão de comparecer às urnas no dia 29 de novembro, data mantida pelo governo de Roberto Micheletti para as eleições presidenciais, um pleito que corre o risco de não ser reconhecido pela comunidade internacional.
Para Neuspiel, a mesma comunidade internacional falhou ao não ouvir as reclamações dos hondurenhos desde que Zelaya começou a se aproximar do presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Sobre um eventual acordo, afirma que o governo não pode concordar com a volta de Zelaya, mesmo que seja em caráter simbólico.
"Quem vai garantir que ele ficará pouco tempo? E quando a comunidade internacional instalar um ditador em nosso país, quem vai nos ajudar depois? Somos um país pobre, mas temos leis para respeitar", disse.
A organização envia diariamente pedidos de apoio a congressistas americanos. Os membros já fizeram visitas a republicanos e manifestações em Washington. Neuspiel atribui o encontro de republicanos com o governo interino à pressão diária de hondurenhos em Washington.
A mesma estratégia é adotada pela Organização Hondurenha Francisco Morazán, liderada por Francisco Portillo, 54. Desde que o Brasil acolheu Zelaya na embaixada, a organização já fez protestos em frente ao consulado brasileiro em Miami, carreata e missas contra a volta do deposto.
Portillo é ainda mais enfático nas críticas ao governo brasileiro. "Lula interferiu demasiadamente nos assuntos de Honduras ao receber Zelaya. Isso criou muitos problemas para o povo hondurenho e praticamente um caos para o país."
Questionado sobre a atuação do governo de Barack Obama, que reconheceu ter havido um golpe de Estado em Honduras, abrandou as críticas. "Foi um sinal de inexperiência da política externa de Obama. Eles deveriam ter estudado melhor a situação antes de se pronunciar", afirmou.
Portillo vive nos EUA desde 1995. É um dos cerca de 70 mil hondurenhos que residem na Flórida -segundo ele, a parcela mais articulada da comunidade que mora no país, que chega a 1,5 milhão de pessoas, de acordo com dados da organização.
Na sede da entidade, uma casa pequena no meio de uma avenida em Miami, Portillo recebeu a Folha em uma sala com fotos do chão ao teto e uma mesa com a bandeira de Honduras pendurada. Atrás da cadeira, uma foto enorme de Francisco Morazán, considerado um dos mais importantes líderes militares da região. "O general nos inspira com sua atuação. Morreu com o sonho de transformar os países da América Central em um só."
Ele diz que a organização não recebe recursos de partidos e sobrevive por meio de serviços como o de telemarketing. Apesar disso, aparentemente já tem candidato: ao lado da porta, um cartaz imenso de Porfirio "Pepe" Lobo, do Partido Nacional, indica a preferência.
Pepe Lobo é também o candidato de Iris Aguiar, 52, dona de uma loja de roupas em Miami. "Só espero que não se torne um mentiroso como Zelaya, que foi eleito de um jeito e depois resolveu agir de outro. Um presidente não tem de fazer escândalo para o resto do mundo, e sim olhar pelo povo", disse.


Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Congresso aprova lei de mídia de Cristina
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.