São Paulo, sábado, 12 de janeiro de 2008

Próximo Texto | Índice

Chávez diz que Farc são força legítima com projeto político

Venezuelano, que mediou negociações para a soltura de reféns, pede que grupo seja excluído de lista de terroristas

Exigência do presidente, que inclui ELN, é demanda antiga da guerrilha; para Bogotá, reivindicação é inaceitável e sem cabimento

DA REDAÇÃO

Um dia após a libertação de Clara Rojas e Consuelo González pelas Farc em "desagravo" a Hugo Chávez, o presidente venezuelano defendeu ontem que a guerrilha colombiana não é grupo terrorista, mas um "exército insurgente" que "tem um projeto político bolivariano" respeitado por ele. E pediu que o grupo seja retirado de listas sul-americanas e européias de organizações terroristas.
As declarações irritaram o governo colombiano, que chamou a proposta de "descabida". "Ainda que isso possa irritar alguns, as Farc e o ELN não são terroristas. São verdadeiros exércitos que ocupam espaços na Colômbia. Há que lhes dar reconhecimento, porque são forças insurgentes que têm um projeto político bolivariano que aqui é respeitado", disse o venezuelano em discurso à Assembléia Nacional em Caracas.
Chávez pediu que a Colômbia e demais países da região, além dos europeus, retirem as Farc, a maior força guerrilheira colombiana, e também o ELN (Exército de Libertação Nacional), grupo que perdeu força nos últimos anos, da lista de organizações terroristas. "Só o fazem [listá-los] por um motivo: a pressão dos EUA", disse.
Os EUA e a União Européia consideram a guerrilha terrorista, enquanto Brasil e Argentina evitam classificar o grupo. Sair da lista é uma demanda reiterada do guerrilha -que se financia com seqüestros por dinheiro e cobranças de narcotraficantes. Assim, as Farc crêem poder negociar em melhor condição a troca de seus guerrilheiros presos por 43 reféns políticos em seu poder e um eventual acordo de paz.

Reação colombiana
A proposta caiu com estrondo sobre Bogotá. O reconhecimento das Farc, que têm controle de parte do território colombiano, como "grupo insurgente" implicaria que o país está em guerra civil e implodiria a política "linha-dura" de segurança e combate ao narcotráfico do governo. "Todos os grupos violentos da Colômbia são terroristas.
Terroristas são as Farc, o ELN, os paramilitares em processo de desmantelamento. São terroristas por atentar contra uma democracia respeitável e por seus métodos de extermínio da humanidade", respondeu o presidente Álvaro Uribe em nota lida por seu porta-voz, Cesar Mauricio. "O mundo não pode esquecer dos 750 cidadãos seqüestrados pelas Farc nos últimos dez anos que continuam desaparecidos." Antes, o ministro colombiano do Interior, Carlos Holgín, dissera à rádio Caracol que a proposta era "insólita" e "sem cabimento".
Ao incluir os paramilitares em seu comunicado, o governo Uribe busca também dar uma resposta às pressões internacionais sobre seu governo, minado por escândalos envolvendo o relacionamento de antigos ministros e parlamentares com os grupos armados de direita.
A reação negativa não se limitou ao governo. A imprensa, o ex-presidente Andrés Pastrana (1998-2002), entidades não-governamentais e até o partido oposicionista Pólo Democrático Alternativo (PDA, esquerda) rechaçaram enfaticamente as declarações de Chávez. "Parece-me absolutamente anormal que um chefe de Estado de um país vizinho faça uma declaração dessa natureza", disse o presidente do PDA, Carlos Gaviria, à rádio W.
De acordo com uma pesquisa do instituto Gallup realizada em novembro, as Farc têm o apoio de apenas 1% da população colombiana. Sua péssima imagem ficou ainda mais arranhada no país depois de a guerrilha ter admitido que mentiu ao dizer que tinha o menino Emmanuel em seu poder.


Com FABIANO MAISONNAVE, enviado especial a Bogotá, Com agências internacionais


Próximo Texto: Frase
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.