São Paulo, terça-feira, 12 de junho de 2001

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EUA

Responsável pela morte de 168 pessoas na explosão de um caminhão-bomba, ex-soldado não falou nada antes da execução

McVeigh olha testemunhas antes de morrer

Associated Press
O terrorista Timothy McVeigh


SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

De olhos abertos e boca fechada. Assim morreu ontem, às 8h14 (9h14 de Brasília), por injeção letal, o ex-soldado Timothy McVeigh, culpado pelo atentado a bomba que matou 168 pessoas, entre elas 19 crianças, e deixou feridas outras 700 em Oklahoma, nos Estados Unidos, em 1995.
Ao contrário do que se esperava, o terrorista ficou mudo quando o diretor da Penitenciária Federal de Terre Haute, no Estado de Indiana, perguntou suas últimas palavras. Entregou um papel em que escreveu a mão o poema "Invictus", de William Ernest Henley, que termina com: "Eu sou o dono de meu destino/Eu sou o capitão de minha alma".
Em vez de falar, já amarrado na maca da câmara de execução, McVeigh optou por olhar testemunhas de sua morte, a primeira ordenada pelo governo federal norte-americano desde 1963.
Estavam lá 32 pessoas: dez parentes das vítimas, dez jornalistas, oito representantes do governo e quatro convidados seus, todos advogados. McVeigh chegou a chamar Gore Vidal, com quem se correspondeu na prisão e que definiu o terrorista como "alguém com senso de Justiça", mas o escritor recusou.
Uma câmara de circuito interno de TV transmitia tudo para 232 parentes das vítimas, que se reuniram no aeroporto de Oklahoma, a 1.000 km dali. Foi para onde McVeigh passou a olhar fixamente até respirar pela última vez.
"As vítimas do atentado não tiveram vingança, mas justiça", disse o presidente George W. Bush antes de viajar à Europa, onde enfrentará protestos contra a pena de morte. "Sob as leis de nosso país, o problema foi resolvido."
"Acho que vi a face do mal hoje", disse no aeroporto de Oklahoma Kathy Wilburn, cujos netos Chase Smith, 3, e Colton, 2, morreram no atentado. Para Larry Wilcher, cujo irmão desapareceu na explosão, "McVeigh tinha um olhar de desafio, como a dizer que faria tudo de novo, se tivesse chance".
Timothy McVeigh foi condenado à morte no dia 13 de junho de 1997, por detonar o caminhão-bomba que destruiu o prédio federal de Oklahoma City em 19 abril de 1995, no Estado americano de mesmo nome.
Ex-sargento condecorado com medalha de bronze na Guerra do Golfo, terceiro filho de uma família de classe média, solteiro e sem muitos amigos, McVeigh vivia da venda de bolsas de campanha e outros apetrechos paramilitares em exposições de armas.
Seu ato, afirmou depois, foi uma resposta ao desastrado ataque do FBI, a polícia federal americana, aos membros do Ramo Davidiano perto de Waco, no Texas, em 1993, que resultou em dezenas de mortos, e um protesto contra lei então recém-aprovada pelo Congresso que restringia a compra de algumas armas.
Às 8h, após ler a acusação (uso de arma de destruição em massa, conspiração, oito tipos de assassinato), o diretor do Presídio de Terre Haute mandou que o primeiro líquido fosse injetado.
McVeigh engoliu fundo. Seus olhos moveram-se lentamente de um lado para outro. Respirou profundamente e por duas vezes encheu as bochechas e expirou, tentando manter a consciência.
Às 8h10, seus olhos começaram a ficar mais translúcidos, a mexer lentamente. Sua pele ganhou um tom amarelado e seus lábios, uma tonalidade azul. Às 8h11, um dos executores disse que a segunda droga havia sido injetada. McVeigh permanecia imóvel, de olhos abertos, sem som.
Às 8h14, o eletrocardiógrafo mostrou que seu coração havia parado de bater. Susan Carlson, uma das jornalistas presentes, lembra que nada parecia mostrar que ele havia realmente morrido, a não ser na hora em que o diretor fez o anúncio oficial. "Foi tudo muito anti-séptico", disse.
Timothy McVeigh teve como última refeição duas taças de sorvete de menta com pedaços de chocolate. Pediu para ser cremado sem autópsia, um direito que a lei lhe dá. Segundo um amigo, ele temia que pedaços de seu corpo fossem vendidos como troféu.
O local de depósito de suas cinzas permanece em segredo. "Nem eu sei onde serão espalhadas", disse seu advogado, Christopher Tritico.
A família quer evitar romaria de simpatizantes do movimento paramilitar americano.


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