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EUROPA
Menos de três meses após sua reeleição, premiê enfrenta cobranças de todos os lados, e surgem rumores de renúncia
Pressões ameaçam 2º mandato de Schröder
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
Menos de três meses depois de
sua difícil reeleição, o chanceler
(premiê) alemão, Gerhard Schröder, já enfrenta uma grave crise
política, sofrendo pressões de todos os lados: de sindicatos de trabalhadores e patronais, de sua base de apoio político e da oposição.
Anteontem, de acordo com o
diário sensacionalista "Bild", ele
teve de repreender seus correligionários do Partido Social-Democrata (SPD), ameaçando, de
modo velado, até pedir demissão
de seu posto.
"Quem pensa poder fazer um
melhor trabalho que o faça. Não
foi o SPD que ganhou a eleição, fui
eu", declarou Schröder numa
reunião do partido.
Rapidamente, líderes do SPD
tentaram diminuir a importância
de sua declaração, de acordo com
o tablóide.
Problemas
Contudo o mal-estar criado é
emblemático da crise que atravessa a coalizão governamental alemã, que reúne o SPD e os Verdes,
do ministro das Relações Exteriores, Joschka Fischer.
Afinal, a economia continua a
patinar, e o desemprego não cede,
mantendo-se em torno de 10% da
mão-de-obra ativa do país. Ele
atinge em torno de 4 milhões de
alemães, mas já há quem diga que
esse número poderá chegar a 4,5
milhões em alguns meses, provocando o temor de que a Alemanha
tenha uma crise econômica duradoura, como a japonesa.
São três os principais focos do
problema enfrentado pela coalizão governamental: a política fiscal, o combate ao desemprego e a
política externa.
Todavia grande parte da crise
diz respeito à percepção popular
do problema e à hesitação do governo em algumas áreas, não a decisões concretas tomadas pela administração.
"De forma nenhuma, a crise
atual tem a dimensão que a população pensa ou que a oposição
gostaria que ela tivesse. Na verdade, muita gente na coalizão não
acreditava na reeleição, o que
atrasou a preparação das primeiras medidas do novo governo",
explicou à Folha Elmar Altvater,
professor de economia política na
Universidade Livre de Berlim.
"Como a coalizão não se mostrou firme logo de início, os democrata-cristãos [da oposição] aproveitaram para enfatizar as falhas do governo, buscando lucrar
politicamente com isso. Houve
erros sobretudo em três áreas: nas
decisões relacionadas à política
fiscal, ao combate ao desemprego
e à política externa", acrescentou.
Política fiscal
No que se refere à política fiscal,
Schröder enfrenta dois desafios.
Primeiro, acalmar a parcela do
eleitorado que se sente decepcionada com o leve aumento de alguns impostos, já que, durante a
campanha, o chanceler prometeu
não elevá-los. Segundo, desfazer a
confusão criada em torno do imposto sobre as fortunas. "Ninguém sabe mais qual é a posição
oficial em relação ao imposto sobre as fortunas", indicou Altvater.
Ademais, os sindicatos, tradicionalmente pró-SPD, já começam a exigir aumentos de salários,
sobretudo no setor público, o que
tende a pressionar o Orçamento.
O combate ao desemprego também suscita críticas, pois os planos concebidos por Peter Hartz,
que foram uma das bandeiras de
campanha do SPD, ainda não surtiram resultados positivos.
"As idéias de Hartz não resolverão o problema do desemprego. A
questão é macroeconômica, mas
a política monetária é feita hoje
pelo Banco Central Europeu, deixando os governos nacionais de
mãos atadas", disse Altvater. Na
semana passada, o BCE reduziu
as taxas de juros em meio ponto
percentual -para 2,75% ao ano.
A política externa é o calcanhar-de-aquiles de Schröder atualmente. Na campanha, ele foi taxativo
ao sustentar que a Alemanha não
participaria de uma ação militar
no Iraque. Agora, porém, ele já
acena com a possibilidade de permitir que o espaço aéreo alemão
seja utilizado pelos EUA. Isso desagrada aos Verdes e à maioria
dos eleitores, agravando a crise.
Em dois meses, os Estados de
Hessen e Baixa Saxônia terão eleições que poderão dar à oposição
quase dois terços do Bundesrat
(Câmara Alta do Parlamento), o
que a poria em condições de bloquear iniciativas do governo.
Assim, já se fala até no fim da
atual administração e na formação de uma coalizão entre os social-democratas e os democrata-cristãos. Isso significaria o fim das
aspirações políticas de Schröder.
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