São Paulo, sexta-feira, 12 de março de 2010

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Piñera toma posse em meio a novo tremor

Sismo de magnitude 6,9 faz cidadãos de Valparaíso, local de cerimônia, fugirem para parte mais alta da cidade com medo de tsunami

Após assumir cargo, novo presidente do Chile visita epicentro de novo abalo e cidade mais afetada por terremoto do último dia 27


Claudio Santana/France Presse
O presidente do Chile, Sebastián Piñera, e sua mulher, Cecilia, brincam com os seus netos no palácio de Viña del Mar após a posse

SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A VALPARAÍSO

A posse do novo presidente do Chile, Sebastián Piñera, ontem, foi marcada por um terremoto de magnitude 6,9 ocorrido 20 minutos antes da transmissão da faixa presidencial e a ameaça de um tsunami na cidade em que ocorria a cerimônia, o balneário de Valparaíso, onde o Congresso chileno tem sua sede. O abalo foi um dos mais fortes tremores secundários que sacodem o Chile desde o devastador terremoto de magnitude 8,8 do último dia 27, que deixou cerca de 500 mortos e causou profunda destruição.
A terra tremeu em Valparaíso enquanto chegavam ao Congresso os últimos convidados para a solenidade e a presidente Michelle Bachelet, que deixa o cargo, aproximava-se do local, desfilando em carro aberto.
A solenidade foi mantida, sob evidente clima de tensão e pressa. O terremoto do dia 27 de fevereiro causou danos ao prédio do Congresso. Enquanto Piñera, seus ministros e presidentes da região estavam no plenário, foi dado alerta oficial da probabilidade de tsunami.
Com a ordem de evacuar a população para as regiões mais altas da cidade, a polícia ajudou os idosos e enfermos com dificuldades de locomoção. Os demais correram a pé ou em carros para os morros. Houve engarrafamento, buzinaço e episódios de pânico e histeria.
Recebida a faixa presidencial, Piñera retornou ao Palácio Presidencial de Cerro Castillo, na vizinha Viña del Mar, onde abreviou o almoço que ofereceria aos chefes de Estado e anunciou a primeira medida no poder -decretou estado de "exceção constitucional por catástrofe" na região do epicentro do tremor de poucas horas antes.
"A natureza nos está machucando com muita força. Nada nos foi dado facilmente. Tudo foi conquistado com esforço. Peço aos meus compatriotas que enfrentem isso com muita força. A manutenção da ordem pública e dos serviços básicos será prioridade absoluta deste governo", disse Piñera, primeiro político de centro-direita a governar o país desde a redemocratização, em 1990.
O ministro do Interior, Rodrigo Hinzpeter, deixou ainda mais clara a intenção de marcar a diferença com a gestão de Bachelet, cujo desempenho na administração da catástrofe Piñera criticou. Hinzpeter disse que o estado de exceção era uma medida preventiva "para evitar saques e distúrbios como os ocorridos após o terremoto de 27 de fevereiro".
Piñera voou de helicóptero até a cidade de Rancagua, epicentro do novo terremoto, e de lá para Constitución (sul), onde foi registrado o maior número de mortos pelo terremoto seguido de tsunami do dia 27.
Em discurso à população de Constitución, antes de assinar projeto de lei para conceder um bônus governamental de US$ 80 a cada filho dos que tiveram perdas materiais com o terremoto, referiu-se ao almoço abreviado com os chefes de Estado visitantes. "Tive de deixá-los sentados à mesa com minha mulher, porque senti que meu dever era estar aqui."
Às 21h de uma noite que classificou de "histórica e trágica", Piñera chegou ao Palácio de La Moneda, em Santiago. Vestido com a faixa presidencial, disse que "de certa forma, todos somos sobreviventes dessa tragédia". Prometeu "reconstruir o Chile, pedra por pedra"; sublinhou que "o caráter de um povo é posto à prova em tempos de adversidade". Em seguida, propôs pacto em torno "da nobre missão de reconstruir o que foi destruído sobre a rocha, não sobre a areia" e convocou a "uma nova transição, a caminho de um Chile desenvolvido".
Pela manhã, Bachelet quebrou o protocolo das posses presidenciais, discursando das escadarias do palácio a multidão que a aplaudia entusiasticamente. "Esta Moneda nunca mais será a casa dos presidentes, mas dos presidentes e das presidentes do Chile", disse.


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