São Paulo, terça-feira, 11 de outubro de 2011

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ANÁLISE

Estamos chegando ao fim da linha para resgates negociados

JAMES MEADWAY
DO "GUARDIAN"

Depois de mais de um ano de rejeição, a inevitabilidade de um calote grego parece ter sido aceita em toda a Europa. Os sucessivos resgates só serviram para adiar o dia do acerto de contas.
Os círculos oficiais vêm falando em perdas de até 50% para os credores. Há informações de que o FMI (Fundo Monetário Internacional) estaria pressionando outras agências internacionais a aceitar essa perspectiva.
Com a dívida grega chegando a 189% do PIB (Produto Interno Bruto) e o país mergulhado em recessão, não restam muitas opções. Uma dinâmica terrível foi criada. Dívidas imensas, que requerem pagamentos elevados de juros, sugam os recursos de outras atividades. À medida que a economia real encolhe, o peso real da dívida aumenta, o que faz com que a atividade econômica caia ainda mais.
Uma moratória não é necessariamente prejudicial a um país. As experiências dos últimos dez anos, embora não sejam uniformes, apontam na direção oposta: ao expurgar as más dívidas, uma economia pode abrir caminho para rápida recuperação.
Uma moratória negociada poderia, em tese, remover o veneno do sistema. A Grécia continuaria obrigada a seguir a austeridade requerida pelo FMI, pela União Europeia e pelo BCE (Banco Central Europeu), o que garantiria que suas dívidas remanescentes seriam mantidas em dia.
Enquanto isso, o mecanismo europeu de estabilidade financeira, inflado ao montante de US$ 2 trilhões, seria usado para acalmar o pânico nos mercados e auxiliar as instituições financeiras atingidas pela crise. E o euro já não viveria sob ameaça de desintegração. Mas, como ocorreu na Argentina em 2001, a tentativa de renegociar voluntariamente a dívida grega -o acordo de 21 de julho- na verdade resultou em aumento na carga real de dívidas do país.
Chegamos ao fim da linha para acordos voluntários e negociados. Mesmo a perda de 50% no valor de face pode não bastar para deter a espiral que arrasta a Grécia.
A consequência poderia ser o pior dos desfechos: o fracasso dos esquemas voluntários de renegociação seguido por calote extraoficial. A UE parece estar a caminho de enfrentar essa situação.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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