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São Paulo, segunda-feira, 12 de maio de 2003

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PÁTRIA OU MORTE

Ditador afirma ao diário argentino "Página 12" que EUA poderiam atacar o país se dissidentes não fossem mortos

Fuzilamentos impediram guerra, diz Fidel

DA REDAÇÃO

Os recentes fuzilamentos de três dissidentes cubanos foram a resposta a uma "questão de vida ou morte", necessária para frear um confronto armado com os Estados Unidos, afirmou o ditador cubano Fidel Castro numa entrevista publicada ontem pelo jornal argentino "Página 12".
"Posso resumir a questão em três palavras: questão de vida ou morte", declarou Fidel. "A máfia terrorista de Miami, aliada à extrema direita norte-americana, tinha a intenção -e ainda tem- de criar uma grave crise que poderia levar a um confronto armado entre os EUA e Cuba."
Ao longo da entrevista, que durou dez horas, Fidel Castro admitiu que havia levado em conta a ampla reação negativa que uma medida como essa poderia ter, inclusive entre antigos defensores da Revolução Cubana.
"Conhecíamos o custo da medida, já que hoje em dia -e não tiro a razão dos que se opõem a ela [à pena de morte"- o número dos que pensam dessa forma cresce cada vez mais, o que muito me alegra, já que compartilhamos o repúdio pela pena de morte", assegurou Castro.
Segundo o ditador cubano, "o plano concebido de antemão [pelos dissidentes" consistia em provocar uma crise migratória que seria utilizada como pretexto para um bloqueio naval, o que inevitavelmente levaria à guerra".
Depois de recordar o desembarque contra-revolucionário em Playa Girón, em 1961, Castro, vestido com o seu tradicional uniforme verde-oliva, afirmou que os EUA "declararam a doutrina hitleriana do ataque preventivo contra 60 países ou mais, sem que ninguém saiba o que significa a expressão "ou mais", uma incógnita que pode incluir até países da própria Europa".
Lembrou ainda as palavras recentes do presidente George W. Bush diante de mais de 850 oficiais, que foram instados a "estar preparados para atacar imediatamente qualquer recanto obscuro do planeta".
"É de esperar que ninguém subestime os perigos que um país como Cuba enfrenta", concluiu Fidel, argumentando que os cubanos vêm lutando há 44 anos "sem ceder um milímetro ao império".
Sobre a questão específica dos fuzilamentos, o ditador cubano comentou em particular a crítica do escritor português José Saramago, que se disse "profundamente desiludido" com os acontecimentos em Cuba.
"Saramago é um bom escritor. Realmente lamentamos que ele não tenha entendido uma só palavra sobre as realidades em que vivem Cuba e o mundo. Ele não é o único que se opõe à pena capital; milhões de compatriotas nossos também não estão de acordo com ela, mas nenhum vacilou diante da alternativa que conhecem muito bem."
Para Fidel, os que se manifestaram contra as recentes medidas de seu governo não estão percebendo o perigo mundial representado pelos EUA: "Saramago e outros que agiram de boa fé parecem ignorar que o planeta marcha aceleradamente para uma tirania nazi-fascista."
Como contraposição, ele mencionou que "Rigoberta Menchú [Prêmio Nobel da Paz de 1992], uma nobre e modesta índia guatemalteca que conhece Cuba e sua inalterável lealdade à causa nobre dos povos explorados deste mundo, não reagiu do mesmo modo", aludindo à lista de apoio a Cuba assinada por Menchú.


Com agências internacionais

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