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Manipulação de informações na CIA assombrará a confirmação de Gates
DO "NEW YORK TIMES", EM
WASHINGTON
As acusações feitas a Robert
M. Gates na última vez em que
ele compareceu diante do Senado para ser confirmado para
o cargo de diretor da CIA, em
1991, soam estranhamente
atuais, por causa da discussão
sobre as informações de inteligência enviesadas no pré-guerra do Iraque.
Nas palavras de uma subordinada da Agência Central de
Inteligência, Jennifer L. Glaudemans, Gates "politizou análises de inteligência", exigindo
relatórios enviesados que foram usados como base para a
tomada de "decisões de política
externa que tiveram conseqüências importantes".
O Senado terá que decidir se
essas acusações, que não impediram que Gates assumisse a
direção da agência 15 anos
atrás, são relevantes outra vez,
agora que foi nomeado como
secretário da Defesa.
Os senadores possivelmente
voltarão a analisar as denúncias de que Gates teria falsamente negado ter conhecimento do esquema secreto montado pelo governo Reagan (1981-1989) para vender ilegalmente
armas ao Irã e usar o dinheiro
para financiar os "contras" nicaragüenses -acusação que invalidou sua primeira indicação
para chefiar a CIA, em 1987.
Alguns veteranos do setor de
inteligência que trabalharam
com Gates acham que as críticas feitas a ele 15 anos atrás foram exageradas. "Foram erradas na época e são erradas hoje,
embora eu tenha certeza de que
serão relembradas", disse Arthur S. Hulnick, que trabalhou
para a CIA entre 1965 e 1991.
Mas Harold P. Ford, veterano aposentado da CIA, tem
uma opinião diferente: "O problema era que ele enviesava a
inteligência para adequar-se ao
que o consumidor queria ouvir". Ford, 85, que trabalhou
para a agência entre 1950 e o
início dos anos 1990, disse que
se recorda de Gates ter exagerado as ações negativas soviéticas em todo o mundo. "Ele traçava um quadro sinistro da
pressão russa intensificada sobre o Irã, quando as pessoas
que acompanhavam essa questão me diziam o exato oposto."
Melvin A. Goodman, ex-analista soviético da CIA, disse
que, nos anos 1980, Gates atuou
como "filtro" da inteligência,
aparando as informações obtidas sobre a ameaça soviética
para satisfazer às expectativas
ideológicas de linha dura do então diretor de inteligência central William J. Casey.
Um estudo de Raymond L.
Garthoff, ex-diplomata e especialista em controle de armas,
conclui que Gates muitas vezes
impediu que as análises da
União Soviética na época de
Mikhail Gorbachev chegassem
às mãos dos responsáveis políticos americanos, "porque a
opinião dele diferia da dos autores das análises". O estudo
continua: "Era um direito seu.
Mas foi lamentável, porque a
análise da CIA era muito mais
correta que a visão dele".
Tradução de CLARA ALLAIN
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