São Paulo, sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

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Estratégia aumenta isolamento de Bush

Novo plano para o Iraque, que prevê aumento de tropas, é recebido com resistência da opinião pública, da oposição e de aliados

Secretário da Defesa diz que não há prazo para a retirada americana e propõe ampliar Exército; maioria é contra a estratégia, dizem pesquisas

ORIGEM

A decisão do presidente George W. Bush de enviar mais soldados ao Iraque, desafiando o repúdio da opinião pública, da oposição democrata e até de aliados no Partido Republicano e de integrantes da cúpula militar, aumentou o risco de isolamento da Casa Branca.
Ontem, enquanto o governo defendia a nova estratégia para o Iraque, anunciada na noite de quarta-feira pelo presidente, crescia o movimento contrário a aprofundar o envolvimento em uma guerra que já matou mais de 3.000 americanos.
Além da resistência ao envio de mais soldados ao Iraque, o plano de Bush gerou preocupação com a sugestão de uso da força contra Irã e Síria e ceticismo em relação à meta de transferir a segurança de todas as 18 Províncias do país para as forças iraquianas até novembro.
Duas pesquisas feitas após o anúncio de Bush confirmaram a impopularidade do plano entre os americanos. Na sondagem da TV ABC e do jornal "Washington Post", 61% dos entrevistados disseram ser contra o envio de mais tropas. A oposição atingiu 71% na pesquisa Associated Press-Ipsos.
A secretária de Estado Condoleeza Rice teve uma amostra do campo minado político que a Casa Branca terá pela frente nos próximos meses, diante de índices de popularidade em queda e de um Congresso dominado por uma oposição democrata hostil.
"O momento é de dever nacional para não fracassarmos no Iraque", disse a secretária, que em vez de despertar sentimentos patriotas, produziu um raro momento de consenso bipartidário contra a nova estratégia. O presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Joe Biden, classificou o plano como "um erro trágico". O líder da oposição no Senado, Harry Reid, advertiu para a dura caminhada que Bush terá até o fim de seu mandato, em 2008. "Ao optar pela escalada da guerra, o presidente fica virtualmente só", disse.

Fogo amigo
Do partido do presidente também partiram ataques contundentes. "O discurso de ontem [quarta-feira] deste presidente representa o erro mais perigoso de política externa neste país desde o Vietnã", disse o senador Chuck Hagel.
Rice foi acompanhada na ofensiva de relações públicas da Casa Branca pelo secretário da Defesa, Robert Gates, que foi realista ao falar sobre o tempo de duração dessa ampliação da missão americana no Iraque.
"Não acredito que alguém tenha uma idéia definitiva de quanto tempo o "impulso" irá durar", disse Gates à Comissão de Serviços Armados da Câmara, usando o termo inglês "surge" em referência ao aumento de tropas. "A maioria de nós está pensando em uma questão de meses, não 18 meses ou dois anos." Dezoito meses foi o prazo mínimo sugerido pelo estudo de uma instituição conservadora de Washington que inspirou a nova estratégia de Bush.
Gates disse que as tropas extras serão posicionadas no Iraque em fases, e sugeriu que o envio será suspenso se o governo iraquiano não cumprir as metas impostas pelos EUA. Entre elas estão o reforço da segurança em Bagdá, o combate à violência sem distinção religiosa e o controle das 18 Províncias do país até novembro.
Prevendo uma "longa guerra ao terror", Gates recomendou ao presidente Bush adicionar 92 mil soldados ao efetivo permanente das Forças Armadas.
Diante da enxurrada de críticas, Bush recebeu o apoio previsível do veterano do Vietnã e senador republicano John McCain, um dos maiores defensores do aumento de tropas. "Não garanto vitória nem sucesso com essa nova estratégia", disse um cauteloso McCain, antes de repetir o alerta feito por Bush: "Se fracassarmos, haverá caos na região".
Harry Reid disse que espera ter votos suficientes, com o apoio de legisladores republicanos, para aprovar uma resolução na Câmara contra o envio de tropas. A iniciativa não teria força para bloquear a nova estratégia, já que o presidente tem o poder constitucional para levá-la adiante. Mas uma condenação bipartidária serviria para aumentar o isolamento de Bush.


Com agências internacionais


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