São Paulo, Quinta-feira, 11 de Novembro de 1999
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GUERRA NO CÁUCASO
Moscou não se pronuncia sobre oferta do presidente tchetcheno e continua a bombardear a região
Tchetchênia propõe acordo de paz

das agências internacionais

O presidente da Tchetchênia, Aslan Maskhadov, apresentou ontem à Rússia um plano de paz em que diz estar disposto a aceitar medidas para controlar a ação de grupos extremistas. Moscou não se pronunciou sobre a oferta e continuou a bombardear a região.
O comandante das forças russas na Tchetchênia, general Viktor Kazantsev, disse que a ofensiva continuará "até o fim".
A iniciativa de Maskhadov busca encerrar a guerra no Cáucaso no momento em que a chegada do inverno ameaça trazer mais dificuldades aos cerca de 200 mil refugiados que deixaram a Tchetchênia rumo à vizinha Inguchétia.
As primeiras tempestades de neve começaram a cair esta semana na região. Segundo o Acnur (Alto Comissariado da ONU para os Refugiados), cerca de 4.000 tchetchenos por dia continuam chegando à Inguchétia, fugindo das bombas russas.
A situação dos refugiados e a morte de dezenas de civis vêm levando o Ocidente a aumentar o tom das críticas à ação militar russa na Tchetchênia (leia abaixo).
O presidente Maskhadov pediu mais uma vez a intervenção internacional, para impedir "a eliminação do povo tchetcheno".
Sua proposta de paz contém quatro pontos: 1. adoção de medidas de segurança na fronteira russo-tchetchena; 2. abertura de processo contra suspeitos de terrorismo; 3. proibição de unidades militares ilegais; 4. criação de um grupo conjunto para evitar as atividades dessa milícias.
Não é a primeira vez que o líder da Tchetchênia tenta dialogar. O presidente russo, Boris Ieltsin, que conta com o apoio da opinião pública na atual ofensiva, tem ignorado seus chamados.
O candidato de Ieltsin à sucessão presidencial no próximo ano, o premiê russo, Vladimir Putin, teve sua popularidade aumentada desde o início da guerra.
Ieltsin também estaria sendo pressionado pelo Exército para continuar os ataques. Militares russos afirmaram à imprensa que não aceitarão interferência do governo para parar com a ofensiva.
Caças russos bombardearam ontem posições dos guerrilheiros no sul da Tchetchênia. Cerca de 30 missões foram realizadas em três vilarejos, segundo a agência de notícias russa "Interfax".
Segundo fontes tchetchenas, pelo menos 80 civis morreram nos ataques dos últimos três dias. A Rússia iniciou a atual ofensiva no final de setembro. Afirma que o objetivo é "eliminar" terroristas islâmicos, acusados por Moscou de uma série de atentados a bomba que mataram cerca de 300 pessoas no país este ano.
Os terroristas seriam, segundo o Kremlin, de grupos separatistas que tentam criar um Estado islâmico independente no Daguestão, outra região russa no Cáucaso. O governo tchetcheno nega estar apoiando os separatistas.
Apesar de formalmente ser uma região pertencente à Rússia, a Tchetchênia usufrui de uma autonomia de fato desde a guerra contra os russos (1994-96), que deixou cerca de 40 mil mortos.


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