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Chávez diz que Farc são força legítima com projeto político
Venezuelano, que mediou negociações para a soltura de
reféns, pede que grupo seja excluído de lista de terroristas
Exigência do presidente,
que inclui ELN, é demanda
antiga da guerrilha; para
Bogotá, reivindicação é
inaceitável e sem cabimento
DA REDAÇÃO
Um dia após a libertação de
Clara Rojas e Consuelo González pelas Farc em "desagravo" a
Hugo Chávez, o presidente venezuelano defendeu ontem que
a guerrilha colombiana não é
grupo terrorista, mas um
"exército insurgente" que "tem
um projeto político bolivariano" respeitado por ele. E pediu
que o grupo seja retirado de listas sul-americanas e européias
de organizações terroristas.
As declarações irritaram o
governo colombiano, que chamou a proposta de "descabida".
"Ainda que isso possa irritar
alguns, as Farc e o ELN não são
terroristas. São verdadeiros
exércitos que ocupam espaços
na Colômbia. Há que lhes dar
reconhecimento, porque são
forças insurgentes que têm um
projeto político bolivariano
que aqui é respeitado", disse o
venezuelano em discurso à Assembléia Nacional em Caracas.
Chávez pediu que a Colômbia e demais países da região,
além dos europeus, retirem as
Farc, a maior força guerrilheira
colombiana, e também o ELN
(Exército de Libertação Nacional), grupo que perdeu força
nos últimos anos, da lista de organizações terroristas. "Só o fazem [listá-los] por um motivo:
a pressão dos EUA", disse.
Os EUA e a União Européia
consideram a guerrilha terrorista, enquanto Brasil e Argentina evitam classificar o grupo.
Sair da lista é uma demanda
reiterada do guerrilha -que se
financia com seqüestros por dinheiro e cobranças de narcotraficantes. Assim, as Farc
crêem poder negociar em melhor condição a troca de seus
guerrilheiros presos por 43 reféns políticos em seu poder e
um eventual acordo de paz.
Reação colombiana
A proposta caiu com estrondo sobre Bogotá. O reconhecimento das Farc, que têm controle de parte do território colombiano, como "grupo insurgente" implicaria que o país está em guerra civil e implodiria a
política "linha-dura" de segurança e combate ao narcotráfico do governo.
"Todos os grupos violentos
da Colômbia são terroristas.
Terroristas são as Farc, o ELN,
os paramilitares em processo
de desmantelamento. São terroristas por atentar contra uma
democracia respeitável e por
seus métodos de extermínio da
humanidade", respondeu o
presidente Álvaro Uribe em nota lida por seu porta-voz, Cesar
Mauricio. "O mundo não pode
esquecer dos 750 cidadãos seqüestrados pelas Farc nos últimos dez anos que continuam
desaparecidos." Antes, o ministro colombiano do Interior,
Carlos Holgín, dissera à rádio
Caracol que a proposta era "insólita" e "sem cabimento".
Ao incluir os paramilitares
em seu comunicado, o governo
Uribe busca também dar uma
resposta às pressões internacionais sobre seu governo, minado por escândalos envolvendo o relacionamento de antigos
ministros e parlamentares com
os grupos armados de direita.
A reação negativa não se limitou ao governo. A imprensa,
o ex-presidente Andrés Pastrana (1998-2002), entidades não-governamentais e até o partido
oposicionista Pólo Democrático Alternativo (PDA, esquerda)
rechaçaram enfaticamente as
declarações de Chávez. "Parece-me absolutamente anormal
que um chefe de Estado de um
país vizinho faça uma declaração dessa natureza", disse o
presidente do PDA, Carlos Gaviria, à rádio W.
De acordo com uma pesquisa
do instituto Gallup realizada
em novembro, as Farc têm o
apoio de apenas 1% da população colombiana. Sua péssima
imagem ficou ainda mais arranhada no país depois de a guerrilha ter admitido que mentiu
ao dizer que tinha o menino
Emmanuel em seu poder.
Com FABIANO MAISONNAVE, enviado especial a Bogotá, Com agências internacionais
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