São Paulo, quarta-feira, 12 de janeiro de 2005

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ORIENTE MÉDIO

Desde o fim de 2003 não havia conversas entre líderes israelenses e palestinos; Israel quer trincheira entre Gaza e Egito

Sharon liga para Abbas e oferece cooperação

Muhammed Muheisen/Associated Press
A face de Mahmoud Abbas, recém-eleito presidente da ANP, aparece em cartaz (alto, à esq.), na cidade de Ramallah (Cisjordânia)


FÁBIO ZANINI
ENVIADO ESPECIAL A RAMALLAH

O primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, telefonou ontem para o presidente eleito da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, cumprimentou-o pela vitória e ofereceu-se para "cooperar" com o palestino.
Foi o mais importante contato entre líderes dos dois lados desde novembro de 2003, quando as negociações de paz foram paralisadas e Abbas, substituído no cargo de premiê por Ahmed Korei.
Desde então, apenas contatos informais entre autoridades menores ocorreram. Sharon recusava-se a lidar com Iasser Arafat, morto em novembro, a quem acusava de tolerar o terrorismo.
Abbas, ao contrário, está recebendo um crédito de confiança por sua pregação a favor de uma solução negociada para o conflito.
Quase simultaneamente à conversa, surgiu a informação de que o governo israelense está planejando a construção de uma trincheira na fronteira da faixa de Gaza com o Egito, para evitar a infiltração de grupos armados e o contrabando de armas.
Segundo a agência de notícias "Associated Press", o Exército israelense apresentou ao governo três versões da trincheira, que resultariam na demolição de 200 a 3.000 casas palestinas.
Qualquer que seja o esquema escolhido, a ação tem o potencial para aumentar o sentimento de revolta contra Israel em Gaza e dificultar a construção de um ambiente de tranqüilidade para um novo processo de paz.
Na conversa de cerca de dez minutos que tiveram ontem, os dois líderes não trataram desse assunto especificamente, segundo assessores das duas partes.

Encontro
"Abbas e Sharon conversaram sobre maneiras de reviver o processo de paz e sobre um encontro entre os dois, que deve ser organizado nos próximos dias", disse Maher Shalabi, porta-voz do presidente eleito da Autoridade Nacional Palestina. A informação foi confirmada por assessores do primeiro-ministro israelense.
"Sharon falou com Abbas, parabenizou-o por seu sucesso pessoal e sua vitória nas eleições e lhe desejou boa sorte", disse um assessor. "Os dois concordaram em conversar logo."
De acordo com outro assessor, Ariel Sharon ofereceu cooperação a Mahmoud Abbas.
O passo seguinte para o restabelecimento do diálogo entre as partes seria um encontro na Casa Branca com o presidente dos EUA, George W. Bush, que já fez a Abbas o convite.
Abbas e Sharon assinaram juntos, em 2003, o "road map" (plano de paz), que estabelece uma série de etapas até a criação de um Estado palestino.
No roteiro do acordo original, a instituição do Estado ocorreria até o final deste ano.
Mas o plano, em razão da violência que não cessou na região, não foi à frente e foi, na prática, abandonado. Fala-se agora em retomar as suas premissas. Segundo analistas, a maioria dos israelenses vê em Abbas um potencial parceiro para a paz, mas tem dúvidas a respeito de sua capacidade de controlar os militantes. E alguns chegam a considerar Abbas uma "cópia" de Arafat.
A tarefa de Abbas -que foi eleito com 62,3% dos votos e será proclamado presidente pelo Parlamento no próximo sábado- deve ser difícil: os grupos terroristas já reiniciaram seus ataques.
Ontem, foram lançados foguetes e bombas contra assentamentos israelenses na faixa de Gaza, sem deixar feridos graves.
No norte da Cisjordânia, Israel matou um integrante do grupo terrorista palestino Brigada dos Mártires de Al Aqsa, ligado ao Fatah, partido de Abbas. Um outro membro da organização extremista ficou ferido.


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