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PÓS-CRISE ASIÁTICA
Economia volta a crescer, e Mahatir, há 18 anos no poder, aproveita para antecipar eleição
Premiê da Malásia joga cartada eleitoral
CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial
O primeiro-ministro Mahatir
Mohamad, da Malásia, deu ontem nova demonstração de sua
inclinação para a heterodoxia, ao
antecipar a dissolução do Parlamento e, por extensão, a convocação de eleições.
O pleito estava marcado para o
ano que vem, mas, agora, será
realizado antes do Ramadã, o mês
sagrado dos muçulmanos, que
começa dia 9.
O objetivo
óbvio do premiê, de 73
anos, 18 dos
quais no poder, é o de
aproveitar a
boa maré econômica do único país asiático
que, vítima da
crise de 97, não
trocou de governo.
Mahatir foi
também o único a adotar medidas heterodoxas
para combater a crise, entre elas a
introdução de controles de capitais, um anátema para o liberalismo predominante no planeta.
Apesar dos controles, a Malásia
recuperou-se e escapou da tragédia econômica anunciada pelos
analistas liberais.
Cresceu 4,1% no segundo trimestre do ano, o último para o
qual há dados disponíveis, e deve
crescer mais ainda no terceiro trimestre. É verdade que a recuperação se dá na comparação com um
ponto de partida catastrófico, como o foi a contração de 6,2%
ocorrida no ano passado.
O mais recente dado positivo é a
explosão do crescimento industrial em setembro (19%, comparado a setembro de 98), o mais alto em seis anos.
Tudo somado, há uma generalizada expectativa de que o partido
de Mahatir (Organização de Unidade Nacional Malasiana) conserve a maioria de dois terços que
tem hoje no Parlamento. O partido governa a Malásia desde a independência, em 1957, mas rachou em consequência da prisão
do suposto herdeiro político de
Mahatir, Anwar Ibrahim, que
cumpre pena de seis anos sob a
acusação de corrupção.
Anwar parece ter certo respaldo
entre os jovens, aparentemente
saturados do autoritarismo que
caracteriza o longo reinado de
Mahatir. A crise econômica asiática foi o estopim para o afastamento de outros líderes autocráticos, com destaque para Suharto,
que governava
a Indonésia
havia 32 anos,
ao cair no ano
passado.
Caíram também os governos da Coréia
do Sul (pela
primeira vez
foi eleito um
oposicionista)
e da Tailândia,
os três países
que, com a
Malásia, foram
os mais sacudidos pelo vendaval
financeiro de 1997.
Mahatir não obstante manteve
seu poder. O que está em discussão são as causas.
Há quem diga que o mérito é da
sua heterodoxia, ao impor controles de capitais que permitiram
à moeda local manter sua paridade com o dólar, ao contrário do
que ocorreu nos demais países.
Há também quem diga que a crise
foi superada não graças, mas apesar dos controles.
E, por fim, há quem diga que o
férreo domínio político exercido
pelo governo foi capaz de manter
a dissidência sob controle, ao jogar na cadeia o líder que poderia
catalisá-la, caso de Anwar Ibrahim, em controvertido processo.
Seja qual for o fator principal,
todos eles continuam pesando
decisivamente para a expectativa
generalizada de que Mahatir ganhará mais uma eleição e elevará
o número de anos que já faz dele
um dos mais antigos governantes
da Ásia.
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