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BÁLCÃS
Ditador iugoslavo, que enfrentava julgamento por crimes de guerra e genocídio, sofria de hipertensão e problemas cardíacos
Slobodan Milosevic, 64, morre na prisão
DA REDAÇÃO
Slobodan Milosevic, o ditador
sob o qual a Iugoslávia se desmantelou nos anos 1990 e que o
Ocidente apelidou de "carniceiro
dos Bálcãs" -mas que atraía a
admiração de muitos sérvios-,
foi encontrado morto ontem em
sua cela na prisão da ONU, perto
de Haia, na Holanda.
Milosevic, 64, aparentemente
morreu de causas naturais e estava em sua cama quando foi encontrado, de acordo com o Tribunal Penal Internacional (TPI).
O ditador enfrentava julgamento desde fevereiro de 2002, por 66
acusações de crimes de guerra,
crimes contra a humanidade e genocídio, cometidos na Croácia, na
Bósnia e em Kosovo durante e depois da violenta desintegração da
Iugoslávia nos anos 1990.
Mas o julgamento -considerado um dos principais testes judiciais desde os tribunais de Nuremberg após a Segunda Guerra
Mundial -sofreu várias interrupções devido à saúde precária
do ex-ditador, que sofria de hipertensão e problemas cardíacos crônicos. A expectativa era de que o
processo terminasse neste ano.
Inquérito
A morte de Milosevic ocorre
cerca de uma semana depois que
a principal testemunha de acusação no processo, o líder servo-croata Milan Babic, foi encontrado morto na mesma prisão. Babic, que cumpria uma sentença de
13 anos de prisão, suicidou-se.
A polícia holandesa iniciou um
inquérito para investigar a morte
e determinou a realização de uma
autópsia e de um exame toxicológico. O procedimento deve ser
realizado hoje, com a presença de
um legista sérvio.
O premiê sérvio, Vojislav Kostunica, disse que exigirá um "informe detalhado" sobre as circunstâncias da morte.
Zdenko Tomanovic, advogado
do ditador, afirmou que ele temia
um envenenamento.
"Hoje entrei com um pedido
oficial ao tribunal para que a autópsia seja realizada em Moscou,
tendo em vista suas declarações
de que estivesse sendo envenenado", disse Tomanovic.
Familiares de Milosevic disseram não confiar em uma autópsia
realizada pelo tribunal, que rejeitou o pedido feito pelo advogado.
Mirjana, a viúva de Milosevic,
responsabilizou a corte pela morte. "O tribunal matou meu marido", disse à CNN.
Um porta-voz do tribunal disse
não estar autorizado a comentar
as causas da morte até que a autópsia seja completada, mas disse
não haver "nenhuma indicação
de que tenha sido um suicídio".
Cardiologistas que tratavam o
ditador em Haia haviam alertado
que ele sofria uma doença com alto risco de morte conhecida como
emergência hipertensiva, em que
aumentos repentinos na pressão
sangüínea podem causar danos
ao coração, aos rins e ao sistema
nervoso central.
No mês passado, o tribunal rejeitou um pedido de Milosevic para receber tratamento médico na
Rússia, alegando o fato de o julgamento estar em seu último estágio
-uma decisão lamentada ontem
pelo governo russo.
Reações
O anúncio da morte de Milosevic provocou diversas reações da
comunidade internacional.
"Com a morte de Milosevic, um
dos maiores atores das guerras
dos Bálcãs no fim do século 20, se
não o maior, saiu de cena", disse o
chanceler francês, Philippe Douste-Blazy.
Carla del Ponte, promotora-chefe do tribunal da ONU para a
ex-Iugoslávia, lamentou que Milosevic tenha morrido antes do
fim do julgamento -que, segundo ela, o condenaria. "É lamentável para todas as testemunhas, para todos os sobreviventes e para
todas as vítimas que esperavam
por justiça", afirmou.
"É uma pena que Milosevic não
tenha vivido até o fim do seu julgamento e recebido sua merecida
sentença", disse em nota o presidente croata, Stjepan Mesic.
Partidos nacionalistas sérvios,
por sua vez, disseram que Milosevic foi um "herói traído pelo seu
próprio povo" e que deveria ser
enterrado no cemitério dos heróis
nacionais de Belgrado.
Com agências internacionais
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