São Paulo, terça-feira, 12 de junho de 2001

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EM ALTO-MAR

Fundadora da Women on Waves diz que projeto será mundial; 20 milhões de cirurgias ilegais ocorrem todos os anos

ONG fará aborto em águas internacionais

DA REDAÇÃO

Ativistas pró-aborto deixaram a Holanda ontem em um barco adaptado com uma clínica ginecológica para oferecer aborto às mulheres na Irlanda, onde a prática é ilegal. A embarcação holandesa, de 130 pés (40 m), foi patrocinada pela Women on Waves (Mulheres nas Ondas), uma organização não-governamental em defesa dos direitos de reprodução da mulher.
Na primeira viagem do gênero, parte de um projeto-piloto que pode se estender a outros países, incluindo o Brasil, o grupo está preparado e equipado para realizar abortos em águas internacionais nos países onde o ato é considerado ilegal (leia ao lado).
Com dez tripulantes a bordo, dentre eles duas médicas e uma enfermeira, o barco deve chegar a Dublin na quinta-feira já enfrentando as críticas de grupos irlandeses em defesa da vida, que classificaram a idéia como uma "gigantesca façanha publicitária".
Joke van Kampen, porta-voz da Women on Waves, disse que a tripulação não espera nenhum tipo de violência. O barco "tem boa segurança", com alarmes e câmeras.
Na Irlanda, país de forte tradição católica, as vítimas de estupro e de incesto precisam sair do país para abortar. Desde 1992, uma lei aprovou que as mulheres deixassem o país para fazer a cirurgia. No ano passado, mais de 6.000 mulheres viajaram para o Reino Unido para fazê-lo.
Rebecca Gomperts, ginecologista e fundadora da Women on Waves, disse que, nessa primeira viagem, não serão feitos abortos, embora a equipe possa fazer até 20. Desta vez, o grupo irá oferecer pílulas anticoncepcionais e aconselhamento. "Mas, se nos pedirem, podemos navegar e dar às mulheres uma pílula abortiva em águas internacionais."
Segundo as leis internacionais, se o barco de bandeira holandesa estiver navegando em águas territoriais internacionais -pouco mais de 22 km da costa de qualquer país- e realizar um aborto, prevalecem as leis da Holanda, onde o aborto é legal. O grupo, então, não poderia ser acusado e processado ao retornar ao porto.
A ONG poderá levar mulheres a bordo, fazer o aborto em águas internacionais e devolvê-las ao porto no mesmo dia. "Será um projeto mundial", disse Gomperts.
Segundo a Women on Waves, cerca de 20 milhões de abortos ilegais e sem segurança são praticados anualmente, causando a morte de 80 mil mulheres.


Com agências internacionais


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