São Paulo, Quinta-feira, 11 de Novembro de 1999
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PÓS-CRISE ASIÁTICA
Economia volta a crescer, e Mahatir, há 18 anos no poder, aproveita para antecipar eleição
Premiê da Malásia joga cartada eleitoral

CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial

O primeiro-ministro Mahatir Mohamad, da Malásia, deu ontem nova demonstração de sua inclinação para a heterodoxia, ao antecipar a dissolução do Parlamento e, por extensão, a convocação de eleições.
O pleito estava marcado para o ano que vem, mas, agora, será realizado antes do Ramadã, o mês sagrado dos muçulmanos, que começa dia 9.
O objetivo óbvio do premiê, de 73 anos, 18 dos quais no poder, é o de aproveitar a boa maré econômica do único país asiático que, vítima da crise de 97, não trocou de governo.
Mahatir foi também o único a adotar medidas heterodoxas para combater a crise, entre elas a introdução de controles de capitais, um anátema para o liberalismo predominante no planeta.
Apesar dos controles, a Malásia recuperou-se e escapou da tragédia econômica anunciada pelos analistas liberais.
Cresceu 4,1% no segundo trimestre do ano, o último para o qual há dados disponíveis, e deve crescer mais ainda no terceiro trimestre. É verdade que a recuperação se dá na comparação com um ponto de partida catastrófico, como o foi a contração de 6,2% ocorrida no ano passado.
O mais recente dado positivo é a explosão do crescimento industrial em setembro (19%, comparado a setembro de 98), o mais alto em seis anos.
Tudo somado, há uma generalizada expectativa de que o partido de Mahatir (Organização de Unidade Nacional Malasiana) conserve a maioria de dois terços que tem hoje no Parlamento. O partido governa a Malásia desde a independência, em 1957, mas rachou em consequência da prisão do suposto herdeiro político de Mahatir, Anwar Ibrahim, que cumpre pena de seis anos sob a acusação de corrupção.
Anwar parece ter certo respaldo entre os jovens, aparentemente saturados do autoritarismo que caracteriza o longo reinado de Mahatir. A crise econômica asiática foi o estopim para o afastamento de outros líderes autocráticos, com destaque para Suharto, que governava a Indonésia havia 32 anos, ao cair no ano passado.
Caíram também os governos da Coréia do Sul (pela primeira vez foi eleito um oposicionista) e da Tailândia, os três países que, com a Malásia, foram os mais sacudidos pelo vendaval financeiro de 1997.
Mahatir não obstante manteve seu poder. O que está em discussão são as causas.
Há quem diga que o mérito é da sua heterodoxia, ao impor controles de capitais que permitiram à moeda local manter sua paridade com o dólar, ao contrário do que ocorreu nos demais países. Há também quem diga que a crise foi superada não graças, mas apesar dos controles.
E, por fim, há quem diga que o férreo domínio político exercido pelo governo foi capaz de manter a dissidência sob controle, ao jogar na cadeia o líder que poderia catalisá-la, caso de Anwar Ibrahim, em controvertido processo.
Seja qual for o fator principal, todos eles continuam pesando decisivamente para a expectativa generalizada de que Mahatir ganhará mais uma eleição e elevará o número de anos que já faz dele um dos mais antigos governantes da Ásia.


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