São Paulo, segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

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Ditador chileno Augusto Pinochet morre aos 91 anos

Após uma semana internado, general morre por crise cardíaca; funeral não terá honras de Estado -apenas militares

DA REDAÇÃO

O ditador chileno Augusto Pinochet Ugarte, que governou o Chile entre 1973 e 1990, depois de ter dado um golpe que derrubou o socialista Salvador Allende, morreu no início da tarde de ontem, aos 91 anos, em decorrência de "uma crise cardíaca múltipla", segundo informou o médico Juan Ignacio Vergara.
Ele estava internado no Hospital Militar de Santiago desde o último dia 3, depois de ter sofrido um infarto.
Pinochet será sepultado amanhã sem funeral de Estado nem luto nacional, apenas com honras militares. "O governo autorizou bandeiras a meio pau nos recintos do Exército e em suas unidades militares", disse o porta-voz do governo chileno, Ricardo Lagos Weber.
Ontem à noite, em Santiago, em frente ao Palácio de La Moneda, violentos confrontos opuseram detratores do ditador e a polícia chilena.
Diante do Hospital Militar, cerca de 2.000 pessoas, algumas chorando, aglomeravam-se e entoavam "Pinochet! Longa vida a Pinochet!".
A presidente do Chile, Michelle Bachelet, permanecia em sua casa e deveria emitir uma declaração oficial no final da noite de ontem. Bachelet esteve detida com sua mãe durante o governo Pinochet, e seu pai, que era um oficial da Força Aérea, morreu torturado pelos militares.
A Igreja Católica pediu "serenidade" à população.
"Não podemos viver ancorados no passado", afirmou o bispo Alejandro Goic, presidente da Conferência Episcopal do Chile.

Funerais
O corpo de Pinochet seria levado ontem à noite à Escola Militar de Santiago, onde será velado até que o governo determine o protocolo a ser seguido.
Em Madri, a deputada e filha de Allende, Isabel Allende, disse que Pinochet não merece um funeral com honras de Estado -que, de acordo com ela, "não se destina a ditadores".
Segundo enquete publicada ontem pelo jornal "La Tercera", 55% dos chilenos condenam a idéia de conceder honra de ex-presidente da República a Pinochet, em seu funeral. Segundo a mesma pesquisa, 45% dos entrevistados -contra 36%- acham que Bachelet deve comparecer aos funerais.
Os funerais de Pinochet têm provocado polêmica desde que pessoas próximas a Bachelet declararam que o general não teria direito a honras de Estado e a luto oficial.
Sob o governo de Pinochet, 3.197 pessoas, segundo dados do governo chileno, foram mortas por razões políticas. Mas ele não chegou a ser levado a julgamento, sob a alegação de que estava doente demais para enfrentar as acusações.
Pinochet recusou-se por muitos anos a assumir responsabilidade pelos assassinatos políticos, afirmando que foram frutos da iniciativa de subordinados. Contudo, em seu aniversário de 91 anos, em novembro, assumiu "total responsabilidade política por tudo o que aconteceu" durante seu governo, embora não tenha feito referência aos direitos humanos.
Apesar disso, Pinochet era reverenciado por muitos chilenos, que diziam que ele salvou o país do marxismo.
Mas muitos de seus partidários retiraram seu apoio depois que foi revelado que o ditador mantinha cerca de US$ 27 milhões em contas secretas no exterior -que estão atualmente sob investigação.
Em 1998, Pinochet, que estava em Londres para uma operação de hérnia, foi detido por solicitação do juiz espanhol Baltasar Garzón. Ele pedia sua extradição para responder sobre assassinatos e desaparecimentos de cidadãos espanhóis sob seu governo.
Dois meses depois, o pedido seria negado.
À época, Pinochet recebeu apoio da ex-premiê britânica Margaret Thatcher, que sempre foi grata ao general pela ajuda que prestou ao Reino Unido na Guerra das Malvinas.
Foi no governo de Pinochet que houve a Caravana da Morte -grupo de militares chilenos que, em 1973, percorria o país a fim de localizar e matar supostos opositores políticos.


Com agências internacionais


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