São Paulo, sábado, 12 de março de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

ANÁLISE

Iconografia recorde torna tragédias e riscos mais vívidos

HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA

O terremoto de ontem é provavelmente a catástrofe natural mais bem documentada da história. Afinal, ela ocorreu no Japão, um país virtualmente on line e pátria da Sony, Nikon, Yashica etc.
O resultado, além das incríveis fotos e vídeos postados na rede, é que vamos acrescentando imagens ao repertório coletivo das calamidades naturais, até há pouco formado só por dados abstratos, do tipo: grande terremoto de Shaanxi, China, 23/1/1556, 820 mil mortos.
Essa nova iconografia do desastre torna mais vívidas e salientes as tragédias a que estamos sujeitos, o que não é sem interesse. Se há algo para o que nossos cérebros não estão talhados, é calcular risco. Temos medo injustificado de ameaças quase inexistentes em ambientes urbanos, como cobras e tubarões, mas nos entregamos gostosamente a perigos reais, como fumar e viver em zonas propensas a tremores.
A diferença se explica. Respondemos a perigos antigos visceralmente. É o chamado modo experiencial. Moldado por vários milênios de seleção natural, é intuitivo, baseia-se em emoções e é rápido. Não pensamos antes de fugir de um leão.
Já as dificuldades modernas são abordadas pelo modo analítico, um sistema abstrato, lento e que exige reflexão e cálculos probabilísticos antes de traduzir-se em ações, quando se traduzem.
O desafio em termos de prevenção é fazer com que a cultura leve o cérebro a reagir com mais urgência a perigos abstratos. Um caminho é torná-los mais salientes, para o que a incorporação de imagens ao repertório coletivo das tragédias pode ser útil.


Texto Anterior: Tragédia piora cenário interno já complicado
Próximo Texto: Clóvis Rossi: Quando a infâmia compensa
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.