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HOLOCAUSTO
Historiador processou professora dos EUA que o acusou de distorcer fatos da Alemanha nazista
Revisionista sofre derrota em tribunal
CHRISTOPHER S. WREN
do "The New York Times"
David Irving, um historiador
britânico que minimizou a tragédia do Holocausto, "reproduziu
evidências históricas erroneamente e as manipulou", decidiu
ontem um juiz em Londres, ao
desqualificar o processo por difamação que o historiador moveu
contra uma acadêmica dos EUA
que o acusou de distorcer os fatos
ocorridos na Alemanha nazista.
Irving, 62, processou a professora de história Deborah Lipstadt,
da Universidade Emory, de
Atlanta, e a editora Penguin
Books, que publicou seu livro no
Reino Unido seis anos atrás.
No livro em questão, "Denying
the Holocaust: The Growing Assault on Truth and Memory" (Negando o Holocausto - O Crescente Ataque à Verdade e à Memória), Lipstadt descreveu Irving
como "um dos mais perigosos
porta-vozes da negação do Holocausto" e disse que ele minimiza a
responsabilidade de Adolf Hitler
no massacre de 6 milhões de judeus.
Irving não nega que judeus tenham morrido sob a guarda nazista, mas alega que foram assassinados muito menos do que o
número largamente aceito e afirma que nenhum judeu morreu
nas câmaras de gás de Auschwitz,
na Polônia ocupada pelos nazistas. Ele argumentou que o livro de
Lipstadt o prejudicou, na medida
em que lhe tornou difícil encontrar editoras dispostas a publicar
seus escritos.
Mas, depois de presidir sobre o
processo por difamação por mais
de oito semanas, o juiz Charles
Gray decidiu contra Irving, que
qualificou como "anti-semita e
racista" e "um polemista de direita e pró-nazista".
"A meu ver, é incontestável que
Irving pode ser descrito como negador do Holocausto", disse o juiz
Gray, confirmando o que os críticos do historiador vêm dizendo
há anos. "Não apenas ele nega a
existência de câmaras de gás em
Auschwitz e afirma que nenhum
judeu foi morto em câmaras de
gás no local, como já o fez em diversas ocasiões e, por vezes, em
termos altamente ofensivos."
O juiz disse ainda que Irving
convive com neofascistas e parece
compartilhar muitos de seus preconceitos racistas e anti-semitas.
"As acusações, que constatei serem em grande medida verdadeiras, incluem a de que, por razões
ideológicas próprias, Irving vem,
de maneira persistente e proposital, reproduzindo erroneamente e
manipulando evidências históricas", disse o juiz.
Irving descreveu a decisão como "perversa" e disse que vai apelar. O juiz ainda vai decidir quem
arcará com os custos do processo,
mas indicou que Irving terá de
pagar a maior parte das despesas
da equipe de defesa, que podem
chegar a mais de US$ 3 milhões.
Irving teve uma vantagem pelo
fato de mover o processo num tribunal britânico, e não nos EUA.
Pela lei de difamação britânica, o
ônus da prova recai sobre os réus,
que, neste caso, foram Lipstadt e a
Penguin Books. Nos tribunais dos
EUA, a responsabilidade recai sobre aquele que move o processo
por difamação.
As implicações do processo foram vistas como tão significativas
que o governo israelense colocou
à disposição da defesa de Lipstadt
o manuscrito das memórias inéditas de Adolf Eichmann -o oficial nazista que organizou a deportação de milhões de judeus
para campos de extermínio durante a 2ª Guerra (1939-45) e foi
capturado por agentes israelenses
na Argentina, sendo executado
por enforcamento em 1962.
O juiz Gray afirmou ontem que
Irving não conseguiu demonstrar
que o livro de Lipstadt tenha prejudicado sua reputação.
Israel e organizações judaicas
que trabalham para preservar a
memória do Holocausto expressaram satisfação com o veredicto.
"A carreira de David Irving como historiador está acabada",
disse o Centro Simon Wiesenthal,
em Los Angeles. "A decisão de
hoje situa Irving definitivamente
em seu lugar -não como historiador, mas como um dos mais
importantes apologistas daqueles
que procuram retratar como inócuo o crime mais hediondo da
história humana."
Em Londres, o presidente do
Conselho de Representantes dos
Judeus Britânicos, Eldred Tabachnik, teria afirmado que "a
decisão mostra que David Irving é
um falsificador da história e simpatizante nazista cuja meta vem
sendo a de minimizar a gravidade
do nazismo e absolver Hitler da
culpa pelo Holocausto."
Tradução de Clara Allain
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