São Paulo, quinta-feira, 12 de maio de 2011

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ANÁLISE

O que será do tratado que é o grande orgulho europeu?

SIMON TISDALL
DO "GUARDIAN"

Dada a pressa com que a decisão de ir à guerra na Líbia foi tomada, pouco surpreende que ninguém tenha refletido muito quanto à questão da imigração à União Europeia. Aparentemente, ninguém previu o que estava por vir.
As pessoas que estão morrendo na guerra da Líbia não são líbias, nem do lado de Gaddafi e nem entre os rebeldes. E tampouco os sempre indignados moradores de Lampedusa ou outras das ilhas italianas e maltesas.
Quem está morrendo são as pessoas que sempre morrem primeiro nesse tipo de situação: os pobres, os precariamente educados, os de pele escura. Trata-se de pessoas da Eritreia, Somália e de outras nações derrotadas ao sul do Saara.
Pode ser que o Estado líbio tenha perdido a capacidade de policiar suas fronteiras e portos.
Mas essa interpretação é contradita pelos sobreviventes, que afirmam que as forças armadas líbias estão fiscalizando as flotilhas que transportam os imigrantes e que roubam os passageiros de seus bens e pertences, permitindo que saiam ao mar em embarcações incapazes de navegar e desprovidas de tripulantes treinados.
O tratado de Schengen, que prevê fronteiras abertas entre os países membros da União Europeia, é um dos maiores motivos de orgulho para a organização. Mas o que será dele?
Caso a França e outros países consigam o que querem, terminará suspenso por prazo indefinido.
Enquanto isso, no Reino Unido, a secretária do Interior, Theresa May, e o vice-primeiro-ministro, Nick Clegg, afirmam que o país não aceitará refugiados da Líbia.
Os imigrantes não são o problema. São vítimas da situação.
Como disse Antonio Guterres, do Alto Comissariado da ONU sobre Refugiados, a Europa tem tanto o dever quanto interesse em fazer mais por ajudar os refugiados.
Os países da União Europeia deveriam ir além de suas obrigações legais e "garantir que as pessoas em busca de refúgio sejam recebidas com dignidade e humanidade, e com pleno respeito aos seus direitos", disse.
Em outras palavras, é preciso fazer o que é decente e democrático. Essa é a melhor maneira de derrotar Gaddafi, e é em torno disso que gira a Primavera Árabe.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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