São Paulo, Sexta-feira, 12 de Fevereiro de 1999
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PARAGUAI
Presidente paraguaio, no Brasil, afirma estar disposto a aceitar eventual decisão do Congresso que o afaste do cargo
Cubas diz que acataria impeachment

AUGUSTO GAZIR
da Sucursal de Brasília

O presidente do Paraguai, Raúl Cubas Grau, afirmou ontem que aceitará uma eventual decisão do Congresso de destituí-lo do cargo.
"O julgamento político é uma figura que está consagrada na Constituição nacional. Se o Congresso, de acordo com a Constituição, aprovar a destituição do presidente, vocês podem estar seguros de que no dia seguinte eu estarei em minha casa", afirmou Cubas.
Ele esteve ontem no Palácio da Alvorada, onde discutiu com o presidente Fernando Henrique Cardoso os efeitos da crise econômica brasileira no Mercosul.
O Congresso paraguaio começou a discutir a abertura de um julgamento político de Cubas. O presidente, que voltou ontem mesmo a Assunção, se nega a cumprir decisão judicial e prender o general golpista Lino Oviedo.
Em agosto do ano passado, ao assumir a Presidência, Cubas indultou Oviedo, preso por tentativa de golpe realizada em 1996. O atual presidente era vice da chapa do general, que se tornou inelegível após a condenação, em 1998.
Em entrevista no Alvorada, Cubas classificou como boatos os rumores de que poderia haver um golpe no Paraguai. Anteontem, a própria chancelaria paraguaia divulgou nota afirmando temer um "golpe parlamentar" durante a viagem do presidente ao Brasil.
"Boatos existem em todo o mundo. Cada um diz aquilo que acha melhor. Estamos confiantes de que a democracia no Paraguai está firme e vai continuar", disse Cubas.
Com ironia, ele afirmou que, até o momento em que saiu do Paraguai, Oviedo continuava livre.
Os partidários do juízo político monopolizaram ontem os microfones do Congresso paraguaio, reunido em sessão única.
Os parlamentares aprovaram uma declaração de apoio à Suprema Corte e recomendaram à Câmara dos Deputados que dê início ao julgamento político de Cubas. O início do julgamento tem de ser aprovado por dois terços dos deputados presentes, e a sessão não tem data marcada.
Segundo o deputado Angel Barchini, os congressistas estavam ali para "tentar julgar, mediante um juízo político, o mau desempenho do presidente, que desacatou a Corte e, portanto, não respeitou a lei". Barchini é do mesmo partido de Cubas, o Colorado, mas de uma ala que se opõe ao presidente.
Os opositores do presidente, porém, vão precisar de dois terços dos votos na Câmara e no Senado para afastar o presidente. A oposição, somada a dissidentes do Partido Colorado, não tem a maioria necessária para afastar Cubas.
Ontem, questionado sobre por que não cumpre a decisão judicial, Cubas desconversou. "Isso é um problema muito complicado que demoraria horas para explicar."


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