São Paulo, domingo, 12 de março de 2006

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BÁLCÃS

Ditador iugoslavo, que enfrentava julgamento por crimes de guerra e genocídio, sofria de hipertensão e problemas cardíacos

Slobodan Milosevic, 64, morre na prisão

DA REDAÇÃO

Slobodan Milosevic, o ditador sob o qual a Iugoslávia se desmantelou nos anos 1990 e que o Ocidente apelidou de "carniceiro dos Bálcãs" -mas que atraía a admiração de muitos sérvios-, foi encontrado morto ontem em sua cela na prisão da ONU, perto de Haia, na Holanda.
Milosevic, 64, aparentemente morreu de causas naturais e estava em sua cama quando foi encontrado, de acordo com o Tribunal Penal Internacional (TPI).
O ditador enfrentava julgamento desde fevereiro de 2002, por 66 acusações de crimes de guerra, crimes contra a humanidade e genocídio, cometidos na Croácia, na Bósnia e em Kosovo durante e depois da violenta desintegração da Iugoslávia nos anos 1990.
Mas o julgamento -considerado um dos principais testes judiciais desde os tribunais de Nuremberg após a Segunda Guerra Mundial -sofreu várias interrupções devido à saúde precária do ex-ditador, que sofria de hipertensão e problemas cardíacos crônicos. A expectativa era de que o processo terminasse neste ano.

Inquérito
A morte de Milosevic ocorre cerca de uma semana depois que a principal testemunha de acusação no processo, o líder servo-croata Milan Babic, foi encontrado morto na mesma prisão. Babic, que cumpria uma sentença de 13 anos de prisão, suicidou-se.
A polícia holandesa iniciou um inquérito para investigar a morte e determinou a realização de uma autópsia e de um exame toxicológico. O procedimento deve ser realizado hoje, com a presença de um legista sérvio.
O premiê sérvio, Vojislav Kostunica, disse que exigirá um "informe detalhado" sobre as circunstâncias da morte.
Zdenko Tomanovic, advogado do ditador, afirmou que ele temia um envenenamento.
"Hoje entrei com um pedido oficial ao tribunal para que a autópsia seja realizada em Moscou, tendo em vista suas declarações de que estivesse sendo envenenado", disse Tomanovic.
Familiares de Milosevic disseram não confiar em uma autópsia realizada pelo tribunal, que rejeitou o pedido feito pelo advogado.
Mirjana, a viúva de Milosevic, responsabilizou a corte pela morte. "O tribunal matou meu marido", disse à CNN.
Um porta-voz do tribunal disse não estar autorizado a comentar as causas da morte até que a autópsia seja completada, mas disse não haver "nenhuma indicação de que tenha sido um suicídio".
Cardiologistas que tratavam o ditador em Haia haviam alertado que ele sofria uma doença com alto risco de morte conhecida como emergência hipertensiva, em que aumentos repentinos na pressão sangüínea podem causar danos ao coração, aos rins e ao sistema nervoso central.
No mês passado, o tribunal rejeitou um pedido de Milosevic para receber tratamento médico na Rússia, alegando o fato de o julgamento estar em seu último estágio -uma decisão lamentada ontem pelo governo russo.

Reações
O anúncio da morte de Milosevic provocou diversas reações da comunidade internacional.
"Com a morte de Milosevic, um dos maiores atores das guerras dos Bálcãs no fim do século 20, se não o maior, saiu de cena", disse o chanceler francês, Philippe Douste-Blazy.
Carla del Ponte, promotora-chefe do tribunal da ONU para a ex-Iugoslávia, lamentou que Milosevic tenha morrido antes do fim do julgamento -que, segundo ela, o condenaria. "É lamentável para todas as testemunhas, para todos os sobreviventes e para todas as vítimas que esperavam por justiça", afirmou.
"É uma pena que Milosevic não tenha vivido até o fim do seu julgamento e recebido sua merecida sentença", disse em nota o presidente croata, Stjepan Mesic.
Partidos nacionalistas sérvios, por sua vez, disseram que Milosevic foi um "herói traído pelo seu próprio povo" e que deveria ser enterrado no cemitério dos heróis nacionais de Belgrado.


Com agências internacionais

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