|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Policial será czar antidrogas dos EUA
Gil Kerlikowske, de Seattle, coordenará esforço com México para reduzir narcotráfico; no front interno, há expectativa de nova abordagem
Especialistas dizem que Obama deve focar redução de danos ao usuário ao invés de repressão, mas mudança ainda não foi delineada
ANDREA MURTA
DE NOVA YORK
Em nota escrita na qual destaca a violência no México e a
"doença do vício" nos EUA, o
presidente Barack Obama nomeou ontem Gil Kerlikowske,
chefe de polícia de Seattle, o
czar antidrogas da Casa Branca.
Os comentários indicam a
ambiguidade quanto à abordagem do problema por Obama
-para especialistas, ele deve
focar, internamente, na políticas de redução de danos, mas,
no front externo, manter a cooperação militar e de inteligência no combate ao narcotráfico.
"Nunca foi tão importante
ter uma estratégia nacional de
controle de drogas guiada por
princípios sólidos de segurança
e saúde pública", diz o presidente na nota. "Temos de mostrar a nossos parceiros internacionais, às organizações [criminosas] que ameaçam a estabilidade (...) desses países e ao povo
americano que levamos a sério
a responsabilidade de reduzir o
consumo de drogas nos EUA."
O recado foi sobretudo orientado para o vizinho do sul, cuja
escalada de violência vazou para os Estados americanos de
fronteira e preocupa Washington. Em janeiro, o Departamento da Defesa dos EUA soltou um relatório em que dizia
que o surto alimentado pelos
cartéis de drogas poderia levar
o México a falir como Estado.
Na cerimônia de nomeação
de Kerlikowske, o vice-presidente Joe Biden afirmou que o
ex-chefe de polícia supervisionará uma estratégia para melhorar a troca de informações e
o uso de tecnologia com o vizinho. O czar ainda coordenará
esforços de intercepção do fluxo de drogas do sul para o norte
da fronteira e de armas e dinheiro do norte para o sul. Os
EUA consomem hoje 90% da
droga vinda do México.
Linha direta
A chefia do Escritório Nacional de Políticas de Controles de
Drogas perderá, entretanto,
seu status ministerial. Ainda
assim, Kerlikowske terá linha
direta com a Casa Branca.
Também no front externo, a
atenção será mantida no Afeganistão e na Colômbia. E, em
países onde a segurança não
ameaça os EUA, o governo deverá bancar a visão de que a redução dos danos aos usuários é
mais eficaz que a repressão.
Essa abordagem não é a adotada no momento. "Os EUA rejeitaram a linguagem da redução de danos na Comissão de
Narcóticos das Nações Unidas", afirmou à Folha Ethan
Nadelmann, diretor da Rede de
Alianças para Políticas de Drogas. "Mas creio que isso mudará em um ano. Já é significativo
a delegação dos EUA ter defendido pela primeira vez programas de troca de seringas."
Nadelmann disse ainda que
"teria sido melhor se Obama tivesse apontado alguém da área
de saúde pública com habilidade política". "Mas se é para termos um chefe de polícia, Kerlikowske é um dos melhores",
disse. Seattle, sua base, fica no
Estado de Washington, considerado de ponta na aplicação
de políticas de saúde pública
em vez da repressão ao usuário.
Texto Anterior: Tibete: Pequim adverte Washington sobre acusações Próximo Texto: ONU admite efeito negativo de guerra à droga Índice
|