São Paulo, quarta-feira, 11 de dezembro de 2002

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EUROPA

Menos de três meses após sua reeleição, premiê enfrenta cobranças de todos os lados, e surgem rumores de renúncia

Pressões ameaçam 2º mandato de Schröder

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

Menos de três meses depois de sua difícil reeleição, o chanceler (premiê) alemão, Gerhard Schröder, já enfrenta uma grave crise política, sofrendo pressões de todos os lados: de sindicatos de trabalhadores e patronais, de sua base de apoio político e da oposição.
Anteontem, de acordo com o diário sensacionalista "Bild", ele teve de repreender seus correligionários do Partido Social-Democrata (SPD), ameaçando, de modo velado, até pedir demissão de seu posto.
"Quem pensa poder fazer um melhor trabalho que o faça. Não foi o SPD que ganhou a eleição, fui eu", declarou Schröder numa reunião do partido.
Rapidamente, líderes do SPD tentaram diminuir a importância de sua declaração, de acordo com o tablóide.

Problemas
Contudo o mal-estar criado é emblemático da crise que atravessa a coalizão governamental alemã, que reúne o SPD e os Verdes, do ministro das Relações Exteriores, Joschka Fischer.
Afinal, a economia continua a patinar, e o desemprego não cede, mantendo-se em torno de 10% da mão-de-obra ativa do país. Ele atinge em torno de 4 milhões de alemães, mas já há quem diga que esse número poderá chegar a 4,5 milhões em alguns meses, provocando o temor de que a Alemanha tenha uma crise econômica duradoura, como a japonesa.
São três os principais focos do problema enfrentado pela coalizão governamental: a política fiscal, o combate ao desemprego e a política externa.
Todavia grande parte da crise diz respeito à percepção popular do problema e à hesitação do governo em algumas áreas, não a decisões concretas tomadas pela administração.
"De forma nenhuma, a crise atual tem a dimensão que a população pensa ou que a oposição gostaria que ela tivesse. Na verdade, muita gente na coalizão não acreditava na reeleição, o que atrasou a preparação das primeiras medidas do novo governo", explicou à Folha Elmar Altvater, professor de economia política na Universidade Livre de Berlim.
"Como a coalizão não se mostrou firme logo de início, os democrata-cristãos [da oposição] aproveitaram para enfatizar as falhas do governo, buscando lucrar politicamente com isso. Houve erros sobretudo em três áreas: nas decisões relacionadas à política fiscal, ao combate ao desemprego e à política externa", acrescentou.

Política fiscal
No que se refere à política fiscal, Schröder enfrenta dois desafios. Primeiro, acalmar a parcela do eleitorado que se sente decepcionada com o leve aumento de alguns impostos, já que, durante a campanha, o chanceler prometeu não elevá-los. Segundo, desfazer a confusão criada em torno do imposto sobre as fortunas. "Ninguém sabe mais qual é a posição oficial em relação ao imposto sobre as fortunas", indicou Altvater.
Ademais, os sindicatos, tradicionalmente pró-SPD, já começam a exigir aumentos de salários, sobretudo no setor público, o que tende a pressionar o Orçamento.
O combate ao desemprego também suscita críticas, pois os planos concebidos por Peter Hartz, que foram uma das bandeiras de campanha do SPD, ainda não surtiram resultados positivos.
"As idéias de Hartz não resolverão o problema do desemprego. A questão é macroeconômica, mas a política monetária é feita hoje pelo Banco Central Europeu, deixando os governos nacionais de mãos atadas", disse Altvater. Na semana passada, o BCE reduziu as taxas de juros em meio ponto percentual -para 2,75% ao ano.
A política externa é o calcanhar-de-aquiles de Schröder atualmente. Na campanha, ele foi taxativo ao sustentar que a Alemanha não participaria de uma ação militar no Iraque. Agora, porém, ele já acena com a possibilidade de permitir que o espaço aéreo alemão seja utilizado pelos EUA. Isso desagrada aos Verdes e à maioria dos eleitores, agravando a crise.
Em dois meses, os Estados de Hessen e Baixa Saxônia terão eleições que poderão dar à oposição quase dois terços do Bundesrat (Câmara Alta do Parlamento), o que a poria em condições de bloquear iniciativas do governo.
Assim, já se fala até no fim da atual administração e na formação de uma coalizão entre os social-democratas e os democrata-cristãos. Isso significaria o fim das aspirações políticas de Schröder.


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