São Paulo, domingo, 12 de janeiro de 2003

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ÁSIA

Embaixador na China diz que país deve retomar testes se os EUA não adotarem medidas para melhorar as relações

Coréia do Norte ameaça testar mísseis

DA REDAÇÃO

A Coréia do Norte ameaçou ontem retomar os testes com mísseis e disse que está pronta a "devastar sem piedade" quem desrespeitar sua soberania, segundo a KCNA, agência de notícias estatal.
O anúncio deve aumentar a tensão num momento em que vários Estados vêm criticando a Coréia do Norte por deixar o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares (TNP), que proíbe que a maioria de seus signatários produza armas nucleares.
Se os testes forem retomados, serão os primeiros desde 1998, quando a Coréia do Norte assustou a região ao lançar um míssil que sobrevoou o Japão e caiu no Pacífico. Depois disso, Pyongyang anunciou uma moratória nos testes que inicialmente deveria durar até 2004.
O embaixador da Coréia do Norte na China, Choe Jin Su, disse ontem que o país deve retomar os testes se os Estados Unidos não adotarem medidas com o intuito de melhorar as relações.
"Como todos os acordos foram cancelados pelos Estados Unidos, nós acreditamos que não podemos manter nossa moratória em testes com mísseis", afirmou Choe em Pequim (China).
Segundo Misako Kaji, porta-voz de Junichiro Koizumi (primeiro-ministro do Japão), Pyongyang havia manifestado seu compromisso, em outubro de 2000, de não promover testes com mísseis de longo alcance. Em setembro, durante uma reunião com Koizumi, representantes norte-coreanos reafirmaram a intenção, ainda de acordo com o porta-voz.
"O Japão acredita que esse compromisso deveria ser respeitado", declarou Kaji.
A tensão na península da Coréia aumentou depois que autoridades americanas disseram, em outubro, que a Coréia do Norte tinha admitido ter um programa de armas nucleares, o que era proibido por um tratado de 1994. Em dezembro, a situação agravou-se, pois Pyongyang começou a reativar um reator nuclear capaz de enriquecer plutônio.

"Poucas semanas"
Uma autoridade norte-coreana afirmou ontem que o reator nuclear de Yongbyon deve estar em funcionamento em pouco tempo.
O reator "passará a funcionar em poucas semanas", disse Son Mun San, conselheiro para relações com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
O embaixador da Coréia do Norte em Viena (que abriga a sede da AIEA) disse ontem que os trabalhos no reator estavam caminhando depressa porque o país precisa dele para enfrentar o inverno. "Vamos fazer o possível para começar a gerar eletricidade rapidamente", afirmou o embaixador Kim Gwang Sop.
Anteontem, Pyongyang disse que estaria disposta a dialogar com Washington para buscar uma solução para o impasse em torno de seu programa nuclear. Também afirmou que, "por enquanto", não tem a intenção de construir armas nucleares e que suas instalações só produzirão energia. Esta terá uso civil, de acordo com os norte-coreanos.
Houve diversas manifestações ontem em ambos os lados da fronteira intercoreana. Na Coréia do Norte, mais de 1 milhão de pessoas foram às ruas da capital (Pyongyang) para apoiar o abandono do Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares, segundo a agência de notícias local.
Vários países criticaram a decisão norte-coreana, incluindo os EUA, a China e a Coréia do Sul (que descreveu o impasse como uma "questão de vida ou morte").
Em Seul (capital da Coréia do Sul), cerca de 30 mil pessoas promoveram um ato para manifestar seu apoio à presença militar dos Estados Unidos no país. Nas últimas semanas, houve diversos protestos contra Washington.
Os EUA vêm buscando uma solução pacífica para o impasse envolvendo a Coréia do Norte, já que não querem que a questão desvie a atenção internacional da inspeção das armas iraquianas e dos preparativos para uma provável guerra contra Bagdá.
Ontem, porém, o governo americano advertiu que a Coréia do Norte pode ficar mais isolada da comunidade internacional com a ameaça de testar mísseis.


Com agências internacionais


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