São Paulo, sábado, 11 de novembro de 2006

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Manipulação de informações na CIA assombrará a confirmação de Gates

DO "NEW YORK TIMES", EM WASHINGTON

As acusações feitas a Robert M. Gates na última vez em que ele compareceu diante do Senado para ser confirmado para o cargo de diretor da CIA, em 1991, soam estranhamente atuais, por causa da discussão sobre as informações de inteligência enviesadas no pré-guerra do Iraque.
Nas palavras de uma subordinada da Agência Central de Inteligência, Jennifer L. Glaudemans, Gates "politizou análises de inteligência", exigindo relatórios enviesados que foram usados como base para a tomada de "decisões de política externa que tiveram conseqüências importantes".
O Senado terá que decidir se essas acusações, que não impediram que Gates assumisse a direção da agência 15 anos atrás, são relevantes outra vez, agora que foi nomeado como secretário da Defesa.
Os senadores possivelmente voltarão a analisar as denúncias de que Gates teria falsamente negado ter conhecimento do esquema secreto montado pelo governo Reagan (1981-1989) para vender ilegalmente armas ao Irã e usar o dinheiro para financiar os "contras" nicaragüenses -acusação que invalidou sua primeira indicação para chefiar a CIA, em 1987.
Alguns veteranos do setor de inteligência que trabalharam com Gates acham que as críticas feitas a ele 15 anos atrás foram exageradas. "Foram erradas na época e são erradas hoje, embora eu tenha certeza de que serão relembradas", disse Arthur S. Hulnick, que trabalhou para a CIA entre 1965 e 1991.
Mas Harold P. Ford, veterano aposentado da CIA, tem uma opinião diferente: "O problema era que ele enviesava a inteligência para adequar-se ao que o consumidor queria ouvir". Ford, 85, que trabalhou para a agência entre 1950 e o início dos anos 1990, disse que se recorda de Gates ter exagerado as ações negativas soviéticas em todo o mundo. "Ele traçava um quadro sinistro da pressão russa intensificada sobre o Irã, quando as pessoas que acompanhavam essa questão me diziam o exato oposto."
Melvin A. Goodman, ex-analista soviético da CIA, disse que, nos anos 1980, Gates atuou como "filtro" da inteligência, aparando as informações obtidas sobre a ameaça soviética para satisfazer às expectativas ideológicas de linha dura do então diretor de inteligência central William J. Casey.
Um estudo de Raymond L. Garthoff, ex-diplomata e especialista em controle de armas, conclui que Gates muitas vezes impediu que as análises da União Soviética na época de Mikhail Gorbachev chegassem às mãos dos responsáveis políticos americanos, "porque a opinião dele diferia da dos autores das análises". O estudo continua: "Era um direito seu.
Mas foi lamentável, porque a análise da CIA era muito mais correta que a visão dele".


Tradução de CLARA ALLAIN


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