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Ditador chileno Augusto Pinochet morre aos 91 anos
Após uma semana internado, general morre por crise cardíaca; funeral não terá honras de Estado -apenas militares
DA REDAÇÃO
O ditador chileno Augusto
Pinochet Ugarte, que governou
o Chile entre 1973 e 1990, depois de ter dado um golpe que
derrubou o socialista Salvador
Allende, morreu no início da
tarde de ontem, aos 91 anos, em
decorrência de "uma crise cardíaca múltipla", segundo informou o médico Juan Ignacio
Vergara.
Ele estava internado no Hospital Militar de Santiago desde
o último dia 3, depois de ter sofrido um infarto.
Pinochet será sepultado
amanhã sem funeral de Estado
nem luto nacional, apenas com
honras militares. "O governo
autorizou bandeiras a meio pau
nos recintos do Exército e em
suas unidades militares", disse
o porta-voz do governo chileno,
Ricardo Lagos Weber.
Ontem à noite, em Santiago,
em frente ao Palácio de La Moneda, violentos confrontos
opuseram detratores do ditador e a polícia chilena.
Diante do Hospital Militar,
cerca de 2.000 pessoas, algumas chorando, aglomeravam-se e entoavam "Pinochet! Longa vida a Pinochet!".
A presidente do Chile, Michelle Bachelet, permanecia
em sua casa e deveria emitir
uma declaração oficial no final
da noite de ontem. Bachelet
esteve detida com sua mãe durante o governo Pinochet, e seu
pai, que era um oficial da Força
Aérea, morreu torturado pelos
militares.
A Igreja Católica pediu "serenidade" à população.
"Não podemos viver ancorados no passado", afirmou o bispo Alejandro Goic, presidente
da Conferência Episcopal do
Chile.
Funerais
O corpo de Pinochet seria levado ontem à noite à Escola
Militar de Santiago, onde será
velado até que o governo determine o protocolo a ser seguido.
Em Madri, a deputada e filha
de Allende, Isabel Allende, disse que Pinochet não merece um
funeral com honras de Estado
-que, de acordo com ela, "não
se destina a ditadores".
Segundo enquete publicada
ontem pelo jornal "La Tercera", 55% dos chilenos condenam a idéia de conceder honra
de ex-presidente da República
a Pinochet, em seu funeral. Segundo a mesma pesquisa, 45%
dos entrevistados -contra
36%- acham que Bachelet deve comparecer aos funerais.
Os funerais de Pinochet têm
provocado polêmica desde que
pessoas próximas a Bachelet
declararam que o general não
teria direito a honras de Estado
e a luto oficial.
Sob o governo de Pinochet,
3.197 pessoas, segundo dados
do governo chileno, foram
mortas por razões políticas.
Mas ele não chegou a ser levado
a julgamento, sob a alegação de
que estava doente demais para
enfrentar as acusações.
Pinochet recusou-se por
muitos anos a assumir responsabilidade pelos assassinatos
políticos, afirmando que foram
frutos da iniciativa de subordinados. Contudo, em seu aniversário de 91 anos, em novembro,
assumiu "total responsabilidade política por tudo o que aconteceu" durante seu governo,
embora não tenha feito referência aos direitos humanos.
Apesar disso, Pinochet era
reverenciado por muitos chilenos, que diziam que ele salvou o
país do marxismo.
Mas muitos de seus partidários retiraram seu apoio depois
que foi revelado que o ditador
mantinha cerca de US$ 27 milhões em contas secretas no exterior -que estão atualmente
sob investigação.
Em 1998, Pinochet, que estava em Londres para uma operação de hérnia, foi detido por solicitação do juiz espanhol Baltasar Garzón. Ele pedia sua extradição para responder sobre
assassinatos e desaparecimentos de cidadãos espanhóis sob
seu governo.
Dois meses depois, o pedido
seria negado.
À época, Pinochet recebeu
apoio da ex-premiê britânica
Margaret Thatcher, que sempre foi grata ao general pela
ajuda que prestou ao Reino
Unido na Guerra das Malvinas.
Foi no governo de Pinochet
que houve a Caravana da Morte
-grupo de militares chilenos
que, em 1973, percorria o país a
fim de localizar e matar supostos opositores políticos.
Com agências internacionais
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